Pensando em viajar para a Argentina? Em primeiro lugar, deixe-me lhe dar os parabéns pela boa escolha. Da vida noturna pulsante e animada de Buenos Aires passando pela majestosa Patagônia até os pampas, a Argentina é abençoada com algumas das paisagens mais deslumbrantes do mundo e cidades verdadeiramente vibrantes.
Viajar pelo país é, em geral, bastante tranquilo: cidades grandes e pequenas são conectadas por uma rede de ônibus extensa e confiável, plataformas abrangentes como Airbnb, Hostelworld e Booking.com estão bem estabelecidas – ou seja, você só precisa de alguns cliques para reservar quartos em hotéis, apartamentos ou albergues – e todos os destinos turísticos têm várias agências oferecendo trilhas e tours. Existem muitos pontos de wi-fi gratuitos, e quando você pedir direções a alguém, sentirá o súbito desejo de formar uma amizade eterna com a boa alma que virá ao seu socorro. Saber inglês ajuda, e algumas pessoas conseguem entender português também, mas aprender um pouco de espanhol sem dúvida tornará sua viagem muito mais proveitosa.
A Argentina é um país grande. Pode parecer uma observação óbvia, mas muita gente subestima as distâncias quando viaja. Se você realmente quiser ver tudo sem perder o fôlego, provavelmente precisará de, pelo menos, quatro semanas. Só para você ter uma ideia, a Argentina é o oitavo maior país do mundo em território, com pouco menos de 3 milhões km2 – um terço maior do que o México e quase do tamanho da Índia. Apesar das boas conexões entre cidades, viagens de ônibus entre Buenos Aires e cidades no norte, oeste e sul do país podem levar entre 20 a 24 horas. Então ou você traz um bom livro para a viagem, aluga um carro, viaja como o Che em uma motocicleta ou se prepara para gastar com alguns voos.
Dito isso, vale a pena cobrir essas distâncias e, com frequência, você poderá desfrutar de vistas espetaculares e cinematográficas enquanto adentra o interior argentino no seu assento semicama. Então, aonde você deve ir? Quais são as coisas mais incríveis para se ver e fazer na Argentina?
As primeiras seis coisas para se ver e fazer são, na minha opinião, imperdíveis. No número 7, dei uma trapaceada, colocando um resumo de todo o resto da Argentina (pois em um top 7 não cabe tudo). Veremos se isso me levará para o purgatório dos escritores de viagens… Por enquanto, vamos começar pelo lugar mais óbvio:
1. Lugares para visitar na Argentina: Buenos Aires
A gigante capital conta com quase metade da população do país de 40 milhões de habitantes, o que dá uma ideia do quão escassamente povoado o resto do país é. A maioria dos voos internacionais pousa, é claro, em Buenos Aires. Após uma viagem de 40 minutos do Aeroporto Internacional de Buenos Aires-Ezeiza (EZE), você estará em algum barrio agitado. Onde ficar? No topo da minha lista, está Palermo; Palermo é como o Shoreditch, em Londres, Brooklyn, em Nova York, Kreuzberg, em Berlim, ou mesmo a Vila Madalena em São Paulo. É repleto de gente jovem estilosa curtindo bares e lojas onde gente ainda mais jovem e estilosa serve cervejas artesanais e café forte. Se você quiser ficar mais no centro, San Telmo e Recoleta são boas opções. Em San Telmo, há uma feira de artesanato aos domingos que, com certeza, merece uma visita, de preferência ainda de ressaca, enquanto você se recupera da balada da noite anterior.
Você já tem um lugar para dormir em Palermo e vai à feira de San Telmo no domingo, o que mais precisa marcar no itinerário? Bem, Buenos Aires merece uma lista própria: se você se interessa por história, é uma boa ideia se familiarizar com os pontos turísticos do centro da cidade com um passeio a pé ou de bicicleta. Apesar de não ostentar as mesmas camadas arquitetônicas variadas de Londres, Paris e Roma, é possível sentir o peso da história diante da Casa Rosada, enquanto você ouve sobre os abalos sísmicos sofridos pelos poderes políticos nos últimos anos, sobre Eva Perón e as mães dos desaparecidos.
