Precisa falar italiano para reconhecer a cidadania na Itália?

O que é preciso para conseguir a cidadania italiana? Falar italiano? Mudar para Itália? Essas são algumas perguntas que Giovana tenta responder neste artigo, contando sua experiência de viver na Itália para conseguir a sonhada cidadania.
cidadania italiana

Toda vez que falo para alguém no Brasil que estou na Itália para o reconhecimento da cidadania, ou seja, tirar o meu passaporte italiano, recebo de volta a mesma pergunta, de duas maneiras diferentes: “você fala italiano?”, se a pessoa não pretende fazer o processo; se ela pretende, a pergunta muda para “precisa saber falar italiano?”

As respostas, atualmente, são “mais ou menos” e “sim”, sendo que a primeira é consequência da segunda. Não é obrigatório falar italiano fluentemente, mas, claro, é importante saber pelo menos o básico para viver por cerca de três ou quatro meses no país até o fim do processo.

Falando com os oficiais para obter o passaporte italiano

Não importa quantos idiomas você domine, sejam eles latinos ou os mais falados do mundo: na hora de se comunicar com os oficiais para o processo de cidadania, é necessário falar italiano. Não precisa ser fluente, mas, ao menos conseguir se expressar e, principalmente, entender o que eles falarem para você.

Há inúmeros sites e documentos que falam sobre o passo a passo do reconhecimento da cidadania e obtenção do passaporte italiano, mas, uma vez na Itália, você perceberá que cada comune (equivalente italiano ao nosso município, é o responsável pelo reconhecimento da cidadania para estrangeiros e “sede” da cidade) trabalha de acordo com seus próprios processos. Por isso, há algumas diferenças entre eles, apesar de a lei ser a mesma para todos.

No comune onde estou fazendo o meu reconhecimento, por exemplo, é necessário agendar os procedimentos, e a comunicação é bastante eficiente por e-mail. Então, eu precisei saber bem os dias da semana e horários em italiano para fazer o agendamento do meu pedido de residência. Depois, entender as regras gramaticais para escrever e-mails direitinho para eles. E, por fim, compreender também o que eles me respondiam por escrito.

Além disso, há a confirmação de residência, conhecida popularmente como a visita do vigile. É um policial que passa na sua casa para garantir que você mora nesse endereço e que a casa tem condições de abrigar todo mundo que declara morar ali. Por isso, ele pode fazer algumas perguntas, como qual a sua profissão, quantas pessoas moram na casa e há quanto tempo está na Itália, além de pedir para visitar os cômodos e até dar uma olhada no guarda-roupa!

Isso acontece porque, como a residência na Itália é obrigatória para dar início ao processo de reconhecimento de cidadania, muita gente tenta driblar o comune, dizendo que mora num lugar onde está apenas passando férias. Para não levantar suspeitas junto ao oficial, é necessário falar o básico de italiano para entender suas perguntas e saber respondê-las direitinho.  

O dia a dia

A Itália é um país bastante turístico. Então, nas cidades grandes, como Roma ou Milão, é fácil de se virar com outras línguas além do italiano. Mas, para fazer o reconhecimento da cidadania, você provavelmente viverá numa cidade pequena, com menos de 10 mil habitantes, que falam, normalmente, dois “idiomas”: italiano e o dialeto da região. E este, garanto, é mais difícil ainda de entender!

Ao menos, é fácil de identificar o dialeto: soa como italiano, mas você provavelmente não entenderá nenhuma palavra. Normalmente, as pessoas identificam minha cara de perdida e rapidamente mudam para o italiano. Se isso não ocorre, eu mesma peço, educadamente, para falarem italiano e explico que estou aprendendo o idioma.

De modo geral, percebo que as pessoas mais jovens até falam um outro idioma – arranham um pouco de espanhol, se aventuram no inglês, e até gostam de praticá-los com quem também fala essas línguas. Eu mesma tenho amigos aqui com os quais falo principalmente inglês, ou misturamos: eles inglês e eu italiano, para que possamos praticar os dois idiomas ao mesmo tempo.

Mas, para o dia a dia, é melhor não contar com essa sorte. As pessoas com as quais você falará em supermercados, restaurantes, estações de trem e bares dificilmente saberão se comunicar em outro idioma que não seja o italiano.

Parla inglese?

Apesar disso, todo mundo é muito solícito quando percebe que estou me esforçando para aprender a língua. Falam mais devagar, perguntam se eu entendi, querem saber de onde sou e há quanto tempo estou na Itália… Eu nunca cheguei a perguntar se a pessoa parla inglese (fala inglês), mas já li diversos relatos de quem tenha tentado falar inglês com um italiano e recebido uma resposta bastante grosseira em retorno.

Fazer um esforço no italiano é importante principalmente com os oficiais do comune e com o vigile que confirma sua residência. A lei não diz nada em relação ao domínio do idioma para ter sua cidadania jures-sanguinis (ou seja, a que é passada a descendentes) reconhecida. Mas lembre-se que, quando sua cidadania ser reconhecida por esse país, você terá os mesmos direitos e deveres de todo mundo que nasce aqui. Portanto, aprender a língua oficial do país é muito importante.

A questão da cidadania e do passaporte italiano

Eu concordo com esse ponto. Para mim, ser cidadã italiana e não conseguir me comunicar em italiano são duas coisas totalmente incoerentes. Vejo um pouco como uma obrigação para com a nova pátria: se a língua oficial é o italiano, como posso falar com meus compatriotas se não o souber?

Então, tive como prioridade aproveitar os meses na Itália para aprender e aperfeiçoar meu conhecimento do idioma. Cheguei lendo e escutando bem, mas sem conseguir falar tanto; eu não tinha praticado isso no Brasil. E faz muita falta falar com alguém no idioma que se está aprendendo!

Essa fluência é questão de prática. Em menos de dois meses no país, já consigo me virar muito bem sozinha, a ponto de escrever e-mails para o comune para perguntar do meu processo ou escrever legendas no Instagram sem consultar o Google Tradutor e bater papo com outras pessoas sem que elas sequer perguntem de que país eu sou; a maioria das vezes, só percebem que não sou daqui quando pergunto coisas bobas como “como se chama aquela coisa que corta papel?” enquanto faço o gesto de tesoura (essa conversa é real e a resposta é forbice).

Palavras-chave

Para tirar o seu passaporte italiano na Itália, é bom ter algumas expressões na ponta da língua:

  • Usar lei em vez de tu: é um jeito formal de se referir à pessoa com a qual você está falando, equivalente a senhor ou senhora em português. Usa-se lei mesmo que a outra pessoa seja um homem e se conjuga os verbos na terceira pessoa mesmo.
  • Distinti/cordiali saluti: é uma maneira formal e respeitosa de encerrar e-mails para o comune.
  • Può parlare più piano, per piacere?: pode falar mais devagar, por favor?
  • Può aiutarmi, per piacere?: pode me ajudar, por favor?
  • Non ho capito: Não entendi.
  • Come si dice…: Como se diz… (uma das frases que mais uso aqui para aprender novas palavras e expressões).
  • Miscusa, per piacere, grazie mille: com licença, por favor e (muito) obrigado(a) – a tríade da boa educação. 😉
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