Ilustrado por Victoria Fernandez
A palavra hygge começou a aparecer discretamente no mural do meu Facebook, entre vários artigos de jornais e revistas sobre uma proclamada “tendência nórdica”. Dentro desse tópico, existe de tudo: desde comentários sobre o minimalismo dinamarquês a como receber convidados em casa ao melhor estilo hygge. Fiquei curiosa para saber o que, afinal, essa palavrinha tem de tão especial.
Aqui na Babbel chegamos até a receber alguns pedidos de entrevistas para explicar, sob o ponto de vista linguístico, o que significa hygge. Birte Dreier, nossa especialista em dinamarquês, falou sobre isso para a revista Glamour.
Então o que significa a palavra hygge?
De acordo com o livro O Livro do Hygge – O Segredo Dinamarquês Para Ser Feliz, a palavra tem sua origem na Noruega, que fez parte do reino dinamarquês entre 1397 e 1814. Ao longo da história, apesar da separação política entre os dois países, a palavra norueguesa permaneceu no vocabulário dinamarquês.
Para saber um pouco mais da história etimológica: hygge, em norueguês, significa “bem-estar”, no entanto, a palavra pode ter tido sua origem em “hug” que significa “abraçar, incluir”. O sentido de hygge em dinamarquês engloba tanto o significado de bem-estar físico quanto o emocional, de estar junto com as pessoas que amamos e em um ambiente aconchegante. No final, hygge não descreve apenas um sentimento, é uma daquelas palavras intraduzíveis que exprime mais de um conceito.
Portanto, hygge é um lugar aconchegante onde todos se sentem seguros, confortáveis, e cercados por pessoas que amam. Isso pode ser traduzido como uma tarde chuvosa no inverno, debaixo de cobertores, ou um dia ensolarado com amigos, em uma casa gostosa com piscina. Dependendo de onde você vive, hygge tem diferentes cenários. Para os dinamarqueses, essa palavra está muito mais associada a elementos como velas, meias de lã e chocolate quente, uma vez que o inverno lá é rigoroso e a estação mais hygge é o outono. Já na Holanda, onde eles também possuem a sua própria versão da palavra, Gezzeligheid, que é mais associada a atividades externas e sociais preferencialmente no verão, a estação mais gezzelig para os holandeses.
Os alemães também têm um substantivo para expressar hygge –Gemütlichkeit–, algo que seria traduzido diretamente como “aconchego”, mas que na verdade abrange muito mais e significa um sentimento caloroso de conforto, de estar junto e numa atmosfera amigável e de camaradagem.
Para não dizer que não falei das flores: em inglês, hominess, no Canadá, alude ao sentido de hygge e ainda se refere a tudo que pode lembrar o nosso lar.
Ikigai, o sentido da vida de acordo com os japoneses
Depois de hygge, me deparei com outra palavra intrigante e que se encaixa perfeitamente nessa discussão: Ikigai.
De origem japonesa, Ikigai é uma palavra conceito que exprime “a razão de viver”. Diferentemente de hygge, que expressa um momento, Ikigai, apesar de englobar esses momentos, tem um sentido muito mais amplo: é a palavra que se refere às ações que dão sentido à vida, e que nos trazem felicidade ao longo dela.
Essa palavra também originou um livro o Ikigai: The Secret For a Happy Long Life, em que a dupla de autores Héctor Garcia e Francesc Miralles investigam o segredo da longevidade na ilha de Okinawa, e apresentam aos leitores algumas formas deles mesmos acharem seu próprio Ikigai.
De acordo com Garcia, em entrevista ao The Kitchn, “Ikigai pode ser traduzido como “a razão de ser” – a coisa que faz com que você levante da cama toda manhã. Achar o seu Ikigai parece ser crucial para a longevidade e uma vida cheia de sentido. As pessoas no Japão continuam fazendo o que elas amam, o que elas são boas em fazer, e fazem o que o mundo precisa mesmo depois de pararem de trabalhar.” (tradução livre)
No final, Ikigai tem muito mais a ver com um processo do que com um fim em si. Fazer algo bem, da melhor forma que você puder, pode dar mais sentido à sua vida.
Será que ter muitos momentos hygge nos leva a encontrar o nosso Ikigai? Ou será que ter o nosso Ikigai nos leva a viver momentos Hygge?
Fica o questionamento, e uma pequena amostra dessas filosofias, tão distantes quanto complementares.