Especialistas Falam Sobre as Dores e Delícias de Aprender Russo

Jornalista e tradutor Irineu Franco Perpétuo Aprender um idioma estrangeiro não é apenas mais um conhecimento técnico ou acadêmico. Uma nova língua permite acesso a todo um universo ontológico que, muitas vezes, só pode ser explorado por meio de um determinado idioma. Aprender russo, por exemplo, não se limita a uma habilidade de comunicação, mas […]
irineu franco perpetuo
Jornalista e tradutor Irineu Franco Perpétuo

Aprender um idioma estrangeiro não é apenas mais um conhecimento técnico ou acadêmico. Uma nova língua permite acesso a todo um universo ontológico que, muitas vezes, só pode ser explorado por meio de um determinado idioma. Aprender russo, por exemplo, não se limita a uma habilidade de comunicação, mas também introduz o falante à essência do país diverso que é a Rússia, além das sociedades e culturas de outros países que formaram a ex-União Soviética.

Iniciação na Língua Russa e seus Desafios

Irineu Franco Perpétuo, 45 anos, é atualmente um dos melhores tradutores do russo no Brasil, além de ser um dos críticos de música erudita mais importantes do país. Em entrevista à Babbel, ele conta como começou a aprender russo:

Eu tinha 16 anos, e foi uma decisão com a superficialidade de tudo que se decide nessa idade. Havia algo de encanto pelo exótico, pelo misto de mistério e proibição que a URSS representava na época, e pelo caráter de código, quase criptográfico, que representava aprender uma língua com outro alfabeto. Durante bom tempo, mantive uma agenda telefônica de papel com os contatos todos escritos no alfabeto cirílico.

O linguista Lars Bulanov, 38 anos, é um dos especialistas em russo da equipe didática da Babbel, o primeiro aplicativo de ensino de idiomas. Ele considera dois desafios ao elaborar os cursos de russo. O primeiro seria alfabeto cirílico. O segundo seria a articulação dos seis casos gramaticais e dos três gêneros, pois isso faz com que as palavras tenham diferentes declinações. Só para se ter uma ideia, o alemão, uma língua considerada muito difícil para os brasileiros, apresenta quatro casos e três gêneros.

A também linguista Uta Roehrborn, 38 anos, é alemã da antiga Berlim Ocidental e começou a aprender russo ainda na escola, algo bastante incomum para a época. Isso é notável, uma vez que na Guerra Fria só se aprendia russo nas escolas da Berlim Oriental. Para Uta, o mais difícil em aprender o russo como língua estrangeira é o sistema verbal, uma vez que cada verbo possui dois infinitivos. Ela acha a pronúncia das consoantes suaves e duras também um pouco complicada para o falante estrangeiro. Se a sonoridade sair levemente diferente, a palavra pode ter um outro significado.

Por que Não Desistir

Apesar das dificuldades, há vários motivos que fazem valer muito a pena aprender um idioma como o russo. Para Irineu, por exemplo, ler as obras de Dostoiévski, Tolstói, Pushkin e outros grandes nomes da literatura russa no original é uma das grandes recompensas:

Para além das puerilidades dos 14 anos, eu tinha um fascínio pela literatura russa, devido a uma leitura deslocada, imatura e prematura de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski. Obviamente eu não entendi patavina do livro, mas achei que tinha entendido, e me surpreendi com a força daquilo. Estudando a língua, o fascínio com aquela literatura só aumentou. E, para mim, segue até hoje. Então eu me apaixonei pela língua russa, basicamente, porque é a língua em que foi escrita essa literatura que, três décadas depois, segue a me surpreender e maravilhar a cada instante.

Ao longo de sua vida, Lars Bulanov já ouviu as mais diversas motivações para aprender russo. Ele considera umas das mais interessantes a da sua namorada. A historiadora alemã, Steffi Unger, 32, começou a estudar russo porque ela gostaria de descobrir mais sobre a vida do seu avô que foi preso pelos soviéticos na Segunda Guerra Mundial. Ela queria poder ler os documentos em russo sobre ele disponíveis nos arquivos alemães.

Após a sua vivência um tanto interessante com o russo na escola, Uta resolveu viajar para São Petersburgo, na Rússia, para aprender mais o idioma. Após seis semanas, ela estava completamente apaixonada pelas pessoas do país. Ela foi tratada tão bem que decidiu se dedicar ainda mais ao idioma para entender melhor os russos. Quando voltou para Berlim, estudou Letras com Habilitação em Russo em uma das principais universidades da antiga Berlim oriental, sendo a única aluna da sua turma que vinha do lado ocidental.

Vitor Shereiber, 28 anos, linguista e historiador, acredita que o mais fascinante em aprender russo é perceber as várias semelhanças entre russos e brasileiros, apesar do pouco contato existente entre as duas culturas. Ele ainda conta que quando viajou para a Rússia, ele tinha um conhecimento elementar do idioma, mas ainda assim conseguiu conversar por horas com um amigo nativo. Essa experiência o ensinou que ter coragem de falar pode ser mais importante do que o conhecimento da língua em si.

Como Aprender

Irineu estudou russo entre 1987 e 1990 na antiga União Cultural Brasil-URSS. A União usava um método próprio, chamado Russo sem Mestre, elaborado por Custódio Gomes Sobrinho. Os cursos consistiam basicamente em apostilas e fitas cassete: “Como você pode imaginar, era muito difícil conseguir qualquer coisa da URSS naquela época”, disse Irineu.

Para Vitor Shereiber, o estudo do russo começou como uma de suas atividades complementares na universidade. Hoje ele continua aprendendo o idioma com a ajuda do aplicativo da Babbel:

Como os cursos de idiomas da faculdade em Berlim são muito bons, achei que seria o momento ideal para começar a aprender mais a sério. Estudo também com o aplicativo da Babbel. Acho os cursos muito bons, porque apresentam a gramática em pequenos blocos fáceis de serem assimilados. Isso torna o aprendizado muito mais leve. O que eu mais gosto, porém, são os diálogos. Mesmo nos níveis mais básicos, com vocabulário e gramática limitados, há diálogos muito criativos.

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Julie Krauniski

Julie Krauniski é jornalista por formação e relações-públicas por opção. Depois de se graduar pela PUC-SP, trabalhou durante 3 anos na Editora Globo. Em 2012, mudou-se para Berlim, pensando em aprender alemão e viajar pela Europa. Mas acabou ficando de vez na cidade mais legal do mundo. Na capital alemã, foi correspondente internacional, editora, gerente de conteúdo e hoje é RP na Babbel.

Julie Krauniski é jornalista por formação e relações-públicas por opção. Depois de se graduar pela PUC-SP, trabalhou durante 3 anos na Editora Globo. Em 2012, mudou-se para Berlim, pensando em aprender alemão e viajar pela Europa. Mas acabou ficando de vez na cidade mais legal do mundo. Na capital alemã, foi correspondente internacional, editora, gerente de conteúdo e hoje é RP na Babbel.