Uma bebida, ou eu mato o cachorro! Expressões francesas com animais

“Entediar-se como um rato morto” – uma seleção de expressões francesas bizarras e brilhantes com animais.

Eu ainda consigo me lembrar claramente como eu ouvi pela primeira vez a minha expressão francesa favorita. Eu estava sentado no jardim da casa de uma amiga no sudoeste da França, apreciando o finzinho do verão e ela estava me contando como os políticos queriam aumentar os impostos novamente.“C’est donner de la confiture aux cochons“, ela suspirou desconsolada e serviu-se de mais um pouco de Ricard.

É dar geleia aos porcos.

Expressões francesas com animais estão incorporadas em nossa língua, e porcos, em particular, parecem não ser poupados. Os franceses não gostam de dar sua confiture caseira aos porcos, mas também se sentem incomodados quando veem alguém “comer como um porco” (manger comme un cochon). E quando um cômodo parece um chiqueiro, eles dizem que “um porco não encontraria seus filhotes” (un cochon n’y retrouverait pas ses petits). Pura calúnia suína.

Uma menção honrosa para os porcos alemães, que fizeram grandes progressos em dissipar o estereótipo: Schwein haben, (“ter porco”) significa ter sorte. E quando querem expressar indignação, não vão além de Ich glaube, mein Schwein pfeift! (“Eu acho que meu porco está assobiando!”).

A língua francesa mostra uma predileção por gatos. Enquanto em português se diz “Não acorde o cão que dorme”, os franceses preferem deixar o gato dormir: ne réveillez pas le chat qui dort. Quando ficam roucos, eles dizem que têm un chat dans la gorge (“um gato na garganta”). E eles não “dão nome aos bois”, mas sim aos gatos: appeler un chat un chat. Sabemos que “quando o gato sai, os ratos fazem a festa”, e na França, a festa tem dança: Quand le chat est parti, les souris dansent (“Quando o gato não está, os ratos dançam”). E quando alguém desiste de alguma coisa e “joga a toalha”, ele está “dando sua língua ao gato”: donner sa langue au chat.

Na França, não se “dorme como uma pedra”, mas como uma marmota (dormir comme une marmotte). Eles não esperam pelo “dia de São Nunca”, mas pelo dia em que “as galinhas tenham dentes” – quand les poules auront des dents. Se um francês lhe disser que você “está como uma galinha que achou uma faca”, t’es comme une poule qui a trouvé un couteau, ele quer dizer que você está muito confuso. E provavelmente, ele tem razão. E não se preocupe em “contar com o ovo antes de ser colocado pela galinha”. Mas, procure “não vender a pele do urso antes de ele ser abatido” (vendre la peau de l’ours avant de l’avoir tué).

Por falar em urso, uma pessoa antissocial ou grosseira é un ours mal léché, “um urso mal lambido”. Não hesite em usar essa expressão se alguém envergonhar você em um restaurante francês.

Dada a influência da cultura e da língua francesas sobre outras línguas – inclusive sobre o português – não é de se admirar que se encontrem expressões idênticas. Prendre le taureau par les cornes significa “pegar o touro pelos chifres”; rusé comme un renard significa “esperto como uma raposa” e êtu comme une mule significa, exatamente, “teimoso como uma mula”.

Algumas expressões, entretanto, requerem esclarecimento. Eu me lembro como uma vez me perguntava a razão de um amigo “receber um coelho” e o que ele pretendia com isso. “Receber um coelho”, em francês se faire poser un lapin, significa “levar um bolo” de alguém. Avoir le cafard ou “ter a barata” significa estar para baixo, “no fundo do poço”. Noyer le poisson, “afogar o peixe” significa enganar alguém. E a versão francesa de “ter um parafuso solto”? “Ter uma aranha no teto”: avoir une araignée au plafond.

Ah, e como é a história do pobre cãozinho que seria assassinado? A boire, ou j’tue le chien ! é uma expressão que você talvez irá ouvir de alguém que está morrendo de sede. Eu ouvi dizer que esta expressão vem da Idade Média quando cachorros montavam guarda em frente aos estoques de vinho das tabernas. Se é verdade? Não faço ideia, eu estou como “uma galinha que achou uma faca”.

Algumas expressões francesas com animais

À bon chat, bon rat – “a bom gato, bom rato” – vento que venta lá, venta cá

Faire un froid de canard – ”fazer um frio de pato” – frio demais

Être franc comme un âne qui recule – “ser sincero como um burro que retrocede” – mentir, ser hipócrita”

Passer du coq à l’âne – “passar de galo para o burro“ – pular de um assunto para outro

Brider l’âne par la queue – “frear o burro pelo rabo” – fazer algo sem sentido

S’ennuyer comme un rat mort – “entediar-se como um rato morto” – entendiar-se demais

Laisser pisser le mérinos – “deixar os merinos mijarem” – não se deixar provocar

La vache ! – “A vaca!” – Meu Deus!

Quand on parle du loup (on en voit la queue) – “falando no lobo (e você vê sua cauda)” – “falando no diabo (aparece o rabo)”

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James Lane

James Lane nasceu e cresceu em Sydney, na Austrália, e trabalhou como produtor de teatro independente, cineasta e professor em Hanói e Berlim. Além disso, escreveu sobre temas como linguagem e cultura para algumas publicações, entre as quais NPR Berlin, The Newer York Press, ExBerliner e, agora, para a Babbel. Atualmente, vive em Delhi, na Índia, onde trabalha com crianças carentes, usando filmes, rádio e narração de histórias para abordar a temática do meio ambiente.

James Lane nasceu e cresceu em Sydney, na Austrália, e trabalhou como produtor de teatro independente, cineasta e professor em Hanói e Berlim. Além disso, escreveu sobre temas como linguagem e cultura para algumas publicações, entre as quais NPR Berlin, The Newer York Press, ExBerliner e, agora, para a Babbel. Atualmente, vive em Delhi, na Índia, onde trabalha com crianças carentes, usando filmes, rádio e narração de histórias para abordar a temática do meio ambiente.