Ilustrado por Paula P. Rezende
Em 2017, 302 mil brasileiros(as) foram estudar no exterior, segundo dados da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta). A maior parte deles optou por cursos de idiomas de curta/média duração e cursos de idioma com trabalho temporário. Os países mais populares foram Canadá (23%), Estados Unidos (21,6%), Reino Unido (10,2%), Nova Zelândia (6,9%) e Irlanda (6,5%).
Dublin, Londres, Nova York, San Diego, São Francisco, Toronto e Vancouver geralmente figuram entre as cidades favoritas de brasileiros(as) que desejam estudar inglês no exterior. As razões para essa preferência variam (e muitas delas são bem pessoais), mas qualidade de vida, segurança, preços e cultura local costumam pesar na balança.
As cidades mencionadas acima são destinos excelentes, multiculturais e com uma imensidão de atividades culturais/profissionais disponíveis para ampliar os seus horizontes. Destinos badalados não são, contudo, os únicos interessantes para se estudar. É possível ter uma experiência pessoal e educacional relevante em países menos óbvios.
Que tal apostar em uma cidade underdog para aprimorar o seu inglês? Confira essas sugestões. Quem sabe você decide se aventurar por elas.
Copenhagen, qualidade de vida europeia
A capital da Dinamarca abriga pouco menos de 600 mil habitantes, embora a sua zona metropolitana tenha quase 2 milhões de pessoas. O clima é bem frio durante o outono e o inverno, mas moderado no restante do ano.
Copenhagen aparece em 9º lugar no tradicional ranking da consultoria Mercer sobre as cidades com a melhor qualidade de vida no mundo. A lista avalia 450 cidades a partir de 39 critérios, incluindo estabilidade política, crime, aplicação da lei, liberdade pessoal, acesso à saúde, saneamento básico, qualidade do ar, transporte público, congestionamento, recreação, habitação, clima e meio ambiente.
Entre outros aspectos, a capital dinamarquesa é famosa por sua variedade arquitetônica. As pessoas interessadas em prédios modernos e revolucionários podem visitar a Royal Danish Opera House, DR Koncerthuset, The Tietgen Residence Hall, The Silo e Royal Danish Library. No campo mais tradicional, a Børsen (a bolsa de valores mais antiga do país, remontando ao século XVII) e a Christian IV’s Brewhouse, prédio construído para fins militares por volta de 1600 e que atualmente abriga uma cervejaria, são os destaques. Não se esqueça ainda das casinhas coloridas da área de Nyhavn, antes um movimentado porto comercial, hoje dominado por restaurantes.
Copenhagen, por sinal, também é reconhecida pela qualidade e criatividade de seus restaurantes. O Noma e o Geranium, por exemplo, são respectivamente donos de duas e três estrelas do prestigioso Guia Michelin.
Tudo isso é muito bom, mas não se fala inglês na Dinamarca!
A língua nativa pode até ser o dinamarquês, mas 86% da população fala inglês como língua adicional, segundo o Visit Denmark, site oficial de turismo do país. Além disso, o EF English Proficiency Index, o ranking mais compreensivo para medir as habilidades com a língua inglesa de países não nativos, coloca a Dinamarca em terceiro lugar entre os que têm o melhor domínio do idioma. O Brasil, por exemplo, figura apenas na 41ª posição.
Logo, aprender ou aperfeiçoar seu inglês em Copenhagen é bem viável. Na sala de aula, pode ser possível escolher professores nativos, enquanto no cotidiano você poderá se comunicar eficientemente com a população local. Há diversos cursos de inglês disponíveis na cidade.
Por outro lado, Copenhagen aparece em quarto lugar entre as cidades mais caras para se morar no mundo, de acordo com o ranking de 2018 do banco de investimentos UBS. A capital dinamarquesa está na 14ª posição no ranking de custo de vida da Mercer, que mede os preços comparativos de mais de 200 itens em 209 cidades, incluindo habitação, transporte, alimentos, roupas, utensílios domésticos e entretenimento.
Segundo o Numbeo, um site colaborativo de comparação de preços, uma pessoa solteira precisaria de €900 por mês para cobrir os gastos na cidade, além de outros €900 por mês para alugar um apartamento de um quarto fora do centro. Ou seja, o custo médio de vida em Copenhagen seria de aproximadamente 8,1 mil reais por mês, mas é possível reduzir esse valor significativamente economizando nas despesas e dividindo um apartamento com outros estudantes (aliás, essas duas dicas valem para todas as demais cidades desta lista).
