Viver junto na Suécia: *sambo*

O idioma influencia em como nos relacionamos? Ou melhor, ter certas palavras na língua pode fazer com que certos tipos de relações sejam criadas? O que vem primeiro, a palavra ou a relação?

Ilustração por Sheree Domingo

Aprender idiomas não é só decorar gramática. Ganhar fluência em um idioma a ponto de conseguir estabelecer relações com demais falantes talvez seja a maior prova que você terá pela frente.

Temos textos aqui na revista falando da experiência de perder um pouco a identidade, ou até mesmo adquirir outra quando se fala um novo idioma. E, claro, as relações não poderiam se manter as mesmas quando você não é mais a mesma pessoa.

Sua conexão emocional com as palavras passa a ser outra, tanto que muitas vezes um “eu te amo” falado em outro idioma parece não ter a mesma força que no nosso próprio. A definição do tipo de relação que você vivencia pode mudar também de acordo com a língua. Um “rolo” no Brasil pode não ser exatamente um “rolo” na Alemanha.

E, falando exatamente desses parâmetros, achei interessante a palavra sambo, em sueco. Um tempo atrás li um texto sobre como a língua inglesa poderia utilizar a terminologia sueca para denominar duas pessoas que moram juntas mas não são casadas no papel.

Sambo é a forma abreviada de sammanboende, em que samman significa junto, e boende, acomodação.

Esse termo em sueco indica algo semelhante à nossa união estável. Assim como no Brasil, por lá existe uma lei que delimita os direitos e deveres desse tipo de união, assim como no Brasil. Deixando um pouco de lado as burocracias, ter um sambo na Suécia é tão válido quanto ter um cônjuge de papel passado.

Não sei se a palavra foi criada antes da lei, ou se a lei garantiu a criação da palavra, mas uma coisa é certa: o idioma sempre revela a mentalidade de um povo. A Suécia é famosa por seu secularismo, o que faz do casamento religioso uma carta quase fora do baralho naquele país. Outra hipótese para justificar o surgimento desse tipo de relação (e, consequentemente, dessa palavra) seria a falta de opções de moradia, pois, de acordo com um colega sueco aqui da Babbel, as repúblicas não são muito populares por lá. Portanto, já que as pessoas decidem morar sozinhas ou com seus companheiros/as, por que não fazer desse processo algo o mais simples possível?

Seja qual for o motivo para a palavra sambo existir, com certeza ela garante muito mais liberdade na hora de se relacionar, já que é um status de relacionamento aceito socialmente sem a necessidade de certificados e afins. Para quem está curioso, além de sambo, o sueco também tem uma palavra para o parceiro ou parceira que você não mora junto mas já morou, o särbo. Na verdade, o sueco tem vários termos interessantes para nomear tipos diferentes de relação. Kombo, por exemplo, seria um amigo (ou uma amiga) com quem você divide o apartamento. Porém, se esse amigo ou essa amiga for seu pai ou sua mãe, a palavra usada seria mambo. Outro nome bem interessante é kulbo, que serve para indicar alguém com quem você está junto e se divertindo (kul = divertido). Essa expressão foi criada por ninguém menos que o ex-primeiro-ministro sueco Håkan Juholt.

Em português, não consegui encontrar um termo equivalente a sambo. O mais próximo seria, talvez, o nosso “namorido/a”. Não sei, mas tenho a impressão de que ainda temos um pouco de dificuldade na hora de apresentar um/a parceiro/a com quem moramos e ainda sermos levados à sério, especialmente nas uniões entre pessoas do mesmo sexo. Seria incrível se pudéssemos adotar o conceito de sambo, você não acha?

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