Trabalhar fora do país: conheça seus clientes, invista em um idioma

Você quer abrir um negócio no exterior? Se prepare para lidar com diferentes públicos e clientes. Neste artigo, Joriam conta que além das burocracias, entender como o idioma afeta sua clientela faz a maior diferença.
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Ilustrado por Jana Walczyk

Morar no exterior, trabalhar fora do país: o sonho, a saga. No último texto, eu dividi algumas experiências sobre como aprendi a domar as estruturas (burocracias, vistos, contadores) fora do Brasil.

Mas uma peça essencial do jogo ficou de fora: o comprador. Audiência, público, gente. Esse é um relato pessoal e real de como eu estou aprendendo a lidar com os vários públicos da Europa e do mundo afora.

Jojo jogo

Um jogo em inglês… na Alemanha

Como vocês podem ver na foto acima, meu jogo foi criado 100% em inglês. Uma escolha que pode parecer um pouco estranha num primeiro momento, principalmente pelo fato da minha sede ser em Berlim.

Muita gente simplesmente assume que eu tenho a versão em alemão como opção B, mas a verdade é que eu não tenho. No momento em que eu estou, imprimir o jogo traduzido seria uma má decisão econômica. Mas… por quê?

O jeito como idiomas são tratados aqui na Europa é bem diferente do jeito brasileiro. Quase todo mundo fala mais de uma língua, independente do nível de instrução — é uma questão cultural diretamente ligada à proximidade das fronteiras e, infelizmente, a uma história colonizadora.

Assim, o inglês pareceu ser a melhor opção: até onde eu sei é a segunda língua mais falada do mundo. Meu jogo ganha novos horizontes e a diversificação de clientes é bem intensa. Por exemplo, meus (minhas) maiores fãs estão na Alemanha e Holanda, onde eu tenho uma rede intensa, e logo depois vem a Nova Zelândia! Meu país natal, o Brasil, está em sétimo.

Entender o peso de uma língua no contexto cultural em que eu estou inserido foi um fator chave para o lançamento. Desde o protótipo, já tive mais de 10 ofertas de tradução por pessoas de diversos cantos do mundo (incluindo possíveis traduções para tailandês e swahili! Que incrível!) e uma importante compreensão para o futuro — já que aqui as línguas são aplicadas em contextos específicos, a mesma pessoa que comprou a versão em inglês pode mais a frente comprar o exato mesmo jogo na sua língua materna.

Se alguém se divertir com os amigos em inglês, nada impede que essa pessoa compre a versão em francês ou hindi para dividir com a família, por exemplo.

Mesma Pergunta, Respostas Diferentes

Qualquer pessoa que lança um produto já espera que diferentes audiências vão apresentar diferentes reações. Isso é o básico! Mesmo assim, é incrível perceber como as fronteiras regionais deixam isso claro. 

Ali em cima eu estava comentando sobre os diferentes países que mais compram meu jogo. Deixa eu colocar isso em números!

Claro que tradução não é um problema quando eu considero países, como os Estados Unidos ou Canadá, mas aqui na Europa as taxas de rejeição são bem distintas de país para país. A taxa de rejeição pelo inglês na Alemanha, por exemplo, até agora foi cerca de 20-25% — bem baixa! Em outros países como França e Itália, ela sobe para 70-80%! Já em países com línguas menos difundidas, as pessoas tendem a estar mais acostumadas a não achar jogos em sua língua materna: minha taxa de rejeição pelo inglês na Holanda é de cerca de 5%.

Por mais que esses números sejam só o começo de uma jornada de línguas, eles já começam a me apontar as direções futuras: vários países (como o Brasil) são bem apegados às suas línguas maternas! Se aqui em Berlim é normal ver um grupo composto 100% de alemães jogando um jogo em inglês, na Espanha isso seria um pouco mais estranho!

No Centro do Mundo

Eu sempre fui fascinado por mapas que não apresentam o mundo da forma que nos acostumaram . Eles me oferecem um outro jeito de olhar para a história, colocando outros agentes em primeiro plano.

Mas a verdade é que, por mais que o mundo seja bem diferente ou tenha mudado bastante, nós ainda estamos sentindo os impactos de revoluções passadas. O centro do mapa-múndi ainda é a Europa (mesmo que as distâncias tenham que ser esticadas para tal fim) e isso tem um impacto forte no inconsciente coletivo e, por consequência, na quantidade de atenção que chega lá.

Vindo de uma grande cidade — Rio de Janeiro, com mais que o dobro da população de Berlim — nunca esperei que essa lógica de centro do mundo fosse ter tanto impacto. Grande erro.

Eu achava que todas as cidades do mundo estavam num cabo de guerra pela atenção de grandes talentos: convidando bandas, chamando palestrantes, recrutando cientistas etc. Estando na Alemanha, eu descobri que os talentos é que escolhem vir para cá.

Outro dia eu estava num pequeno evento da indústria de jogos, devia ter umas 35 pessoas. Em certo ponto eu me toquei que estava conversando com o recrutador da Ubisoft (empresa de superfranquias de jogos como FarCry e Assisin’s Creed) e um desenvolvedor da King (empresa do famigerado Candy Crush). Dentro do meu contexto, foi como entrar num bar e esbarrar com o Dali e o Tesla.

Para ter acesso a esse nível de gigantes da indústria no Brasil, eu teria que ser VIP nos maiores eventos do ano. Aqui na Alemanha, eu casualmente esbarro com eles no almoço.

É uma competição injusta.

Grandes eventos como Tech Open Air e Ars Electronica reúnem nomes pesados da inovação mundial e são quase integralmente conduzidos em inglês e não alemão — mais uma prova da internacionalização do ambiente.

A diferença entre procurar e procurarem você já me abriu muitas portas. Pouco a pouco estou fazendo aliados nos quatro cantos do mundo. Tenho certeza de que quando lançar as inevitáveis traduções do meu jogo, não vou aterrissar em nenhum país me sentindo desamparado. As redes que eu consigo construir daqui vão mais longe do que eu podia imaginar no início.

Em Progresso

Esses aprendizados não vieram de uma pesquisa fechada: eles fazem parte de uma jornada em processo na minha vida. Quem sabe quais serão os próximos passos e as próximas pedras no meu caminho?

Espero ter iluminado pelo menos um pouquinho o caminho de quem pensa em uma aventura parecida.

Quem sabe mais a frente não rola uma parte 3?

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