Um guia de como não se comportar em um supermercado global

Quando em Roma compre como um romano: se existisse algo como um supermercado realmente globalizado, como todos nós deveríamos nos comportar, e, quais os maus hábitos e manias cada um de nós teria que deixar de lado para se dar bem com todos?

Há muito tempo, muito tempo atrás, os supermercados não eram do jeito que são hoje, as pessoas costumavam ir a quitandas ou mercadinhos, que muitas vezes cheiravam a ervas e especiarias. E, para serem atendidos, todos ficavam em frente ao balcão com uma lista de compras em punho, recitando calmamente tudo o que estava na lista enquanto o vendedor procurava pelo pedido. O vendedor, alguém que eu gosto de imaginar usando um avental e com um grande bigode, se movia com graça e confiança entre as prateleiras da loja enquanto preparava as sacolas, além de conversar de forma agradável com o seu cliente.

Ah, os bons e velhos tempos, não é mesmo?

Agora, vamos parar essa jornada sentimental ao passado e retornar para a realidade dos atuais supermercados. Imagine só: música alta, corredores cheios produtos possíveis e inimagináveis, cores neon chamando nossa atenção (e irritando nossos olhos), mil carrinhos, barulhos irritantes, pessoas com pressa quase beirando a agressividade e… Pense que agora também existem mais oportunidades do que nunca antes!

As coisas geralmente são exatamente iguais em todo lugar, não é mesmo? Se analisarmos as grandes marcas, existe, por exemplo, um Burger King e Starbucks em cada esquina, servindo a mesma comida do mesmo jeito em todo canto do mundo. O mesmo vale para os supermercados, com “autêntico” pão francês no Pão de Açúcar ou aquela “massa italiana” no Extra.

Essa é a expectativa quando você entra em um supermercado em um país estrangeiro. De certa forma, nós esperamos uma certa familiaridade, uma certa segurança, onde nós podemos adotar um senso de escolha e autonomia que todos os supermachés oferecem. Qualquer um que já tenha entrado em um supermercado na Espanha ou em um Supermarkt na Alemanha vai saber, entretanto, que essa moderna instituição não é a mesma ao redor do mundo. Você pode muito bem se perguntar: “Eles ainda pesam a própria comida aqui?”, “Onde está o caixa de self-service?”, “Por que todo mundo está inserindo garrafas de plástico sujas naquela máquina?”. Sim, cada país tem suas particularidades quando o assunto é compras.

Nós fizemos uma pesquisa para descobrir como as pessoas em diferentes países se comportam no supermercado, mais especificamente os comportamentos que mais irritam. Então, criamos um supermercado fictício mas totalmente globalizado. Portanto, Tesco, Carrefour, Gadis, Rewe e Pão de Açúcar prestem atenção! Nós bolamos a sua rota em direção à dominação do planeta!

Os italianos não suportam que alguém pegue as frutas e os legumes sem usar luvas de plástico. Afinal, porque existem luvas ali, não é mesmo?! E, ainda tem a fila do açougue, onde os espanhóis começam a ficar irritados se alguém se esquece de pegar a senha, desorganizando tudo. E não dá para fingir que você simplesmente esqueceu, isso para eles é inaceitável.

Estão todos à beira de um ataque de nervos. E, a pergunta que não quer calar é: eles vão conseguir manter sua sanidade até a reta final do caixa?

Os alemães ficam impacientes quando existem 5 pessoas na fila e nenhum funcionário para abrir mais um caixa. Um dos caixas toca freneticamente uma campainha para que seus colegas de trabalho abram outro Kasse, mas, claro, todos estão no seu momento de break e nem ouvem o barulho. A fila só cresce! (Em alguns supermercados alemães existe um pequeno sino que você pode tocar quando a fila alcança um certo ponto, e geralmente está escrito: “se a fila alcançar este ponto, por favor toque o sino para abrir um novo caixa”.)

Na frente do alemão, tem um homem inglês sério que viu uma senhora espanhola que claramente tem intenções de furar a fila. Ele começa a ter espasmos nervosos. O inglês começa a se irritar com a simples possibilidade de que alguma espertinha possa pensar em se espremer e surrupiar um espacinho livre na fila, que algum outro cliente mais desatento tenha deixado. No final, a velhinha espanhola fura a fila com sucesso e fica em segundo lugar, e com a desculpa de ser uma senhora idosa ela sabe que ninguém vai dizer nada, já que isso seria muito feio.

Por outro lado, nós temos aqui um brasileiro que está cada vez mais impaciente e pensa “Por favor, me explique porque está escrito “Caixa Expresso – máximo 10 itens” se o mundo inteiro está passando nele com as compras do mês?”. “Relaxe!” disse o italiano, que de repente viu de canto de olho alguém observando o que tem no seu carrinho. “Ei, você está tentando roubar os ingredientes da minha receita secreta, passada de geração para geração pela minha tatatatatataravó? Que sacrilégio!”, ele grita.

Isso muda o nosso foco para o caixa número 1: um sueco, que geralmente é gentil, está de certa forma de mau humor devido a uma montanha de produtos empilhados, desafiando as leis da física. Para ele, os itens devem ser colocados em fileira e ter o seu próprio espaço na esteira. Não existe a necessidade de empilhar para abrir mais espaço!

Esse tipo de comportamento não está de acordo com as necessidades do alemão. Ele não é capaz de colocar qualquer produto na esteira até que o Warentrenner (um tipo de barra de metal que é usada para separar as compras na esteira) seja colocado. Essa é a responsabilidade da pessoa da frente, e até que essa responsabilidade seja cumprida, o alemão vai continuar com suas compras no carrinho.

E, na hora de pagar, existe a grande chance de que o inglês seja chamado de “dear” ou “love” pela funcionária do caixa, que também vai pedir sua carteira de motorista como prova de maioridade. Isso pode acontecer até mesmo quando o cliente tem mais de 30 anos e o caixa é 10 anos mais novo que ele. Vide que agora as regras de apelidos carinhosos ganham uma nova perspectiva.

E, pense um pouco na mulher francesa que foi expulsa sem cerimônias pelo caixa e está embalando suas compras freneticamente porque o próximo cliente já está pagando as compras. O que será que aconteceu com os caixas grandes e espaçosos, onde tínhamos tempo suficiente para embalar as compras de forma calma e tranquila?

Tudo certo, pronto para ir embora? Sobreviveu? Bom, pode respirar e sair aliviado, porque esse supermercado felizmente não existe, mas agora que você já sabe das manias de várias nacionalidades, com certeza está preparado para lidar com todas elas!

traduzido e adaptado por Sarah Luisa Santos

Ilustração por Elena Lombardi

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