Se você curte carne, a Argentina é um paraíso. Recomendo Don Julio. Curte dançar? Perfeito, você está no lar do tango. Desça para La Boca e observe o tango das ruas, deslize entre os barracos Technicolor e os artistas de rua, que correm atrás de você para uma foto, ou assista a uma performance em um dos muitos restaurantes do centro. Alguns lugares também oferecem aulas – eu fui a um lugar no sul de Palermo, onde, mesmo se você congelar, ainda assim consegue dar uns passos básicos de tango no bulevar lá fora. Curte futebol? Uma ida ao Boca Juniors ou River Plate possibilitará uma experiência futebolística autenticamente argentina para quem não se incomodar com as multidões de torcedores fanáticos. Curte conhecer os habitantes locais? Vá a uma partida de polo no Campo Argentino de Polo.
Curte, hum, pessoas mortas? No coração de Recoleta, fica o Cementario de la Recoleta, uma pequena e inquietante casa dos que já foram, com um centro opulento e uma periferia decadente. É possível passar facilmente uma ou duas horas lá, em ziguezague pelos mausoléus, traduzindo os epitáfios dos túmulos da alta sociedade argentina.
Depois, se você precisar reafirmar a força e a beleza do mundo vivo, passe pelo MALBA, a galeria de arte moderna e o jardim botânico no caminho de volta a Palermo. O jardim botânico é um oásis no meio da agitação da cidade grande, dando espaço para os parques de Palermo e os corredores que vão e vão e vão…
A última coisa que você precisa fazer em Buenos Aires é ir embora. Provavelmente, o fará pela rodoviária Retiro, em uma barca no porto ou em um avião partindo de Jorge Newbury, todos os três adjacentes ao nordeste do centro da cidade. E qual será seu próximo destino?
2. Lugares para visitar perto da Argentina: Uruguai
Como assim?! O Uruguai não fica na Argentina! Verdade, mas é tão pertinho de Buenos Aires – uma mera horinha de barco – que seria loucura não cruzar o Rio de la Plata. Colonia del Sacramento, o porto mais próximo e antigo assentamento português colonial, oferece um belo descanso de Buenos Aires. Depois de Colonia, você decide se quer riscar o Uruguai do seu mapa-múndi ou seguir norte, até a capital Montevidéu e as cidades costeiras Punta del Este, La Paloma, Cabo Polonio e Punta del Diablo. As praias uruguaias são muito melhores do que as argentinas; se você estiver atrás de sol, mar e areia, o Uruguai é o lugar.
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As distâncias no Uruguai são bem menores – você pode ir de Colonia à fronteira com o Brasil em cerca de 8 horas. Punta del Diablo, especialmente, é ótima para surfar e relaxar e perfeitamente equipada para quem estiver buscando uma vida mochileira consumada. E você ainda pode avistar uma baleia perto da costa. Como dizer não a uma baleia?
3.Lugares para visitar pertinho da Argentina: Iguaçu
Se o interior do Uruguai fosse mais povoado e se as estradas que ligam o interior fossem mais propícias para viagens entre cidades, seria possível viajar para as majestosas Cataratas do Iguaçu por terra. Porém, do jeito que é agora, isso só é recomendável aos aventureiros. Aos demais, o melhor é retornar a Buenos Aires e, então, partir para o norte de ônibus ou avião. Na chegada, a maioria das pessoas escolhe ficar em Puerto Iguazú, que fica no noroeste das cataratas na confluência dos rios Iguaçu e Paraná, os quais marcam a fronteira entre Brasil e Paraguai. A cidade se assemelha um pouco com um resort de esqui acometido por um verão eterno, mas há alguns lugares bacanas espalhados.
