É quase uma loucura pensar que apenas seis semanas atrás, eu levava uma vida conturbada e urbana em Berlim, e agora estou vendo o sol se pondo atrás de uma montanha, ouvindo os sons da floresta no sul do Chile.
Com a mudança do estilo de vida, o modo como eu venho aprendendo espanhol também está mudando. Estudar com a ajuda de um livro e frequentar aulas de espanhol fazem parte da rotina ocupada de viver em uma cidade. Você tem que ter disciplina o suficiente para ir às aulas, aprender vocabulário novo e exercitar a gramática aprendida na semana anterior e não se envergonhar na frente dos seus colegas, ou pior, na frente do seu professor.
O modo como estou começando a aprender e a falar espanhol aqui na América do Sul combina com o estilo nômade que estamos vivendo agora. Jimmy e eu nunca sabemos o que está por vir. Estamos constantemente nos adaptando a novas situações: seja a tarefa de achar um lugar apropriado para montar a barraca, uma rota alternativa ou até mesmo de cozinhar uma refeição em meio a uma tempestade de areia.
Estou improvisando muito mais – na vida e no espanhol. Eu preciso falar espanhol para lidar com as situações básicas do dia a dia, como comprar mantimentos ou responder às múltiplas questões das pessoas curiosas que encontramos no meio do caminho. A necessidade de ter disciplina foi substituída pela necessidade de superar obstáculos e, para ser honesta, é muito mais divertido assim. Comunicar-me em espanhol se tornou uma outra ferramenta de sobrevivência, tão essencial quanto o meu saco de dormir e a minha garrafa de água – sem os quais eu não sigo viagem!
Solta no mundo, eu sinto o aprendizado mais como um desejo que me impulsiona a saber mais do que apenas uma obrigação.
Isso não significa que meu espanhol passou a ser ótimo da noite para o dia ou que eu, de repente, entendo todo mundo. Longe disso! Eu ainda não entendo muitas das conversas – o que é bastante frustrante –, mas estou ficando menos tímida e mais ativa na hora de falar e isso, por sua vez, está me permitindo aprender muito mais rápido. Eu não estou mais falando frases decoradas ou engasgando com alguma estrutura de frase.
Eu percebi que comecei a improvisar quando nós conhecemos Lucia. Eu estava curiosa e focada em saber mais sobre ela em vez de me preocupar em cometer erros. Lucia não tinha nenhum preconceito com relação ao meu nível de espanhol, e ela simplesmente não se importava se a minha frase estava errada. Eu percebi que eu era a única que tinha expectativas acerca do meu espanhol.
Quando eu deixei essas inibições e cobranças para trás, eu me tornei uma aprendiz melhor e mais falante também. Isso pode soar muito óbvio, mas sem mudar o meu ambiente de aprendizado, eu acho que eu teria demorado muito mais para superar esses obstáculos.
Tudo se resume à lição que o Jimmy tem me falado desde o início: pare de se importar e apenas fale!