Saiba como ajudar seus filhos com um ensino bilíngue

Especialistas em bilinguismo dão dicas valiosas para garantir que crianças adquiram outra língua e que pais e mães saibam como auxiliá-las no processo.
como ensinar filhos bilingues

Aprender uma segunda língua é uma experiência transformadora em qualquer idade. As vantagens incluem, entre outras, melhor habilidade cognitiva, declínio cerebral desacelerado e benefícios para a memória. 

Por essas e outras razões, como o fato de vivermos em um mundo cada vez mais globalizado, muitas mães e pais querem que seus filhos e filhas tenham a oportunidade de falar mais de um idioma. 

Iniciar essa jornada pode, contudo, ser um pouco confuso. Qual é a melhor idade para uma criança começar a estudar outra língua? Quantos idiomas elas podem aprender? Elas ficam confusas com tantas informações?

A Babbel entrevistou especialistas em bilinguismo para esclarecer essas e outras dúvidas. Eles avisam: criar uma criança bilíngue é um compromisso de longa data!

Quanto antes melhor? Depende…

Em geral, crianças mais jovens possuem uma habilidade natural para aprender uma língua sem estudá-la conscientemente. “Crianças são capazes de extrair regras gramaticais apenas ao ouvir uma língua. Elas são fantásticas em construir hierarquias e descobrir as regras”, afirma a linguista Anna Wolleb do Bilingualism Matters, da Universidade de Reading, no Reino Unido, um centro de estudos sobre bilinguismo que auxilia escolas e governos em questões de aprendizado de línguas.

É comum escutar que crianças devem começar a estudar uma segunda língua o “quanto antes” para serem fluentes. Mas não é tão simples assim: tudo depende da quantidade de exposição ao idioma escolhido. Ou seja, crianças de três anos não vão sair por aí falando um francês perfeito se ouvirem a língua apenas duas horas por semana.

Neste quesito, ter pais ou parentes bilíngues é uma vantagem, pois as crianças podem entrar em contato com o idioma constantemente e de forma natural. “Se puderem, os pais devem falar mais de um idioma desde o nascimento da criança. Idealmente, ela deve ouvir grandes quantidades do idioma”, explica a linguista Antonella Sorace, diretora da sede do Bilingualism Matters na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. 

Em uma situação escolar e sem pais bilíngues em casa, por exemplo, a exposição à língua é muito mais limitada. Além disso, é preciso considerar que crianças pequenas não aprendem gramática em livros como os adultos. “Elas podem, no entanto, aprendê-la implicitamente, naturalmente, se forem expostas à língua de forma suficiente”, diz Sorace.

Segundo Wolleb, crianças pequenas aprendem melhor quando estão imersas na língua, incluindo por meio da interação e do brincar. Já aquelas com mais idade e que estejam acostumadas a se concentrar, podem usar cursos de idiomas mais tradicionais.

Quer ajudar no aprendizado? Coloque a mão na massa! 

Ainda que não haja um “método mágico” de ensino, em casa é possível auxiliar no aprendizado das crianças sempre levando em conta a “regra” mais importante: muita exposição à língua. “O melhor que você pode fazer é ter muitas pessoas e não apenas uma falando a língua com seu filho”, aconselha Wolleb. 

Quanto mais a criança ouvir o idioma de pessoas diferentes, melhor será a sua compreensão das diversas formas, vocabulários, expressões e construções daquela língua. 

Pais monolíngues (nativos e fluentes também) podem, por exemplo, levar seus filhos a parques onde consigam interagir com crianças que falem aquele idioma. Desta forma, eles terão maior variedade linguística e menor risco de aprender erros comuns de falantes não nativos.

Para melhores resultados é preciso esforço e paciência. Lembre-se de que a criança está aprendendo uma segunda língua sem receber a mesma quantidade de informações que obtém no idioma oficial, aquele com o qual se comunica com a maioria das pessoas. 

De acordo com as especialistas, uma forma eficiente de maximizar o aprendizado em casa é realizar atividades que engajem as crianças. Procure conversar com os pequenos sobre temas que os interesse e brinque, leia e cante com eles no idioma escolhido. Pais monolíngues podem aprender a cantar algumas músicas em outra língua!!