Calgary, o paraíso canadense de engenheiros
O Canadá é o local favorito dos(as) brasileiros(as) para intercâmbio, entre outros motivos, devido às melhores taxas de câmbio. O país tem, entretanto, opções além de Toronto e Vancouver. Um exemplo é Calgary, na província de Alberta.
Calgary é uma cidade relativamente grande, que vem experimentando rápido crescimento populacional. Sua área metropolitana tem em torno de 1,4 milhão de pessoas, a terceira região mais habitada do país. Além disso, sua população é bem jovem, com média de idade de 36,8 anos.
A província de Alberta é a maior produtora de gás natural e petróleo do Canadá, além de abrigar vastos depósitos destes recursos naturais. Por isso, é uma espécie de epicentro para empresas do setor. Logo, se você tem interesse nesta área de trabalho ou estudo, Calgary pode ter oportunidades relevantes.
No ranking Mercer de melhor qualidade de vida, a cidade aparece em 33º lugar (o quinto melhor resultado do Canadá). Além disso, Calgary figura apenas na 154ª posição entre as cidades com maior custo de vida em outra lista da Mercer. Ou seja, é mais barato viver lá do que em Toronto (109ª), Vancouver (109ª) e Montreal (149ª).
A cidade tem investido muito em arquitetura para atrair turistas. Entre os seus prédios modernistas estão National Music Centre, The Bow Tower, Brookfield Place – East Tower e Peace Bridge. A vida noturna local tem diversas opções, como pubs tradicionais, baladas, bares com pátios e restaurantes.
Segundo o Numbeo, uma pessoa solteira precisa de 1,1 mil dólares canadenses por mês para despesas e mais 955 dólares canadenses para alugar um estúdio em uma área barata. Ao todo, as despesas mensais ficam em torno de 6,1 mil reais.
Singapura, modernidade no sudeste asiático
A cidade-estado no sul da Malásia é um dos maiores casos de sucesso global. A pequena ilha de cerca de 5,6 milhões de habitantes passou por uma imensa transformação desde os anos 1970, deixando de lado as dificuldades financeiras para se tornar um grande centro econômico, tecnológico, de manufatura e de inovação em tempo recorde.
Atualmente, Singapura é uma das economias mais desenvolvidas do planeta e costuma figurar no top 10 das maiores renda per capita do mundo. No ranking de qualidade de vida, ela aparece na 25ª posição. Um dos idiomas oficiais é o inglês, usado como língua franca, mas fala-se ainda mandarin, malaio e tâmil.
Singapura tem conquistado rapidamente o status de pólo tecnológico da Ásia, fazendo frente ao Vale do Silício, na Califórnia (EUA), como destino preferido de start-ups do setor. Em função dos investimentos do governo e vários tipos financiamentos, além de sua posição geográfica vantajosa (próxima a mercados importantes como China, Indonésia e Índia), a cidade-estado tem atraído cada vez mais empresas e talentos globais.
A ilha adota uma intensa postura pró-business e estabeleceu uma clara estratégia para incentivar inovação. Singapura abriga bases regionais de Google, Facebook e LinkedIn. Logo, a cidade-estado pode oferecer oportunidades de ouro para quem se interessa por tecnologia, inovação, mercado financeiro e pela Ásia.
A arquitetura de Singapura apresenta uma mistura de diversas culturas. Há prédios coloniais, arranha-céus, templos, mesquitas e igrejas. O templo hindu mais antigo do local é o Sri Mariamman. Há também o colorido templo chinês de Thian Hock Keng, dedicado à Deusa do Mar, repleto de estátuas de dragões e divindades.
A cidade-estado abriga ainda prédios modernos como o Esplanade, um centro de perfomances artísticas com uma fachada que parece espinhos, ou a Singapore Flyer, uma das maiores rodas gigantes do planeta, com 165 metros de altura. Há ainda a Helix Bridge, a maior ponte de pedestres da cidade, e a Marina Bay Sands.
Em resumo, Singapura é multicultural, sedia uma corrida anual de F1, tem restaurantes e culinária interessantes, vida noturna intensa e qualidade de vida. Mas tudo isso não é barato. Segundo a Worldwide Cost of Living Survey da Economist Intelligence Unit, a cidade-estado é a mais cara do mundo. Ela aparece em 4ª lugar no ranking de custo de vida da Mercer.
