Navegando entre idiomas e diferenças culturais no ambiente de trabalho

Uma linguista especializada em comunicação intercultural oferece alguns conselhos práticos sobre como colaborar com colegas de forma mais eficaz em locais de trabalho globalizados, onde as diferenças culturais são marcantes.
diferenças culturais

Para quem trabalha em uma empresa internacional com colegas de outras culturas e idiomas, algumas habilidades interculturais básicas podem melhorar a comunicação e a produtividade. Em alguns casos, em um ambiente internacional com colegas de diversos países, hábitos e traços culturais variados podem causar um choque cultural e afetar as relações profissionais no ambiente de trabalho. Mas não precisa ser assim! Neste artigo, vamos além das velhas dicas para aprendizagem da gramática e do vocabulário. Aqui você descobre cinco maneiras de se comunicar com mais eficácia em um local de trabalho multicultural, e tornar a convivência do dia-a-dia com seus colegas de trabalho muito mais agradável!

Fazer um pedido com educação: a relação entre língua e diferenças culturais

Can you…? (Você pode…) ou Could you please…<? (Você poderia, por favor…?)

Provavelmente, você aprendeu a fazer pedidos assim nas aulas de inglês, não é mesmo? No entanto, na vida real, sua habilidade de formar frases gramaticalmente corretas em inglês não será suficiente. Falantes não nativos de inglês precisam avaliar as consequências de escolher entre Can you send me that file? (Você pode me enviar aquele documento?), Could you please send me that file? (Você poderia me enviar aquele documento por favor?) ou simplesmente Send me that file (Envie-me aquele documento).

Minha experiência ensinando inglês como língua estrangeira a pessoas de negócios me mostrou que há coisas mais importantes do que aprender a gramática do inglês perfeitamente. Embora aprender novas estruturas gramaticais, vocabulário e fazer vários exercícios sejam passos necessários para adquirir um novo idioma, desenvolver estratégias comunicativas para ter sucesso na comunicação, superando as diferenças culturais, pode ser igualmente desafiante. Saber formar uma frase no imperativo em inglês é importante, mas saber as consequência sociais de usar o imperativo em interações sociais é crucial. 

O que pode soar como um pedido direto também pode ser percebido como uma grosseria, dependendo do uso do imperativo, da ordem das palavras e da flexão. Por exemplo, em alguns contextos comunicativos no Brasil, o uso do imperativo em pedidos é bastante comum. A pessoa que está falando só precisa usar certa entonação para deixar claro para o ouvinte que ela está fazendo um pedido educadamente e não dando uma ordem. Isso significa que, se você precisa que um colega lhe envie um documento, por exemplo, é aceitável perguntar: “Me manda (mande) o documento?”. –  Essa frase funciona bem e alcança o que deseja alcançar, isto é, seu colega provavelmente lhe enviará o documento solicitado e não questionará o seu comportamento. 

Descubra mais neste artigo (em inglês) sobre as falhas na comunicação intercultural entre brasileiros e americanos.

Contudo, um problema comum é que quem está aprendendo um idioma costuma transferir as regras da língua materna para o novo idioma. Portanto, brasileiros aprendendo inglês têm a tendência de transferir as regras do português ao falar com colegas não brasileiros: Hey, buddy, send me the file? (Ei, parceiro, me envie o documento?). E é justamente aí que os contrastes das diferenças culturais podem ficar mais contundentes, e começarem a causar falhas na comunicação e desentendimentos. Quando isso soa mal-educado, as consequências podem ser desastrosas.

Veja como os cursos da Babbel, além de simplesmente possibilitarem o aprendizado de um novo idioma, vão além e promovem a integração de pessoas de diferentes países, mesmo com todas suas diferenças culturais.

Du ou Sie?

  • Os pronomes pessoais são outro caso complicado para quem está aprendendo um idioma por causa da gramática e das regras sociais implícitas de (in)formalidade. O pronome pessoal de segunda pessoa tem diferentes manifestações em diferentes idiomas. Se, por exemplo, você estiver aprendendo alemão como segunda língua – e se sua primeira língua só tiver um pronome para a segunda pessoa – você provavelmente terá dificuldades para escolher entre o informal du e o formal Sie durante certas interações no trabalho. Isso é especialmente desafiador se você não tiver muito tempo para refletir e tiver que fazer uma escolha rápida entre os pronomes. De acordo com a Lei de Murphy, você provavelmente fará a escolha errada. 
  • O lado bom, pode-se pensar, é que você aprenderá com seus erros e fará a escolha correta na próxima vez. Contudo, a vida muitas vezes mostra que esse nem sempre é o caso. As regras gramaticais e pragmáticas que você aprendeu no seu idioma nativo têm um impacto duradouro na sua maneira de falar. Se você nunca tiver feito a distinção entre dois tipos de pronomes pessoais de segunda pessoa nos primeiros, vamos dizer, 18 anos da sua vida, você não aprenderá a fazer isso após uma única aula no seu curso de idioma ou após uma única interação social. Para isso, você precisa de muita prática e também precisa ter a mente aberta. E um pouco de paciência por parte dos seus interlocutores também ajuda, é claro.

