Como viajar 21 países em 1 ano – Lições de vida de um Barbeiro Nômade

Pessoas que inspiram vivem vidas além do ordinário. Conheça Miguel, 29, de Liverpool. Sua história vai mostrar como sua paixão e profissão o levaram a visitar 21 países em apenas 1 ano.

Os primeiros anos da escola não são apenas para aprender a ler e escrever ou somar dois mais dois – eles também começam a introduzir na vida da gente as palavras profissão e carreira. Eu me lembro perfeitamente do dia em que meu professor do primário falou sobre isso. A ideia de que teríamos que escolher um trabalho foi uma revelação para a maioria daquelas crianças de 6 anos de idade. Os trabalhos mais glamourosos, como astronauta, jogador de futebol e chef eram escolhidos num piscar de olhos, mas eu tive uma abordagem mais estratégica: O que eu realmente queria fazer? Explorar o mundo! E qual profissão me permitiria fazer isso? Na época, a minha resposta – por mais absurda que seja – foi cowboy. Você pode dar risada, mas se eu tivesse dito barbeiro, provavelmente teria soado tão estranho quanto, não é mesmo? Bom, nós conhecemos alguém que fez exatamente isso.

Sonhos de criança não envelhecem

Miguel é um empresário de 29 anos, de Liverpool. Ele também é conhecido como o Barbeiro Nômade, um entusiasta da barbearia que documenta suas aventuras pelo mundo em uma web série.

A primeira vez que vi um dos vídeos do Miguel no Youtube, eu me senti inspirada e animada. Ele era um verdadeiro pioneiro, uma pessoa vivendo uma vida inusitada e cheia de aventura – uma vida que vale a pena ser vivida! Ele teve a coragem de tomar decisões que podem parecer uma loucura para muitos. Eu sabia que tinha que conhecê-lo.

Como um verdadeiro nômade, Miguel passa a maior parte dos seus dias na estrada; quando tivemos a nossa primeira conversa por Skype, ele estava prestes a pegar um voo. Então, imagine a minha felicidade, quando soube que uma das cidades para onde ele sempre volta é Berlim! Passando pelo canal em Neukölln, a barbearia dele é um dos espaços subterrâneos mais bonitos que eu já vi. Miguel criou uma barbearia de luxo toda decorada com lembranças de suas andanças pelo mundo. O lugar não só tem prateleiras repletas de produtos exóticos para barbear e cuidar dos cabelos (uma boa inspiração para dar de presente!), mas também (para minha alegria) um dos melhores baristas da vizinhança. No seu bar, feito por ele próprio, eu e o Miguel sentamos com nossos cafés com aroma de especiarias para ele contar sua história e eu poder traçar as raízes do seu sucesso.

Procurando algo além do ordinário

Miguel sempre foi atraído por barbearias desde pequeno. Sua fascinação me intrigou. Na minha mente quadrada, barbearias serviam para duas coisas: cara limpa e cortes de cabelo caretas. No entanto, na cabeça do Miguel, barbearias possuem uma função muito mais crucial: elas manifestam a cultura local e, para diversas gerações de homens em diferentes comunidades, é um lugar seguro. Ele já viu uma vez o avô levar o filho e o neto para conhecerem o ritual. Ele ouviu histórias sobre como os caras enfrentam suas batalhas pessoais – como se ele fosse um padre e a barbearia seu confessionário. Talvez para você as pessoas se conectem através de música ou comida, mas, para Miguel, a arte de fazer uma barba bem feita cria conexões e estabelece uma comunicação. Então, ele decidiu dominar essa arte.

Anos depois, Miguel – agora um barbeiro profissional em sua cidade natal, Liverpool – estava barbeando um cliente de 90 anos, quando ele ficou chocado por um fato surpreendente deste senhor: ele disse a Miguel com orgulho que nunca esteve fora de Liverpool. Confrontado com um exemplo de uma visão bem limitada de mundo, Miguel decidiu que precisava viajar para fora do Reino Unido antes que fosse tarde demais. Ele colocou sua carreira em stand by, apesar do conselho de amigos para não fazer isso, e agendou o próximo voo para o país de seu pai, o Chile. Seu pai teve de fugir da ditadura militar de Pinochet antes de Miguel nascer.

