Guia de introdução à língua japonesa

O japonês é um idioma muito atraente — e, ao mesmo tempo, bastante assustador. Essa sua fama de complicado, porém, acaba fazendo com que os clichês se perpetuem. É por isso que convidamos você a aprender um pouco mais sobre esse idioma tão incrível com o nosso guia de introdução à língua japonesa.
língua japonesa

Em japonês, o Japão é chamado de 日本 (Nihon). É daí que vem o adjetivo nipônico. No entanto, costumamos nos referir ao país usando o nome Japão — ou a expressão “Terra do sol nascente”, que é mais ou menos a tradução literal do que 日本 significa em japonês.  Um disco vermelho sobre um fundo branco. Os símbolos vão além das palavras e do idioma e também são expressos por meio da bandeira. O Japão é um país rodeado de mistérios. E entre os enigmas mais encantadores do arquipélago está ela — a língua japonesa.

Mas, antes de começar, de onde será que vem a palavra Japão, usada não só em português, mas em tantos outros idiomas? Quando os navegadores portugueses chegaram ao Extremo Oriente, ouviram dos mandarins a forma como estes se referiam ao arquipélago japonês:  “Jipangu”, nome que acabou por se transformar em Japão.

Apesar de não disfrutar da mesma preferência que o inglês e o espanhol por parte de quem deseja aprender um novo idioma, o japonês é uma língua que sempre fascinou as pessoas. Ano após ano, a língua de Mishima continua a brilhar nos arredores do monte Fuji. No artigo a seguir, convidamos você a aprender um pouco mais sobre esse país e esse idioma tão fascinantes.

A história da língua japonesa do período Yamato até a era do Cool Japan

Por volta de 250, uma primeira dinastia foi estabelecida na província de Yamato, onde atualmente se localiza a prefeitura de Nara. Foi neste lugar, hoje em dia marcado pela alternância entre edifícios modernos e templos antigos, que teve início a longa evolução da língua japonesa. Existem poucos registros escritos anteriores a essa era. Durante vários séculos, a língua japonesa existiu apenas de forma oral. Foram os monges budistas da China que trouxeram seu sistema gráfico ao arquipélago. No século 8, na era Nara, os japoneses começaram a usar ideogramas chineses. Ao longo do tempo, outras escritas foram desenvolvidas e acabaram por formar esse sistema composto que o Japão continua usando até o presente.

A língua japonesa foi realmente formalizada somente no período Edo, entre os séculos XVII e XVIII. Cada nova era trouxe consigo mudanças culturais e linguísticas. No início do século 20, a era Meiji, sinônimo de progresso e modernização do país, padronizou o idioma usando como base a forma de falar de Tóquio. Em 1903, o governo japonês publicou um manual oficial da língua japonesa para escolas.

Essa abordagem guarda muitas semelhanças com a padronização do italiano com base no dialeto florentino — e com a adoção da variante parisiense em toda a França após a Revolução Francesa.

Cool Japan: Tóquio na era kawaii

Separar o fascínio pela língua japonesa do fascínio pela cultura daquele país é praticamente impossível. J-Pop, mangás, animês, videogames, sushi, saquê: chamada de Cool Japan, essa potência cultural que o país representa pode assumir as mais diversas formas. Do Pikachu à Hello Kitty, das caixas de bentô aos quimonos, a cultura kawaii (か わ い い), “fofo” em português, foi exportada para todo o planeta. Inclusive para o Brasil.

Apesar de sua tendência isolacionista histórica, o Japão tem relações bastante fortes com nosso país. Para comprovar tal fato, basta analisar a quantidade de imigrantes japoneses que se estabeleceram no Brasil a partir do início do século XX. E a quantidade de brasileiros que vivem no Japão. O Japão tem a terceira maior comunidade brasileira no exterior: são cerca de 200 mil brasileiros morando no arquipélago atualmente.

Onde o japonês é falado?

A língua japonesa conta com cerca de 130 milhões de falantes ao redor do globo. A imensa maioria desses falantes está no Japão — mas o idioma também pode ser ouvido em lugares como a Califórnia e o Havaí, nos Estados Unidos (embora o uso da língua tenda a desaparecer nesses lugares). Mais de 3.000 quilômetros ao sul de Honshū, uma pequena ilha do Pacífico outrora ocupada pelo Japão continua a reconhecer o japonês como idioma oficial. Trata-se de Angaur, ilha que, com pouco mais de 100 habitantes (e uma área equivalente à da cidade de Curitiba), constitui um dos 16 estados de Palau. Se bem que, para falar a verdade, o japonês está em perigo de extinção por lá.

