Ilustrado por Paula P. Rezende
“Viajar (v.i)
É viver o suficiente para se achar. É podar as próprias raízes. É brincar de ter asas. É máquina de fazer memórias. É desenhar um mapa com vivências. É atestar a imensidão do mundo. É pegar carona no vento. É perceber que nossa casa é passageira, cidades são estações, e nós somos o trem.
É a gente conhecendo o mundo. (Ou o mundo conhecendo a gente?)”João Doederlein
Todo mundo que já esteve de partida alguma vez, sabe do que o poeta João Doederlein está falando. Ele ressignificou a palavra viajar, que de acordo com o dicionário Michaelis é: “fazer viagem; deslocar-se de um lugar para outro utilizando algum meio de transporte; viandar”.
Eu não sei definir ao certo se viajar é uma necessidade, mas acredito que seja uma das únicas coisas que você compra, mas não empobrece.
Existem diversos tipos de viagens. A que vamos abordar agora é uma das mais práticas e úteis para sua carreira: intercâmbio. Estudar em outro país é, sem dúvida, uma das experiências que mais vai enriquecer o seu currículo, além de poder mudar para sempre o modo como você vê o mundo – e a vida.
Mas, claro, nem tudo é perfeito, problemas no caminho sempre vão existir. E, para ajudar você a perseverar nessa jornada, entrevistamos alguns intercambistas que compartilharam histórias, anseios, dicas e soluções ao viver fora do país.
Do Brasil direto para os nossos hermanos espanhóis
Antes de embarcar para Barcelona, Carla Mirella F. Adriano estudou espanhol por 5 anos e meio, o que ela achou fundamental na hora de conseguir se adaptar na Espanha.
“Como eu viajei com meu marido na época, eu falava português em casa e espanhol na rua. A questão idiomática não foi tão impactante quanto a cultural e social, por exemplo.”
Com o impacto cultural veio também a decepção com a universidade, que, na opinião de Carla, não era tão boa quanto a do Brasil. Apesar de não ter gostado tanto disso, Carla admite que realizou um sonho ao morar fora do país.
“Como eu já sabia espanhol razoavelmente bem, a adaptação nesse aspecto foi bem tranquila.”
O que pegou mesmo foram os costumes. “Choquei com a alta tolerância ao mau cheiro”, Carla se recorda aos risos, “realmente o nosso costume de tomar banho não é o mesmo do de lá.”
Mas isso é o de menos quando Carla analisa outras coisas, como o sistema de saúde espanhol.
“Qualquer pessoa que se registra na prefeitura – empadronada– tem direito à saúde, e quando você vai ser atendido em alguma unidade de saúde, eles nem checam seu passaporte ou se você está legal ou não no país. Simplesmente não é o trabalho deles e não importa, eles não discriminam ninguém.”
Outro fato interessante de Barcelona? “As noites de tapas. Lá, a noitada não se limita só a um bar, mas a vários. O legal é andar de bar em bar, bebendo e comendo tapas. A segurança à noite nas ruas é muita, então é tranquilo caminhar por tudo quanto é lugar de madrugada.”
Nem tudo são flores!
A história foi um pouco diferente para Roberta Borges, que estudou na Alemanha por 1 ano.
“O começo foi muito difícil em todos os aspectos: a barreira do idioma (embora eu me comunicasse bem inglês), a família em que fui inserida não estava interessada na experiência de ter um estudante estrangeiro em casa, e os colegas da escola eram pouco solícitos e abertos, o que dificultou minha integração social.”
Roberta conta que estudou alemão por 4 meses com uma carga horária semanal de 4 horas antes de viajar, o que ajudou muito na hora de acelerar seu aprendizado na Alemanha.
“Especialmente no caso do alemão, que é um idioma muito complexo, estudar antes foi primordial. Quando cheguei lá, quase não compreendia o que as pessoas falavam, tudo soava muito diferente do que tinha estudado no Brasil. Precisei de mais de 1 mês para ‘acostumar’ o ouvido. Era tudo muito confuso e desesperador, por um momento achei que seria impossível aprender o idioma, mas perseverei, estudei muito por conta própria e alcancei meu objetivo de ser fluente.”
A estudante conta que o que mais a motivou a estudar alemão foi o fato de que muitas vezes seus colegas engajavam em conversas animadas e ela não conseguia participar, por isso acabava se isolando. Hoje em dia, Roberta endossa a prática de aprender o idioma antes de viajar, nem que seja um pouco.
“Aprender o básico do idioma é essencial para acelerar o processo de aprendizagem in loco da língua e estabelecer contatos sociais. Mas o que julgo mais importante é estar aberto a novas experiências e modos de vida, sempre olhando as coisas com curiosidade e respeito às diferenças.”
Superando a timidez
Attyla Fellipe S. Lino já teve outra experiência na Alemanha. Como ele havia ganho uma bolsa de estudos, poder se dedicar apenas à isso fez toda a diferença.
“Recebi uma bolsa de estudos para estudar fora, portanto, me dedicar a estudar um idioma em um país diferente e me preocupar apenas com isso, me deu uma chance de ver a vida sob um novo ponto de vista e sofisticar a visão de mundo que já eu tinha.”
Ele ainda afirma que chegou a estudar 3 meses de alemão antes de viajar, mas sente que isso não foi o suficiente para facilitar muito a comunicação no dia a dia.
“Como estudei pouco, isso não me ajudou muito. No entanto, saber um pouco de inglês ajudou, especialmente na hora de viajar. É necessário saber mais do que um pouco para que faça real diferença ali na hora.”
Attyla também se considera uma pessoa introvertida, o que ele acha que dificultou um pouco no processo de aprendizado, apesar de classificar sua experiência de estudar um idioma fora como uma “chance de reaprender tudo que você sabe sobre comunicação e expressão”.
Para os introvertidos, a dica dele neste caso é perder a timidez e fazer de tudo para poder se integrar socialmente, como participar de clubes de leitura, clubes de esportes, fazer tandem, ou qualquer outra atividade em grupo que você goste.
“O problema da introversão para mim foi bem sério e é algo que, na minha opinião, pode necessitar de uma ajuda externa em uma situação de intercâmbio. Ser extrovertido e comunicativo ajuda muito.”
Apesar de ele ter achado a experiência “aterrorizante e muito interessante”, Attyla afirma que “aprender um idioma é uma experiência muito mais humana e intensa do que apenas traduzir de uma língua para outra. O exato momento em que diversos aprendizados teóricos da língua viram prática e toda a informação armazenada vira conhecimento é fenomenal”.