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Qual o idioma da Guiana Francesa?

Vizinho do Brasil, o território da região amazônica é parte da França. Mas por lá não se fala apenas francês 
Escrito Por Gabriel B.
Qual o idioma da Guiana Francesa?

A Guiana Francesa, conforme o nome sugere, é um território da França no meio da Amazônia (e tem até mesmo uma base para lançamento de foguetes utilizada pela Agência Espacial da União Europeia). Além de causar estranheza em muita gente, esse fato é ainda mais peculiar: por causa da localização da Guiana Francesa na América do Sul, o país com a maior fronteira terrestre com a França não é europeu, mas sim o Brasil – mesmo estando do outro lado do Oceano Atlântico! Pois é, a região norte brasileira faz fronteira com a França e com a União Europeia. Então o francês é o idioma da Guiana Francesa?

Ao menos oficialmente, sim. O francês é a língua utilizada pelo governo, órgãos públicos, sistema educacional, mídia, etc. Isso não chega a ser uma surpresa, uma vez que o território está, de alguma forma, sob o controle da França desde 1667. E desde 1877 os cidadãos da Guiana também são franceses, inclusive com direito a enviar representantes eleitos ao parlamento da França.

Caldeirão de idiomas 

Os cerca de 295 mil habitantes do território, contudo, utilizam diversas outras línguas em seu cotidiano, incluindo idiomas indígenas como arawak, emerillon, kali’na, palijur, wayampi e wayana. Mas o idioma mais falado na Guiana é o crioulo– criado com base no francês e com grande influência/mistura de línguas locais.

Segundo o Instituto Camões, idiomas crioulos são línguas naturais, “de formação rápida, criadas pela necessidade de expressão e comunicação plena entre indivíduos inseridos em comunidades multilíngues relativamente estáveis”. Nesses agrupamentos, esses indivíduos tentam superar a “pouca funcionalidade das suas línguas maternas” usando como base para essa nova forma de comunicação a “língua socialmente dominante”, para “constituir uma forma de linguagem veicular simples” e eficaz. O resultado dessas interações será ampliado e “gramaticalmente complexificado” pelas gerações seguintes que o usarão como língua materna.

Impacto da população no idioma 

Essa mistura linguística também está conectada com o aspecto multicultural da população da Guiana Francesa. Antes da chegada dos europeus naquela região sul-americana, o território era habitado por povos nativos. Depois, foram trazidos escravos, centenas de prisioneiros franceses, e mais recentemente chegaram trabalhadores da Asia, Brasil, Haiti, entre outros. 

Essas comunidades trouxeram consigo suas línguas, que acabaram influenciando o crioulo da Guiana Francesa ou criando bolsões com falantes de outros idiomas. Por exemplo, grupos de escravos que conseguiram escapar naquela região, fundaram acampamentos independentes. Muitas vezes, nesses locais eram faladas línguas diferentes. Hoje, a Guiana Francesa tem idiomas crioulos Maroons (em referência àqueles escravos africanos) como aluku, ndyuka, paramaccan e saramaka.

Comunidades imigrantes 

Além da influência de populações mais antigas nos idiomas locais da Guiana Francesa, a chegada recente de imigrantes trouxe ao território mais línguas estrangeiras. Segundo a Enciclopédia Britânica, 8% dos habitantes dessa região da França têm descendência haitiana, 8% francesa, 6% surinamesa, 5% chinesa e 5% brasileira. Logo, os idiomas nativos desses imigrantes (e de seus descendentes) estão muito presentes na Guiana Francesa.

A maior parte da população do território vive na região costeira e na capital, Caiena, sendo que o interior é pouco habitado. O Itamaraty, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil, estima em cerca de 73 mil o número de brasileiros vivendo na Guiana Francesa. Essa é uma das proporções mais elevadas de cidadãos brasileiros residindo em outro país sul-americano. 

Os brasileiros na Guiana Francesa representam quase um quarto dos habitantes do território! Ou seja, apesar de não ser oficial, o uso do português tem se tornado cada vez mais comum nessa parte da França – em especial nas áreas que fazem fronteira com o Brasil. E esse fato também ocorre com outros idiomas em comunidades de imigrantes.

 

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Gabriel B.
Gabriel Bonis é jornalista, especialista em Direito Internacional para Refugiados e mestre em Relações Internacionais pela Queen Mary University of London. Ele passa a maior parte do seu tempo escrevendo sobre direitos humanos, ajudando refugiados a lidar com seus processos de asilo e estudando alguma língua nova. Atualmente, vive em Berlim. Siga-o no Twitter (@gbonis).
Gabriel Bonis é jornalista, especialista em Direito Internacional para Refugiados e mestre em Relações Internacionais pela Queen Mary University of London. Ele passa a maior parte do seu tempo escrevendo sobre direitos humanos, ajudando refugiados a lidar com seus processos de asilo e estudando alguma língua nova. Atualmente, vive em Berlim. Siga-o no Twitter (@gbonis).

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