O sucesso do hip hop francês

Qual a sua ideia sobre música francesa? E, se eu disser que o hip hop francês é o que toca no topo das paradas na França? Chega mais, e aperta o play.
hip hop frances paris

Acordeões e Édith Piaf — é isso que domina o inconsciente coletivo sobre música francesa fora da França. Um ultraromantismo lírico digno de… bom, um filme francês!

Mas, ouvindo diversas rádios e na busca pelas listas de músicas mais escutadas, vemos um outro panorama: rap & hip hop. Nas últimas três décadas, o rap francês explodiu em popularidade, hoje reinando soberano perante a todos os outros gêneros no país. Mais ainda: a França é o segundo maior mercado de discos de hip hop do mundo.

Como um estilo musical vindo direto dos Estados Unidos se acomodou tão bem numa cultura de outro continente?

Pequeno dicionário de apoio:

Tonne:  tonelada

Balles: balas (contexto: armas)

Propre: arrumado, chique, limpo

Être craint (craigne): temer, sentir medo

O começo do hip hop francês: Os anos 80

O rap chegou na França da mesma forma que chegou em todos os outros cantos do mundo: carregado em fitas cassete trazidas diretamente do Brooklyn, em Nova Iorque.

Hoje já é difícil de lembrar (ou imaginar, dependendo da sua idade) como a disponibilidade da música na época era limitada. Um estilo emergente do outro lado do oceano era uma extrema raridade. Ao mesmo tempo, a tecnologia das fitas permitia que uma unidade fosse copiada ad infinitum noite e dia.

De mão em mão, uma pequena cena local foi criada. Em meados de 1982, em Trocadero (local turístico famoso, bem em frente à Torre Eiffel), vemos os primeiros artistas de rua escolhendo os ritmos e movimentos do hip hop francês para impressionar os visitantes.

O crescimento dessa cena começou a chamar a atenção da grande mídia, e em 1984 tudo mudou: uma das maiores emissoras de televisão francesa, a TF1, lançou um lendário programa de auditório chamado H.I.P.H.O.P.

É difícil medir o impacto que essa émission (programa) teve, com seus cenário cheios de tinta spray e suas competições de improvisação. O símbolo de uma mudança de paradigma. Pela primeira vez na história a televisão francófona estrelava um animateur (apresentador) negro.

Pequeno dicionário de apoio:

Défi: desafio

Ascenseur: elevador

Bonheur: felicidade

Malheureusement: infelizmente

Evolução: anos 90 e 2000

A geração que assistiu H.I.P.H.O.P. na infância eventualmente cresceu, adicionando seu poder de compra e sua fome por rap ao mercado. Ainda muito inspirados pelos Estados Unidos (incluindo as evoluções e mudanças nos ritmos de lá), os artistas franceses cantavam sobre suas vidas, sobre o dia a dia e a violência do banlieue (subúrbio).

Antes da explosão do rap, a música pop dominante na França era o rock — mas a figura era bem diferente. O rock era dominado pela aristocracia e majoritariamente branco.

Pela primeira vez uma geração ouvia sobre suas próprias vidas. Sobre complexos habitacionais e uma sociedade racista.

Esse foi o primeiro momento em que a França teve seus grandes astros e grupos. Esbanjando um sonho e uma postura tirada diretamente do emergente gangsta rap americano, nomes como Booba, MC Solaar e IAM cresciam cada vez mais, ameaçando tomar o primeiro lugar da música pop.

O melhor, claro, ainda estava por vir.

Pequeno dicionário de apoio:

Claquer du biff: pagar a conta (expressão)

Pousser: empurrar, esbarrar, retirar

Pige: trabalho temporário

Cervelle: miolos (cérebro)

Última década

A cultura francesa, de modo geral, é bem politizada. Em algum nível, o espírito daquela revolução lá atrás sobreviveu até os dias de hoje.

Só a título de comparação, nessa última década o Brasil vem vivendo uma onda de politização e os assuntos tendem mais frequentemente para esse tipo de tópico. Na França esse processo é tão onipresente e tão frequente que eles se impressionariam com o quão pouco nós discutimos política nas mesas de bar e de jantar mesmo nessas semanas pré-eleição.

Não é de se admirar que esse aspecto da cultura tenha se misturado com a arte do hip hop francês. A década de 2010 foi um momento de intensa rejeição por parte dos franceses — em especial do banlieue — à política externa do Presidente George W. Bush.

Com essa rejeição, veio também uma vontade de buscar outras fontes. Por mais que o Brooklyn tenha sido a primeira fagulha na lenha, o rap francófono estava pronto para deixar o sonho americano de lado e procurar um caminho só seu.

Esse é um processo em movimento e com muitas vertentes. Alguns artistas intensificaram sua crítica social, outros procuraram uma mistura com gêneros musicais diversos e até mesmo com ritmos de outras partes do mundo como Oriente Médio e até mesmo América Latina:

Pequeno dicionário de apoio

Hublot — pequena janela (contexto: aviões)

Coupe du Monde — Copa do Mundo (contexto: futebol)

Lucarne — clarabóia

Pompiers — bombeiros

Ritmos universais

Interessou? Agradou?

Para qual cenário musical aponta a sua curiosidade? Noruega? Argentina? Itália?

Conta para a gente que tentamos achar as informações! Também, claro, ajudamos a entender as letras, e por enquanto aqui vai nossa playlist no Spotify!

Foto de Robert V. Ruggiero, Unsplash

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