— disse Stephen King em seu livro Dance Macabre (Dança Macabra).
Quer jeito melhor de passar esse Halloween do que lendo alguns dos maiores mestres do terror da língua inglesa? Melhor ainda, que tal conhecer um pouco sobre suas vidas e, claro, um pouco sobre seus estilos de escrita?
Mestres do terror: H. P. Lovecraft
No começo de sua vida, o destino de Howard Phillips Lovecraft parecia promissor. Filho único de uma família abastada da elite nova-iorquina, já aos 3 anos de idade ele trocava cartas com seu avô, e aos 7, escreveu sua primeira série de poemas: uma reinterpretação do clássico da Grécia antiga “A Odisséia”.
Mas, tal como em seus livros, seu destino estava fadado à loucura e ao sofrimento. Quando Lovecraft tinha apenas 4 anos, seu pai faleceu depois de anos tendo surtos psicóticos causados pela sífilis. As empresas da abastada família do pequeno Lovecraft foram falindo uma a uma. Aos 47 anos de vida, ele faleceu pobre, sofrendo de distúrbios psíquicos diversos e praticamente desconhecido.
Vamos, então, espiar uma frase característica desse autor (tradução livre):
Above these apparent hieroglyphics was a figure of evidently pictorial intent, though its impressionistic execution forbade a very clear idea of its nature.
“Em cima do que aparentemente eram hieróglifos estava uma figura de evidente intenção pictórica, mesmo que sua execução subjetiva dificultasse uma idéia precisa de sua natureza.”
— The Call of Cthulhu (“O Chamado de Cthulhu“)
No trecho acima, retirado de sua obra seminal, podemos ver o estilo elitista que marcou a carreira de Lovecraft: os termos impenetráveis como impressionistic (a tradução aqui é “subjetivo(a)”, mas o autor escolheu um termo rebuscado em vez do usual subjective). Além de suas descrições metafóricas, pedindo ajuda à imaginação do leitor ao invés de apresentar uma figura clara do que está acontecendo.
Um estilo diferenciado de outros autores de sua época e que influencia milhares de histórias até os dias de hoje.
Mestres do terror: Stephen King
O nosso segundo autor não poderia ser mais distinto: nascido de uma família de classe baixa, Stephen King escreveu seu primeiro grande sucesso, Carrie, durante seu horário de almoço, no seu emprego nada criativo como ajudante de uma lavanderia.
Mas, a inspiração vem dos lugares mais inesperados. Foi lavando lençóis ensanguentados do hospital local e entreouvindo conversas enquanto limpava banheiros, que ele teve sua primeira grande ideia para um romance de terror.
Vejamos seu estilo (tradução livre):
— Yes, Mr. Shockley told me you no longer drink. He also told me about your last job… your last position of trust, shall we say? You were teaching English in a Vermont prep school. You lost your temper, I don’t believe I need to be any more specific than that.
— “É, Sr. Shockley me falou que você parou de beber. Ele também me contou sobre o seu último emprego… a sua última posição de confiança, digamos assim? Você estava ensinando inglês numa escola preparatória em Vermont. Perdeu a cabeça, não acho que preciso ser mais específico que isso.”
— The Shining (“O Iluminado”)
Em contraste com Lovecraft, King tenta escrever como as pessoas falam — usando todo tipo de expressão coloquial e apontando claramente os maneirismos de seus personagens e cenas. Sua marca é uma escrita focada nos verbos: sejam as grandes cenas de ação ou os momentos introspectivos de trocas de olhares, nós sempre estamos lá, vivendo passo a passo com os personagens.
Escolhemos o trecho acima pois O Iluminado marcou a carreira de King pelo seu enorme sucesso no cinema — que perdura até hoje com filmes como Carrie e It: A Coisa.
Mestres do terror: Neil Gaiman
Influenciado não apenas pelos clássicos do terror como Shelley e Poe, mas também por escritores de literatura fantástica como Tolkien e Le Guin; desde o início de sua carreira Gaiman fez questão de mostrar sua versatilidade, escrevendo livros, quadrinhos e roteiros para televisão.
Desde muito novo, sua paixão pela leitura era clara e ainda na infância Gaiman sonhava em se tornar escritor. Se formou em jornalismo com a clara intenção de conhecer todas as engrenagens do mundo editorial — o que se provou muito útil posteriormente em sua carreira.
Vejamos um trecho marcante (em tradução livre):
One of his eyes, Shadow decided, was a glass eye, but he could not decide which one. “I brought you mead to drink because it’s traditional. And right now we need all the tradition we can get. It seals our bargain.”
“Um de seus olhos, Shadow concluiu, tinha que ser um olho de vidro; mas ele não sabia qual deles. ‘Eu trouxe hidromel para você beber porque é tradicional. E neste momento, a gente precisa de toda a tradição que pudermos ter. Ela fecha o nosso acordo.’”
— American Gods (“Deuses Americanos“)
Aqui vemos a marca principal de Gaiman: a linguagem metafórica e extremamente simbólica. Em cada página, Gaiman nos revela mais o seu amor pelos diferentes símbolos de sua cultura. O que será que o olho de vidro, o hidromel e até mesmo a tradição realmente significam nesse contexto? Só lendo pra saber!
Escolhemos esse trecho para aproveitar e recomendar a série Deuses Americanos! Hipnotizante!
Sustos pelos séculos
A ordem aqui não foi escolhida por acaso: Gaiman foi influenciado por King, que por sua vez foi influenciado por Lovecraft. Por mais que seus estilos sejam completamente distintos, esses autores inspiraram uns aos outros.
Nesse Halloween, não se assuste! Tenha a coragem de enfrentar a suas próprias sombras e — quem sabe — abrir um desses livros na sua língua original. Nada melhor do que ler as palavras exatamente como foram escritas.