Por que se dar ao trabalho de ir tão ao norte só para ver uma catarata? Bem, como o Lonely Planet explica, “há cataratas e há cataratas… o poder e o som vivem para sempre na memória” (em tradução livre). Eu concordo plenamente. O nome Iguaçu, Iguazú em espanhol, vem do guarani e significa “água grande”, o que é dizer pouco, já que as Cataratas do Iguaçu são as maiores do mundo. Enquanto você se emaranha pelas plataformas e o trovejar das quedas d’água começa latejar nas suas orelhas, você se entusiasma cada vez mais, feito uma criança. Então, quando você chega à plataforma de observação, é impossível não se surpreender com o espetáculo visceral e cinematográfico à sua frente. E isso não ocorre apenas uma vez – o Parque Nacional Iguazú consiste de uma miríade de rotas e trilhas que levam de uma seção das cataratas a outra, cada uma delas com caráter e beleza próprios. Sem dúvida, dá para passar um dia explorando o parque. E, nem me senti incomodado pelas multidões ao meu redor; todo mundo deveria ver as cataratas, a sensação de deslumbramento e animação coletiva torna a experiência ainda mais inesquecível.
4. Lugares para visitar na Argentina: Salta e redondezas
Salta fica bem ao noroeste do país. Antes de começar a viagem, não sabia nada sobre o noroeste. Como a maioria das pessoas, quando pensava na Argentina, pensava no tango de Buenos Aires, nos gaúchos e na carne nos pampas, nas vistas alpinas da Patagônia. Salta oferece um contraste forte com essas imagens de vivacidade, fartura e bucolismo – suas paisagens são secas e ásperas, as montanhas são queimadas pelos cem tons do inferno, os campos de cactos resistentes se eriçam, obstinados, em direção ao árido céu azul. É como a versão adolescente do Vale da Morte, repleto de cores e vegetação nos lugares mais inesperados, e é completamente espetacular.
As pessoas são produtos do ambiente, impregnadas por uma rusticidade e um senso de humor abrasador que explode, intermitentemente, em chamas. Há uma cultura musical e festiva rica e orgulhosa, uma história digna que inclui um papel fundamental na conquista da independência argentina, e o melhor vinho e empanadas do país, dizem. Com Salta servindo de base, você pode visitar Purmamarca, lar da mundialmente-conhecida-na-Argentina montaña de los siete colores (montanha das sete cores) e Jujuy no norte, assim como Las Salinas Grandes, o irmão pequeno das deslumbrantes salinas da Bolívia. Excursões a Cafayate e Cachi no sul levam a paisagens deliciosamente estéreis, ocasional e inexplicavelmente interrompidas por vales férteis, rios vermelhos da cor de ferrugem e cânions catedrais.
Toda viagem boa tem uma surpresa, um lugar que, inesperadamente, se revela especial. Talvez seja porque eu tenha decidido ir por impulso, mas Salta foi esse lugar para mim.
5. Lugares para visitar na Argentina: Bariloche e La Ruta De Los Siete Lagos
Se você quiser começar uma discussão no norte da Argentina, sugira casualmente que o vinho de Salta é melhor do que o vinho de Mendoza. Se você estiver partindo para o sul de Salta, provavelmente passará pela região vinícola mais famosa da Argentina. Como estou me restringindo a sete lugares, seguirei em frente até o norte da Patagônia e o começo de algumas das paisagens alpinas mais sublimes do mundo.
La ruta de los siete lagos, “a rota dos sete lagos”, liga San Martín de los Andes a Bariloche. San Martín é uma cidade ridiculamente agradável às margens do Lago Lácar. De lá, você pode ir explorar o Parque Nacional Lanín, cujo ponto central é o epônimo Volcán Lanín, um vulcão de formas perfeitas e coberto de neve. Ao navegar a rota até Bariloche, você perceberá que o mundo exterior se torna cada vez mais verde e as montanhas, cada vez mais densas; mais cartão-postal. Bariloche é como o irmão mais velho de San Martín – todas as calamidades decorrentes do mau planejamento urbano de Bariloche foram sabiamente evitadas em San Martín. A cidade agarra a costa do enorme Lago Nhua Huapi. Casas e hotéis ocupam as margens ao longo dos 25 km entre Bariloche e o Parque Municipal Llao Llao, porta de entrada para o Parque Nacional Nhua Huapi e locação belíssima para trilhas curtas. Por si só, a cidade de Bariloche não é um destaque, mas ela se tornou sinônimo do distrito dos lagos. Villa Angustia e El Bolsón, cidades pequenas ao norte e sul de Bariloche, respectivamente, também são bons lugares dos quais é possível explorar os parques nacionais vizinhos, mas sem a sensação inquietante e transitória que Bariloche passa.