Hiragana, katakana e kanji: as três escritas da língua japonesa

A escrita do japonês é baseada em vários caracteres:

  • os hiragana;
  • os katakana;
  • os kanji.

Aprender os silabários hiragana e katakana (com um total de 100 caracteres) requer mais ou menos o mesmo tempo que aprender o alfabeto cirílico. Semelhante ao sistema de letras latinas, o hiragana é formado por sinais fonéticos usados na escrita de palavras japonesas. Os caracteres katakana, por sua vez, são reservados para palavras de origem estrangeira (exceto chinesa). Quanto aos kanji, eles são uma herança da língua chinesa. Cada caracter tem um som e um significado próprio. Em japonês, há cerca de 50.000 desses caracteres. No entanto, “apenas” 2.000 deles são usados no cotidiano. Inclusive existe uma lista oficial desses “kanji de uso comum”, chamada jōyō kanji. Resumindo: esses três sistemas gráficos coexistem e são usados simultaneamente. Não raro encontramos as três escrituras em uma única frase.

Os idiomas japonês e chinês são da mesma família? Não! O legado do kanji é meramente histórico. A genética linguística, por assim dizer, é outra. O mandarim é um idioma sino-tibetano, relacionado às línguas chinesas. O japonês é um idioma isolado. Ou, melhor dito, é um idioma que constitui uma família isolada. A teoria das línguas altaicas, que tenta agrupar os idiomas japonês, turco, mongol e coreano, ainda é polêmica.

Japonês: um idioma complexo… ou simplesmente pouco conhecido?

Chinês, russo, árabe… No Ocidente, as línguas orientais costumam ser classificadas como difíceis, exóticas e distantes dos padrões de pensamento difundidos deste lado do globo.  Mas será que a língua japonesa é mesmo tão difícil de ser aprendida? Ou será que ela é apenas pouco conhecida?

Além de uma escrita e de um vocabulário que pouco têm em comum com os idiomas indo-europeus, o japonês usa uma estrutura para formar frases pouco frequente no Ocidente. Trata-se da estrutura SOV (sujeito-verbo-objeto). Ou seja, em vez de “eu leio o livro”, no Japão as pessoas dizem “eu o livro leio”. Apesar de essa estrutura soar um pouco estranha aos nossos ouvidos, a verdade é que ela está presente em vários idiomas:  turco, persa, basco e latim são outros exemplos de línguas SOV. Em japonês, assim como em português, o sujeito muitas vezes é omitido de uma frase, sobretudo quando pode ser deduzido a partir do contexto. Por essa razão, não é incomum encontrar frases com uma estrutura simplificada (OV).

SOV, SVO, VSO… Além das línguas SOV e SVO, que, juntas, constituem três quartos dos idiomas falados do mundo, existem outras combinações possíveis:

  • línguas VSO, verbo-sujeito-objeto (“leio eu o livro”), como o árabe e o gaélico irlandês;
  • línguas VOS, verbo-objeto-sujeito (“leio o livro eu”), como o malgaxe;
  • línguas OVS, objeto-verbo-sujeito (“o livro leio eu”), como certas línguas ameríndias;
  • línguas OSV, objeto-sujeito-verbo (“o livro eu leio”), muito mais raras… não fosse pelo jeito de falar tão característico de Yoda, em Guerra nas Estrelas!

Existem, porém, outras particularidades da língua japonesa que são uma boa notícia para quem decidir aprender o idioma:

  • em japonês não há plural;
  • em japonês não há artigos (nem definidos nem indefinidos).

Além disso, em japonês os meses do ano não são designados por palavras, como janeiro, fevereiro, março, etc. Em vez disso, associa-se o kanji 月 (lua e, indiretamente, mês) ao número do mês.

Japonês pode ser fácil para uma pessoa — e difícil para outra. Mas isso acontece com todos os idiomas. O importante é não perder a motivação caso você decida encarar o desafio de aprender essa língua tão incrível.

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