De acordo com o Numbeo, um indivíduo precisa de 1,1 mil dólares singapureanos para despesas, mais 1,7 mil para alugar um estúdio simples. Total: 7,9 mil reais por mês.
Valleta, paz e sossego mediterrâneo
Para quem deseja paz, pouca gente e a paisagem/clima do Mediterrâneo, Valleta é uma opção encantadora para estudar inglês. A minúscula capital da ilha de Malta, onde vivem menos de 6 mil pessoas, é um Patrimônio Mundial da UNESCO.
As obras de construção desta cidade fortaleza começaram em 1566, tendo sido concluídas em notáveis 15 anos. Em suas estreitas ruas, ela abriga bastiões impressionantes, igrejas, palácios e itens de arte dos mais relevantes da Europa.
Valetta também é conhecida por seus diversos jardins, igrejas barrocas e pela Co-Catedral de São João, onde ficam obras de arte de Caravaggio e Mattia Preti.
Apesar de pequena, a cidade tem uma vida noturna intensa, com inúmeros bares de vinho, restaurantes e baladas. Durante o verão, diversos artistas internacionais, em especial de música eletrônica, realizam shows na capital. Produtores de vinhos em Malta organizam tours e degustações em seus vinhedos.
A cozinha maltesa é resultado da interação de diversas civilizações que ocuparam a ilha ao longo de séculos. Por isso, há uma mistura de tipos de dieta mediterrânea. Entre os pratos mais famosos estão Lampuki Pie (torta de peixe) e Bigilla, patê de feijões com alho.
Não há uma estimativa clara de orçamento para Valleta de acordo com Numbeo, mas o site afirma que a média de salário local é de pouco mais de 1 mil euros líquidos e o aluguel custa por volta de 700 euros. Pode-se estimar que 1,7 mil euros por mês seja uma margem segura, logo, 3,9 mil reais por mês.
Edimburgo, custos acessíveis além de ter paisagens impressionantes
É difícil definir a capital da Escócia e seu mar de morros com um adjetivo inferior a sensacional. A sua população de cerca de 507 mil habitantes pode aproveitar incríveis paisagens e uma abundância de prédios medievais, góticos, neoclássicos, além de seus jardins. Tudo isso a uma curta distância de ônibus da praia.
A cidade, considerada o quinto mais impressionante Patrimônio Mundial da UNESCO, figura em 46º lugar no ranking de melhor qualidade de vida, pouco abaixo de Londres (41º). É bem fria durante todo o ano, exceto em seu agradável verão.
No topo de um de seus morros está o Castelo de Edimburgo, uma das construções mais incríveis do local. O prédio já abrigou monarcas do país, como a Rainha Margaret e a Rainha Maria dos Escoceses, e ainda atrai multidões de turistas.
Os visitantes podem apreciar boa parte da arquitetura ao caminharem pela Royal Mile, ruas que ligam o centro da cidade antiga ao Palácio de Holyroodhouse. Pelo caminho também ficam a Catedral de St Giles’, criada no reinado do Rei David, por volta de 1120, e o Parlamento escocês.
Na cidade antiga também está o Grassmarket, paraíso de comerciantes independentes e artesãos, além de lar de excelentes restaurantes e bares. Em Calton Hill, é possível aproveitar um parque com uma vista incrível de Edimburgo.
Ao longo do ano, a cidade tem ao menos 12 festivais. Os mais importantes são o Festival Internacional do Livro, com mais 900 participantes de 47 países, a Oktoberfest, e o Natal – com seis semanas de festividades no centro e patinação no gelo. Além disso, o zoológico conta com o único par de pandas do Reino Unido!
Aos amantes de whisky, Edimburgo oferece inúmeras opções da bebida e um tour pelo The Scotch Whisky Experience, um museu sobre o seu processo de produção e diferentes tipos de materiais usados. Os visitantes também podem entrar em um cofre com a maior coleção de whiskies escoceses do mundo.
Edimburgo possui mais restaurantes por pessoa do que qualquer outro lugar do Reino Unido, incluindo quatro estrelas Michelin. Em termos de preços, o Numbeo sugere 627 libras para cobrir os gastos de uma pessoa. Outros 610 libras são necessárias para alugar um estúdio fora do centro. Total: 6,3 mil reais por mês. Esse valor é, contudo, muito inferior aos 10 mil reais por mês para viver em Londres.