Superando medos e inseguranças

Depois de aterrissar em Santiago, a cidade de sua família, a jornada de Miguel o levou para um lugar bem familiar: uma barbearia. Na época, Miguel só falava algumas palavras de espanhol. “Às vezes, me sentia tímido ou intimidado a ir para lugares que nunca fui”, ele me contou com uma risada. Ler um pouco de vocabulário como preparação não é o mesmo do que usar as palavras na vida real. Mas essas dúvidas foram rapidamente esquecidas uma vez que Miguel começou a conhecer as pessoas lá. “No final,”, ele fala, “você tem que se forçar. Apenas fazer.” Ir para o Chile e abraçar o idioma e a cultura de seus ancestrais foi apenas o começo da jornada. No ano seguinte, Miguel viajou para 21 países e documentou seus encontros com outros colegas barbeiros na sua web série Nomad Barber.

Apesar de Miguel não falar fluentemente nenhum dos idiomas dos lugares que visitou, ele aprendeu palavras básicas para conseguir ser convidado a entrar nas barbearias. Como ele fez isso? “Eu sempre achei que as crianças são os melhores mediadores”, ele explica. “Crianças em todo o mundo são educadas com programas de televisão em inglês. Muitas delas aprenderam inglês na escola e têm interesse no mundo ocidental. Portanto, falar com crianças e pedir para elas traduzirem as coisas para mim foi uma forma fácil de começar a interagir com os adultos também.” Em todos os lugares que Miguel viajou, ele procurou pela comunidade local que se reúne na barbearia. Quem eram essas pessoas dividindo histórias enquanto faziam a barba? Achar a resposta para essa pergunta foi o jeito do Miguel de conciliar sua profissão com sua paixão por viagens.

Dando asas à sua inspiração

A web série do Miguel começou a ser um guia de viagens bem divertido, um arquivo para idiomas estrangeiros e uma espiada em como uma profissão pode ser praticada de formas diferentes ao redor do mundo. Entre os muitos vídeos que Miguel fez durante sua viagem, está o fascinante encontro com Baba em Pushkar, na Índia:

Uma das viagens mais emocionantes levou Miguel a Calais – uma cidade no Norte da França onde há um campo de refugiados chamado “floresta”, para ser preciso. Inspirado pela experiência de seu pai como imigrante, Miguel queria conhecer essas pessoas que tinham um destino tão controverso mostrado nos jornais. Como seu próprio pai contou sobre sua fuga do Chile: “nada teria sido melhor do que se tivessem me oferecido um corte de cabelo para que eu pudesse me senti melhor comigo mesmo”. Com tesouras e navalhas à mão, Miguel estava determinado a se conectar com os moradores desse campo de refugiados oferecendo o serviço que seu pai não pôde ter.

Vivendo uma vida cosmopolita

Entre uma viagem e outra, Miguel abriu seu próprio negócio em Londres, chamado (olha só!) Nomad Barber. A sua barbearia se tornou rapidamente um sucesso, atraindo barbeiros e barbeiras para trabalhar lá, assim como clientes de todas as idades. Miguel continuou a usar o seu tempo livre para viajar. Foi durante uma viagem para Berlim que ele percebeu a falta de diversidade de barbearias na cena local. Para ele, isso foi uma oportunidade única. Ele alugou um espaço e decidiu expandir a variedade local oferecendo sua especialidade: fazer a barba à moda britânica. Mas mesmo assim, Miguel se integrou à cultura local para crescer o seu time e estabelecer uma comunidade leal em torno de sua barbearia em Neukölln.

Até agora na minha vida, eu nunca tive minha barba feita. E, vamos ser francos, eu provavelmente não vou precisar fazer isso. Então, por que a história do Miguel é tão inspiradora? Eu acredito que são duas razões: o seu empreendedorismo e seu senso de aventura. Nós todos temos o sonho de criança de explorar o mundo. Mas, a realidade não é bem assim – nossos trabalhos e família ficam no meio do caminho. Ou a gente pensa assim. O que o Miguel nos mostra é que existem jeitos criativos de fazer a sua paixão virar uma protagonista da sua vida. Ele também mostra que fazer um esforço para interagir com as pessoas coloca qualquer problema inicial de comunicação sob outra perspectiva.

Existem muitas chaves para abrir as portas do mundo como existem muitos idiomas a serem falados. Você se lembra para onde sempre quis viajar?

Hoje em dia, explorar o mundo não é mais um privilégio de poucos. Viajar se tornou mais acessível, e de uma certa forma até mesmo mais democrático. Mas se tornar um viajante – em vez de um turista – é uma decisão sobre estilo de vida. Não é apenas relaxar em uma praia qualquer por uma semana. Você tem que estar livre para outro tipo de comprometimento: você está disponível para se inserir em uma cultura estrangeira? Você tem curiosidade para encontros inesperados? Você tem disposição para falar um idioma que nunca falou antes?

Se você é como eu, a sua resposta é sim a todas essas perguntas sem parar para pensar um segundo. Explore o mundo – e se um dia você se sentar em uma cadeira de barbeiro, conte sua história.

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