Duvido que você já tenha parado para pensar na posição da sua língua ou em como você posiciona seus lábios quando está falando na sua língua materna. Para o idioma que aprendemos desde crianças, esses movimentos acontecem naturalmente, sem muita análise – e são eles que nos permitem pronunciar de maneira precisa os sons para construir as palavras e as entonações. Mas, como aprender a falar bem em outro idioma sem ser o nosso materno?
Mudanças sutis nesses movimentos produzem sons diferentes, e é muito mais fácil observar isso quando estamos aprendendo e praticando outro idioma. Combinados, os sons de um idioma acabam impactando em um aspecto maior da nossa comunicação: o tom da nossa voz.
Quando você aprende a falar um novo idioma, não está só assimilando palavras e estruturas gramaticais novas: você também está aprendendo maneiras novas de movimentar e integrar boca, maxilar, língua, cordas vocais e palato para produzir novos sons, alguns completamente inexistentes no seu idioma nativo. E quanto mais a sua pronúncia no novo idioma melhora, mais perto os sons que você produz chegam da frequência padrão dos sons desse idioma. O resultado é que sua voz muda para se comunicar naquela nova língua. E cada idioma tem características bem específicas de tom e frequência.
Se você já percebeu que sua voz muda dependendo do idioma que está falando, aí está a explicação. Falar outro idioma permite alcançar, por meio de novas articulações no seu corpo, diferentes frequências – e isso pode tornar sua voz mais grave ou mais aguda. É quase mágico!
O engenheiro Erik Bernardsson produziu, em seu site pessoal, uma análise gráfica do espectro de frequência de som para uma longa lista de idiomas, tanto para homens (os pontos azuis, com tom mais grave) quanto para mulheres (pontos vermelhos, com tons mais agudos). Para entender o gráfico, saiba que frequências maiores significam tons mais agudos, e frequências menores equivalem a vozes mais graves:
Em termos de números, as diferenças parecem sutis. No entanto, já bastam para que seja possível identificar claramente que há uma diferença no tom da voz de indivíduos de uma língua para a outra. O tom de voz de um finlandês, por exemplo, é bem mais agudo do que o de um húngaro.
Ah: as mudanças de tom também são bastante significativas até mesmo quando estamos falando de um mesmo idioma, mas com sotaques diferentes. Veja este gráfico que compara diferentes variantes do espanhol:
O espanhol falado por mulheres argentinas, por exemplo, ganha um timbre muito mais grave do que aquele falado por mulheres peruanas.
A hipótese de Bernardsson para que a maioria dos falantes de determinadas línguas estejam situados em uma faixa bastante próxima de frequência (ou seja, o tom da voz de mulheres que falam português do Brasil varia pouco) é que cada idioma deve ter um tom “natural” que é otimizado para pronunciar a maior parte das palavras daquele idioma com um esforço mínimo.
Mas não se desespere (“Ah, não! Mais uma coisa para aprender???”)! Nunca é demais repetir: essa mudança de tom acontece naturalmente à medida que você vai aperfeiçoando a sua pronúncia. E não tenha medo ou vergonha das mudanças na sua voz quando você falar outro idioma: na verdade, se sua voz estiver mudando, isso provavelmente significa que você está muito confortável pronunciando os sons do seu novo idioma. 😉