Vale lembrar que as estimativas do Numbeo levam em consideração um patamar de gastos um pouco mais elevados do aqueles de estudante com orçamento apertado. Ou seja, é possível gastar bem menos.
Preços de cursos
O valor dos cursos depende das preferências de cada estudante, mas fatores como a duração e nível do programa, a instituição de ensino escolhida (escolas com mais alunos nas salas podem ser mais baratas, por exemplo), a forma de pagamento, a quantidade de horas/aula por semana e o tipo de programa (conversação, inglês profissional, acadêmico) têm grande influência no preço final.
É possível encontrar preços de cursos em plataformas como esta e esta, onde você escolhe uma cidade e contata uma instituição de ensino para solicitar um orçamento personalizado. Outra opção é buscar agências de intercâmbio de sua confiança – mas não se esqueça de consultar várias para poder comparar os preços!
Vistos
Acordos entre Brasil e países da União Europeia garantem a dispensa de vistos a cidadãos brasileiros que visitem o bloco por até 90 dias. Desta forma, não é preciso visto para estudar em Copenhagen, Edimburgo e Valleta, desde que os cursos tenham duração inferior a três meses. Sem visto, contudo, não é possível trabalhar.
Caso queira conciliar estudos e trabalho ou deseje permanecer na Dinamarca, Escócia ou Malta por mais de 90 dias, é necessário solicitar o visto mais adequado (para isso, contate as autoridades diplomáticas dos respectivos países).
No Reino Unido, por exemplo, há a opção de um visto de estudo temporário, sem acesso ao mercado de trabalho, ou o Tier-4, mais comum para estudantes de nível superior e que permite trabalho por uma quantidade limitada de horas semanais.
Em Malta, apenas estudantes que ficarão no país por mais de 90 dias podem ter emprego. Mas é necessário pedir um visto nacional para cobrir o restante do curso e depois solicitar a autorização de trabalho. Ambos os procedimentos são feitos apenas em Malta, diretamente no Citizenship and Expatriate Affairs Department. Para mais informações acesse: https://identitymalta.com/student-applications/.
Para estadias mais longas ou trabalho na Dinamarca, os brasileiros devem solicitar um visto na Embaixada da Noruega em Brasília e no Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro, uma vez que as representações diplomáticas dinamarquesas no Brasil não realizam esse procedimento. Os documentos precisam ser entregues em pessoa, após agendamento de horário. Mais informações em http://brasilien.um.dk/pt/viagem-e-residencia/residencia-e-trabalho/ e https://www.norway.no/pt/brasil/servicos-info/visito-turismo/residencia/#antes-pedir.
É fundamental destacar que, apesar da dispensa de vistos a brasileiros em viagens curtas para Dinamarca, Escócia e Malta, não há garantia de que o estudante será autorizado a entrar nestes países. Para isso, é preciso cumprir diversos requisitos, como comprovar a matrícula em um curso reconhecido pelo governo nacional, ter provas de recursos financeiros para se manter no país durante os estudos, possuir um seguro de saúde com cobertura extensa, ter prova de acomodação, entre outros aspectos. Logo, contate as representações diplomáticas destes países antes da viagem para obter informações mais detalhadas.
O Canadá exige visto independentemente da duração do curso. O pedido deve ser feito ainda no Brasil por meio de Centros de Solicitação de Vistos (que oferecem serviços em português) ou online (em inglês). Existe a possibilidade de conciliar trabalho e estudos no país, mas diversos critérios precisam ser cumpridos. Este link possui informações detalhadas sobre o visto de estudante. Para detalhes sobre estudo e trabalho acesse este link.
Singapura também demanda visto para estudantes brasileiros, o chamado Student’s Pass. Os pedidos podem ser submetidos online via Submission of Application for Visa Electronically (SAVE) ou pela Embaixada. Os requisitos para o visto dependem de aspectos como as instituições de ensino e tipos de curso escolhido, logo, cheque os detalhes aqui e aqui.
Pode ser possível combinar estudos e trabalho em Singapura. É necessário, entretanto, pedir uma autorização que varia conforme qualificação, propósito do curso, função, entre outros aspectos. Saiba mais aqui.