“Porquinha triste”: como uma frase estúpida em polonês me ajudou a fechar um negócio

Como um idioma pode ajudar você a se conectar com parceiros de negócios? Joriam explica como com apenas 1 palavra ele conseguiu fechar uma parceria.

Tínhamos sido apresentados por um amigo em comum: a empresa dele vendia exatamente o que a minha oferecia, o business seria certeiro. A gente sentou para conversar numa sala da Factory Berlin.

Eu sou da “escola do papo”. Para mim, ir direto ao ponto é muito mecânico, maquinário, desumano. Perguntei sobre a vida dele. Ele me disse que era polonês —bingo! Puxei um coringa tão caleidoscópico da minha manga que ele não tinha como não se interessar: “Há dois meses eu me casei com uma polonesa numa microilhazinha na Dinamarca”.

Meu ofício envolve palavras e, acima de tudo, a reação emocional causada por elas. Eu sabia que essa informação seria percebida de maneira bem visual – difícil evitar um sorrisinho e perguntar mais a respeito. Dito e feito!

Daí puxei minha verdadeira carta secreta: Smutna Świnka (que soa mais ou menos como “Ssmutna Xfinka”).

A sobrancelha dele foi para cima, depois para baixo, e daí ele riu alto. Esse é o poder da escola do papo. Hoje não apenas faço negócios com esse cara, mas a gente também sai para tomar cerveja: não aquela cerveja profissional de quinta à noite, mas aquela de sábado, destinada aos amigos.

Mas, afinal, o que quer dizer essa combinação misteriosa de duas palavras? Quais são suas propriedades mágicas? Bom, a verdadeira tradução de Smutna Świnka é: “porquinha triste”.

Não foi a primeira vez que usei essa pequena expressão. Ela já me ajudou a fechar dois negócios com clientes distintos, já me garantiu ingressos grátis para shows e me ajudou em várias outras situações.

Como?

O poder do inusitado

Você provavelmente já passou pela situação de conhecer um(a) gringo(a), certo? Em geral, as pessoas estrangeiras (e isso inclui você, eu e todo mundo) recorrem a algumas palavras e expressões do país de seu interlocutor para quebrar o gelo: “obrigado, tudo bem, caipirinha”.

Essa é a forma do bolo, o clichê. Não estou pedindo para nenhum turista recitar as primeiras quatro estrofes de Morte e Vida Severina (na verdade, acho “obrigado” um lindo ponto de partida no português). Só estou dizendo que essas são as palavras que nunca vão franzir sua testa.

Mas, no dia que um norueguês confrontar você com um “sou eu, o Tiririca”, com um “miojo com requeijão” ou com “três doses de cachaça e uma patinete”, o jogo muda. Você nunca mais vai esquecer esse norueguês.

O memorável

Todo empreendedor sabe que ser lembrado é um dom valioso — é a diferença abismal entre ser contatado no dia seguinte ou não. Claro, ninguém quer ser lembrado por algo embaraçoso; mas muita gente vai longe para ser lembrada por algo neutro. No melhor dos casos: alguma coisa que você disse ou fez vai realmente despertar a atenção dos seus futuros clientes e parceiros.

No mundo dos negócios europeu, conhecer três palavras na língua do seu interlocutor em geral não é um bom caminho para que as pessoas se lembrem de você. Além de o mercado de trabalho ser muito fluido entre dos países da União Europeia, as confusas histórias de desenvolvimento de cada cultura muitas vezes misturam idiomas que, no Brasil, seria difícil entender. Você pode ser uma francesa que foi criada em alemão ou um estoniano educado em russo. No fim das contas, muita gente já ouviu muitas línguas, o bom e velho “obrigado—tudo bem—caipirinha” é ainda mais sem sal.

Mas saber uma frasezinha estranha tem justamente o poder de romper qualquer expectativa. Principalmente em um idioma menos conhecido ou mais difícil, como é o caso do polonês, do sueco, do basco… Essas línguas (e, na maioria dos casos, suas respectivas culturas) não costumam ser celebradas. É por isso que, um interesse ligeiramente acima da média pode oferecer a você uma arma poderosa: a familiaridade.

A maioria dos grandes eventos de negócios seguem um modelo bem parecido: o famigerado networking é uma das partes mais odiadas pelos empresários, especialmente pelos mais bem-sucedidos. Claro, a maioria das pessoas não está ali para realmente se conectar com a realidade de um outro ser humano. Elas estão ali por interesse.

Qualquer nesga de familiaridade, de verdadeira conexão humana, é muito bem-vinda para quem precisa participar de mil eventos similares. Ainda mais quando ela vem de uma maneira quase personalizada, no idioma de quem ouve. Numa visão geral, talvez aquela língua não seja a mais valiosa; mas, para aquele sujeito, ela é de ouro!

É a agulha no palheiro que já me ajudou diversas vezes – e não apenas no caso do polonês! A quantidade de empreendedores que não são nipônicos mas que falam japonês fora do Japão é impressionante. Além disso, tenho na minha bagagem umas boas frases em dinamarquês, holandês, tailandês e coreano. Você nunca sabe quem vem pela frente! Em uma cidade internacional como Berlim (ou Nova York, Singapura etc.), você vai acabar esbarrando com o mundo inteiro.

QUAL IDIOMA VOCÊ QUER APRENDER?

Um brinde ao fora do comum

Assim sendo, aproveito esse espaço para promover e exaltar essa frase esquisitinha, uma expressão idiomática bisonha, referência cultural a uma música famosa dos anos 90. Evite palavrões e qualquer outra coisa que vá fazer você parecer um(a) estudante de quinta série. Você pode falar com um sotaque errado, desde que seja compreensível! O interessante é despertar uma risada verdadeira, e não mostrar algum tipo de maestria.

Uma possível estratégia seria decorar alguma frase totalmente inesperada da língua — e ninguém melhor que os falantes nativos para indicar a você o que seria interessante para todo mundo ouvir.

E, se essa primeira chama fizer seu interesse pegar fogo, recomendo que você dedique especial atenção às línguas menos amadas. Existem muitos negócios de ponte entre países que, bom, simplesmente ninguém consegue fazer. Como a demanda existe e o mercado é carente, em geral há bastante capital envolvido. Não estou falando de tradução, mas sim de escritórios de turismo no Brasil financiados pela Finlândia, de distribuidores de produtos tibetanos na Austrália, da formulação de políticas de cooperação entre Japão e México…

Alguém precisa fazer esse trava-línguas acontecer. Muitas vezes, os próprios governos criam estímulos para estrangeiros — o governo alemão, por exemplo, tem um site que ajuda na procura de cursos para quem quer morar no país.

E você?

Aproveitando esse espaço, eu adoraria saber suas histórias de conquista profissional usando outros idiomas — até mesmo aqueles que você não domina! Alguma expressão já salvou você numa reunião chata? Você já negociou preços de pneus em mandarim no Canadá?

Se eu tiver um número legal de respostas, adoraria criar um artigo contando justamente as anedotas empreendedoras dos nossos leitores. Sua história pode ajudar a mostrar para muita gente o valor de um idioma a mais no bolso.

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