Mente aberta para evitar julgamentos prematuros

  • Ter a mente aberta implica ter disposição para ouvir novas ideias e levar em consideração outras perspectivas de forma justa. Se você trabalha em uma empresa internacional com um grupo diverso de colegas, você certamente já tem um certo grau de tolerância com relação àquilo que é diferente. A questão se torna: Como usar essa qualidade para melhorar suas habilidades comunicativas em um local de trabalho internacional e diverso? A resposta é tentar identificar os objetivos reais dos seus colegas em cada interação e também entender que esses objetivos podem ser considerados de forma bem diferente de acordo com a cultura deles. 
  • Vamos discutir o exemplo de uma reunião de negócios, nas quais você tipicamente precisa lidar com uma série de tarefas ou itens de ação. Em certas culturas, a “orientação para tarefa” pode ser mais importante do que a necessidade de reforçar laços pessoais; já em outras culturas, estabelecer um ambiente social positivo é o primeiro passo para ganhar a confiança necessária para progredir com a negociação. Prestar atenção nessas questões ajuda a combater julgamentos prematuros como “fulano é grosso” ou “fulana não está levando as coisas a sério”. Esses mal-entendidos geralmente não são abordados, causando um efeito bola de neve que pode resultar em consequências concretas, possivelmente até no término abrupto das negociações. Para evitar isso, é sempre aconselhável equilibrar objetivos relacionados à interação com um conhecimento atualizado sobre diferentes culturas. Esse conhecimento é importante para desenvolver “competência intercultural”.

Quer melhorar sua performance em comunicações interculturais? Temos 5 dicas para você:

1. Leia sobre o assunto

Leia sobre as culturas com as quais você está lidando. Porém, sempre tenha bastante cuidado ao selecionar os materiais. Há muitos artigos e livros que não ajudam em nada; pelo contrário, eles apenas reforçam estereótipos culturais nocivos. Sobre a cultura de negócios alemã, por exemplo, posso recomendar o livro de Schroll-Machl, Doing Business with Germans (“Fazendo Negócios com os Alemães”, em tradução literal). Uma ótima leitura não somente para não-alemães, como também para alemães que querem descobrir com seu comportamento costuma ser interpretado pelos outros.

2. Ouça com atenção

Ouvir é uma habilidade subestimada no mundo atual, onde a fala é aquela que recebe mais atenção. Você precisa de bastante concentração e prática para entender as falas de colegas como uma contribuição importante e significativa à interação que está ocorrendo. Portanto, como ouvinte, você precisa fazer um esforço para ir além do processamento acústico das palavras, interpretando-as à luz das diferenças culturais e outras indicações do contexto que você notar.

3. Preste bastante atenção à comunicação não verbal

Preste atenção a pistas não verbais, como postura, entonação e contato visual. Observe como seu colega de negócios conduz interações com pessoas da mesma cultura. Isso ajuda a entender o que essas pistas significam.

4. Evite as armadilhas do “senso comum”

Ainda que uma mensagem ou certa informação possam parecer óbvias para você, evite considerá-las “senso comum”. Há muitas maneiras de interpretar o mesmo conteúdo que você acabou de receber… Por isso, solicite explicações e confirmações com frequência. Faça perguntas para se certificar de que seus colegas entendem o que você está dizendo. 

5. Aprenda sobre sua própria cultura

Ter exposição a culturas que contrastam com a sua, e às diversas nuances de diferenças culturais em alguns aspectos costuma aumentar a consciência sobre seus próprios valores culturais e como estes são percebidos por outras pessoas. Explore esse estado mental reflexivo e questione o que, provavelmente, antes você considerava ser “o jeito como as coisas são”. Ainda que seja inquietante perceber que diversas das suas crenças não são (de forma alguma!) verdades absolutas, esse reconhecimento pode levar a mais tolerância e à aceitação de outros valores, os quais, assim como os seus valores, são frequentemente o resultado de forças históricas e sociais.

E então, quando uma colega lhe der um feedback crítico de forma direta e sem fazer rodeios, você provavelmente perceberá que suas ideias sobre a “boa educação” não se aplicam em todos os lugares – e poderá aceitar o feedback sem se sentir ofendido.

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