Imagine um casal se beijando intensamente no cinema. Alguns segundos depois, um barulho de canudinho — um homem, com uma aparência atarracada, está bebendo refrigerante ao lado deles, de olhos arregalados, se esforçando para não espiar. O humor neozelandês se destaca justamente por fugir dos padrões americanos que são tão martelados na nossa cabeça pela indústria cultural estadunidense.
De certa forma é uma metáfora para um ponto de vista diferente sobre a vida.
Recentemente fiz um pequeno intercâmbio na Nova Zelândia e pude ter contato em primeira mão com o tipo de piada que reverbera por lá. Tendo morado tanto nos EUA quanto no Reino Unido, foi interessante perceber esse humor que é tão diferente e particular.
Uma vida baseada em awkwardness
Awkwardness é a base do humor kiwi (kiwi = neozelandeses). Essa não uma palavra fácil de traduzir para o português! Nossa melhor opção: “desajeitado(a)” não dá conta do significado pleno. Mas, por sorte ou azar, esse é um sentimento comum e fácil de ser experienciado:
- Imagine encontrar uma revista pornô no banheiro da casa da sua avó.
- Escorregar no tapete vermelho do festival de Cannes.
- Ser insultado violentamente por uma criança de 6 anos.
Dá para entender de onde esse “desajeitado” vem — mas existe algo além. Um sentimento de alguma coisa fora do lugar, não exatamente vergonha, mas algo ali nas redondezas.
O humor awkward
Mas como usar isso para a comédia?
A base é um sentimento de empatia, de “eita, eu já estive aí” — mesmo nas situações mais extravagantes. Perguntando para um amigo nascido e criado por lá, ele me contou a seguinte anedota:
Entendendo e praticando
Ao invés de ficar no mundo da teoria, vamos dar umas risadas! Dê uma olhada nesse vídeo e vamos entender de onde o humor vem:
O que eu vou fazer aqui agora é um pecado capital: explicar a piada. Perdoe-me se você puder, mas é por um bom motivo! Aprender sobre como o humor funciona é algo que todo mundo devia saber (por mais que dissecar o humor seja dolorido).
O que você espera de uma música sobre um flerte? Principalmente de uma música que fala sobre um homem enxergando a beleza de uma mulher? Nossa cultura gastou muito tempo e energia para formar essa imagem — o que deve ser dito, o que deve ser pensado.
Quando o personagem diz “você é a mulher mais bonita (…)” nossas expectativas estão absolutamente saciadas. Talvez uma hipérbole como “do mundo” ou “que eu já vi” venha a nossa mente. Mas quando a frase vem seguida por “nessa sala” vemos que tem alguma coisa estranha aí.
“Você podia trabalhar como modelo… meio período… mas provavelmente precisaria manter o seu emprego normal” não é exatamente a visão romântica hollywoodiana da paixão, mas uma opinião que aparece bem frequentemente nas vidas das pessoas.
A tal da awkwardness vem só de você se imaginar falando isso para alguém. Vem de você catalogar na sua cabeça todas as pessoas que, para ser bem sincero, podiam ser modelos meio período, mas não como a profissão principal. Essa não é a comédia do mundo dos sonhos, é a comédia de gente que nem a gente. O jantar não é lagosta na praia, mas um kebab — o equivalente ao podrão da esquina. Ela é “a mulher mais linda que eu já vi… comendo um kebab.”
Flight of the Conchords
Não é por acaso que eu estou escrevendo sobre esse tema: eu sou um fanático por esse grupo de comédia dos anos 90, o Flight of the Conchords. O humor é simples de entender e vai bem na linha do que foi aqui mostrado.
Estranha a vida! Quem me apresentou esse grupo foi uma polonesa. Mal sabíamos nós 2 que em menos de um ano eu estaria voando para aquelas terras distantes.
Deixo aqui meu vídeo preferido! Até a próxima!