Quando me mudei para a Grécia no fim de 2015, sabia muito pouco sobre uma das línguas mais antigas do mundo. Meu fascínio por aquele país vinha mais de seus filósofos antigos (como Aristóteles e Sócrates) do que de palavras gregas e das magistrais ruínas milenares espalhadas por todo o seu território, algumas delas símbolos de grandes impérios.
Aos poucos, eu me encantei também pela língua grega e sua sonoridade fascinante. O problema era conseguir superar as difíceis pronúncias e memorizar o alfabeto grego bem o bastante para ler as placas pelas ruas.
Ao deixar o país quase três anos depois, aprendi bastante, embora menos do que desejava. Compartilho abaixo algumas dicas para quem desejar visitar a Grécia (ou apenas aprender mais sobre o país).
Palavra onipresente
É normal que os habitantes de um país tenham algumas palavras/expressões favoritas ou mais utilizadas. No Reino Unido, é rotineiro escutar (e dizer) dezenas de “I’m sorry” durante o dia, entre outras razões, a cada vez que alguém se esbarra levemente pelas ruas. Já em uma conversa, você vai ouvir muita gente usando filler words como so, like, “I mean”, mesmo que isso não faça nenhum sentido ou seja necessário.
Em pouco tempo na Grécia, a palavra malaka e suas mais diversas variações vão aparecer em alguma conversa, mas ao contrário de filler words ela faz muito sentido. E depois de percebê-la uma vez, você não vai conseguir parar de notá-la.
Essa é, talvez, a palavra mais querida pelos gregos por sua versatilidade e sonoridade extremamente agradável.
Malaka, a depender de sua variação, pode ter significados positivos ou bem negativos. Mas você vai aprender rapidinho a diferença, não se preocupe.
Em geral, malaka significa uma pessoa sem noção, sem senso comum. Essa palavra é, contudo, muito usada entre amigos em um tom mais carinhoso, sem deixar de lado o espírito da zoeira. Esse uso é tão frequente que você certamente vai ouvir alguém “xingando” um amigo de malaka e caindo na risada logo depois. É como ser chamado de imbecil, “mas com amor”.
As variações da palavra (e a sua utilização fora de um grupo de amigos) são mais agressivas e rudes. Malakas com s no fim, se refere a um homem imbecil (malakes é o plural). Em geral, se você escutar estranhos se xingando assim na rua, saia de perto porque o clima esquentou. Malako é uma mulher idiota (plural = malakismenes).
Malakies, por outro lado, é utilizada para se referir ao ato de alguém falar alguma besteira. Ela também aparece bastante em conversas informais.
Seus ouvidos vão enganar você
Não se assuste se ao caminhar pelas ruas, você tiver a impressão de escutar diversas pessoas falando em espanhol. Algum turista hispânico pode ter cruzado o seu caminho, mas talvez não seja bem esse o caso.
A entonação dos gregos tem muitas semelhanças com a forma como os espanhóis falam. Ambas as línguas também possuem variações de volume e ritmo nas falas muito associadas ao espanhol, embora as palavras não sejam nada parecidas.
Quanto mais tempo você ficar na Grécia, mais vai se dar conta dessa semelhança fonética. Mas também vai perder o interesse em tentar bisbilhotar conversas alheias, pois não vai conseguir entender nada (a não ser que domine a língua de Aristóteles).
“Frappemania”
Assim como os brasileiros, os gregos adoram café. Uma das versões mais populares da bebida no país é o frappé (uma invenção local, por sinal): é uma mistura de gelo, água, açúcar, café instantâneo e espuma. Dê uma olhada ao seu redor. Alguém deve estar saboreando essa bebida.
Fumaça de cigarro
Um dos pontos negativos da Grécia é o elevado número de fumantes. Apesar de haver legislação proibindo o fumo em local fechado, é quase impossível evitá-lo em bares, baladas ou restaurantes.
De volta às palavras…
É sempre importante saber o que dizer para anunciar sua presença em algum estabelecimento. Na Itália, usa-se o ciao tanto para falar olá, quanto para se despedir, por exemplo. Na Grécia, em geral, as pessoas são recebidas com um Yia sou ou Yia sas. Responda com uma dessas alternativas.
Assim como no italiano, Yia sou ou Yia sas também servem para se despedir. No entanto, é mais comum que se diga Kalinihta, ou seja, boa noite (após o pôr do sol, claro). Aproveite e já decore essa trinca para saudações (de acordo com a hora do dia): Kalimera (bom dia), Kalispera (boa tarde) e Kalinihta.
Educação nunca é demais
Os gregos costumam receber turistas muito bem e são, quase sempre, muito simpáticos. Para retribuir esse tratamento especial, nada melhor do que saber agradecer em grego. Essa é uma palavra um pouco complicada, mas de pronuncia bem agradável: efharisto (algo como êffêrráristô). Muito obrigado é efharisto para poli (párápôlí).
Ao comprar algo ou pagar uma compra, é comum escutar um efcharistoume. Esse é um agradecimento no plural para dizer, por exemplo, que toda a equipe do restaurante onde você jantou agradece você pela escolha.
Cada obrigado vem com um de nada, a minha palavra favorita em grego. Parakalo (pronuncia-se parákálô) também pode ser usada como por favor, tanto para chamar um garçom ou para pedir licença. Algumas pessoas atendem o telefone com ela, em uma versão sofisticada do alô – algo como um: pois não?
Outras interações sociais
Uma expressão interessante e útil é Ti Kanis. Ela pode significar duas coisas:
1) Como vai? Ao qual você deve responder com Ola Kala, se tudo estiver indo bem. Ou com Etsi ketsi, se estiver mais ou menos;
2) Mas se o tom pretendido é de inquisição, ela pode significar um o que você está fazendo? Meu flatmate costumava gritar essa frase em desespero para o cachorro dele, o Claude), quando ele destruía alguma coisa em casa.
Apesar de o ritmo de vida grego ser bem mais tranquilo do que em outras partes da Europa, isso não quer dizer que é lento. Demore para escolher a bebida no café e você ouvirá um pame, pame (vamos, vamos) para apressar. Também é comum usar ela, ela (cuja pronúncia é igual ao português). Ao esticar um pouquinho o e para soltar um Eeeeeela, é possível expressar irritação com algo que alguém acabou de fazer contra você.
Ao esbarrar em alguém na rua, signomia (pronuncia-se signômia) é a palavra mais adequada para se desculpar. É possível usá-la ainda para pedir licença. Em geral, as pessoas mais velhas adotam-na com mais frequência. Os jovens apenas dizem sorry, com um sotaque ultracarregado.
Ouzo, raki e tsipuro
Essas três tradicionais bebidas destiladas serão úteis ao seu vocabulário, mas não se esqueça: todas costumam ter mais de 40% de álcool!
Ouzo (pronuncia-se ûso) tem sabor de anis. Em geral, ao ser diluído em água sua cor transparente se transforma em azul. Costuma vir com pedras de gelo.
Uma maneira eficiente de descrever o raki (pronuncia-se com ênfase no r, assim como o Galvão Bueno falava Rrrrronaldo) é chamando-o de a cachaça grega. Normalmente, uma garrafinha da bebida é servida como cortesia em restaurantes no fim das refeições. É bem forte. Há uma versão quente e com mel chamada rakomelo.
Tsipuro também pode ter sabor de anis. É bem similar ao ouzo.