6. Lugares para visitar na Argentina: El Calafate e a Geleira Perito Moreno
A Argentina e o mundo têm muito a agradecer a Francisco “Perito” Moreno. Guias turísticos por toda a Patagônia contam como a Argentina foi o segundo país do mundo a dar a áreas de beleza natural o status de parque nacional (seguindo os passos dos Estados Unidos) e, assim, o segundo país a proteger e preservar essas regiões. Moreno, um explorador e acadêmico, deu início a esse feito ao doar a terra que havia herdado para estabelecer o Parque Nacional Nahuel Huapi. Como demonstração de gratidão, o nome de Moreno pode ser encontrado por toda a Patagônia. Entre as coisas nomeadas em sua homenagem, estão várias ruas, uma cidade inteira que tem a mesma distância de El Bolsón e El Calafate, um parque nacional e a geleira mais famosa do país.
Mas o que é tão especial na Geleira Perito Moreno? Bem, ela é enorme, um muro de gelo movente que se alonga por cerca de 30 km, se expandindo em 5 km de largura e 70 m de altura. É a terceira maior reserva de água fresca do mundo e uma das poucas geleiras que ainda crescem, cerca de 2 metros por dia. Há uma boa chance de testemunhar a queda dramática de um grande pedaço de gelo no Lago Argentino enquanto você suspira em admiração de uma plataforma de observação. A geleira também pode ser acessada por cima, o que você pode considerar uma vantagem ou desvantagem. Se você curte aventuras, pode escapar das multidões nas plataformas de observação e pegar um tour de trilha pelo gelo. Eu recomendo: não há forma melhor de apreciar a escala da natureza preternatural da geleira.
7. Algo más?
Colocar todas as atrações de um país em uma listinha sempre vai resultar em omissões controversas. Além do mais, assim como guias turísticos têm a tendência de levar mais gente a rotas turísticas já consagradas, listas on-line provavelmente levarão pequenas multidões a alguns poucos destinos selecionados. Não vejo muito problema nisso em relação a lugares como Perito Moreno e Iguazú, que conseguem suportar muitos turistas e dão uma aula sobre quão bela a natureza pode ser.
Dito isso, é bom sair do circuito habitual. Minha viagem a Salta, em particular, foi algo assim, vinda de uma recomendação cheia de elogios no meio de uma conversa carregada a vinho com um Porteño em Buenos Aires. Perguntar aos moradores locais é, sem dúvida, a melhor forma de descobrir as joias escondidas. Também é uma ótima maneira de começar uma conversa – os argentinos se orgulham de sua herança e de suas belezas naturais de cair o queixo – e alguns desses papos acabaram terminando comigo sendo convidado para um jantar, uma viagem de pescaria, ou uma noite de empanadas e chopps na peña local. Por isso, recomendo demais aprender um pouco de espanhol antes de viajar.
Então, o que mais você deve conferir se tiver tempo e energia para continuar explorando? Bem, El Tigre, ao norte de Buenos Aires, oferece um bom passeio de um dia. A cidade é salpicada por casas bem conservadas, com uma rede de canais e um número perturbador de câmeras de segurança – um indicador da riqueza lá concentrada e da insegurança que isso traz. Se você viajar de Buenos Aires à Patagônia de ônibus, vale a pena parar em Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina com 1,3 milhão de residentes. É lar da Universidade Nacional de Córdoba, a mais antiga da Argentina, com a reputação de ser uma cidade estudantil badalada e rica em cultura. Também é uma boa base para explorar o extenso interior argentino. Por fim, outra omissão gritante para muitos é Tierra Del Fuego e Ushuaia, localizada no ponto mais austral da Argentina. Embora seja longe de praticamente tudo, é acessível por terra e ar e é o ponto de partida para uma viagem única à Antártida ou para uma exploração das montanhas cobertas de neve e da majestade sombria do fim do mundo.
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