Também é possível usar filmes e desenhos, mas essa é uma atividade passiva. “Pesquisas mostram que o mais efetivo é usar recursos interativos. Em outras palavras, colocar a criança em frente da TV em outra língua cinco horas por dia não é interativo. Livros e recursos na internet são ferramentas complementares úteis”, argumenta Sorace.

Mas e se a criança ficar confusa?

Talvez a concepção mais equivocada sobre o ensino de línguas adicionais a crianças é que elas se confundirão. As especialistas ouvidas pela Babbel afirmam que diversos estudos refutam essa ideia e que crianças conseguem distinguir idiomas desde pequenas.

Caso cada um dos pais fale um idioma diferente daquele do país de residência, a criança pode aprender os três ao mesmo tempo. Sorace destaca, contudo, que as crianças provavelmente não terão o mesmo nível de fluência em todas as línguas adicionais. Isso deve ocorrer porque simplesmente não haverá exposição suficiente.

Wolleb alerta que os pais não precisam se preocupar caso as crianças troquem ou misturem palavras entre os idiomas, pois isso costuma acontecer por questões pragmáticas. “Elas fazem isso porque não lhes ocorreu como falar algo em uma das línguas, ou uma palavra soa melhor naquele contexto. Conforme ficam mais velhas, elas vão entender que não podem fazer isso em todo lugar porque muitas pessoas não vão compreendê-las”, diz a linguista.

Acompanhe o progresso sem neuras

O progresso um pouco mais lento de algumas crianças pode deixar alguns pais preocupados e suspeitando de problemas de desenvolvimento, mas é preciso evitar ansiedade. “Se uma criança tiver dificuldade para aprender uma língua, ela a terá em ambos os idiomas. Os professores provavelmente falariam com os pais sobre isso, e um fonoaudiólogo deve estar envolvido”, explica Wolleb. 

Tanto Wolleb quanto Sorace destacam ser difícil diagnosticar crianças bilíngues com problemas de aprendizado porque alguns dos erros que elas cometem podem ser confundidos com dificuldades de linguagem. Também não ajuda o fato de que muitos fonoaudiólogos não são treinados em bilinguismo. “Às vezes, ocorre de crianças bilíngues serem diagnosticadas com uma dificuldade de linguagem que não existe e o contrário também. Portanto, se os pais estão preocupados, devem conversar com os professores ou procurar um especialista”, recomenda Wolleb. 

Autismo não é barreira para aprender outra língua

Crianças dentro do espectro do autismo também podem se beneficiar do aprendizado de um idioma adicional, apesar da concepção equivocada de que teriam dificuldades com isso. “O principal equívoco é que a criança vai ficar confusa e que não seria capaz de aprender duas línguas, porque muitas vezes crianças com autismo podem ter alguns atrasos ou dificuldades no uso da linguagem. Então muitas pessoas acham que a criança deve focar apenas em um idioma. Às vezes, vemos profissionais dando esse aconselho a famílias”, afirma Katie Howard, doutoranda em Língua Moderna pela Universidade de Cambridge (Reino Unido) e especialista em aquisição de idiomas por crianças com autismo. 

Howard, integrante do projeto Multilingualism: Empowering Individuals, Transforming Societies, menciona que pesquisas não indicam haver efeitos prejudiciais do bilinguismo para crianças com autismo. Elas podem até se beneficiar social, linguística e cognitivamente ao falarem, ou ao menos serem expostas, a outro idioma. “Os benefícios sociais incluem preservar sua tradição e participar da vida cultural e religiosa da família [caso a família seja bilíngue].”

Apesar de algumas famílias se preocuparem em garantir que a criança primeiro fale a sua língua principal, ainda não há evidência científica de que isso seja necessário, segundo Howard. Mas a idade ideal para começar a ensinar uma criança no espectro do autismo outro idioma varia de acordo com necessidades individuais, uma vez que uma parcela das crianças no espectro do autismo não se comunica por linguagem falada, por exemplo.

Os pais de crianças com autismo podem seguir os mesmos conselhos listados anteriormente para ajudá-las a aprender um idioma secundário: ou seja, exposição é crucial, assim como atividades que engajem a criança em casa (procure saber o que ela gosta e explore isso em conversas e brincadeiras). “Crianças com autismo muitas vezes têm um ou mais interesses nos quais pensam e falam muito sobre. Focar neles pode ser útil tanto para professores quanto para os pais em casa”, explica Howard.

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