Vocabulário feminista: o que saber para se empoderar
Confira um pequeno glossário de palavras usadas no inglês para se referir a alguns comportamentos machistas.
Violência contra mulher, enraizada em séculos de dominação masculina, é uma das violações de direitos humanos mais persistentes e devastadoras. Por isso, o aplicativo de idiomas Babbel, que é considerada uma das empresas de educação mais inovadoras do mundo, em parceria com o Movimento #MeToo Brasil e o Instituto Maria da Penha, decidiram focar em uma das muitas formas de violência contra mulher: a violência verbal. Nesta página, você entenderá como a consciência linguística é importante para reduzir agressões que começam em palavras.
Em todo o mundo, frequentemente a primeira agressão chega em forma de linguagem. Ao reconhecer este fato, é possível aumentar a consciência social sobre a questão e, consequentemente, contribuir para menos violência. A linguagem desempenha um papel importante nos esforços de avançar em direção a um lugar onde a violência contra as mulheres não seja mais considerada inevitável”, afirma __Jennifer Dorman, especialista em sociolingüística do aplicativo de idiomas Babbel.
A violência verbal pode causar traumas emocionais, tanto no alvo de quem as profere quanto em testemunhas da mensagem degradante. Ela pode ajudar a disseminar preconceitos, como machismo, rejeição, como a misoginia, e atitudes agressivas, chegando até ao feminicídio. Outra razão pela qual a violência verbal é tão perigosa é o fato de que, mesmo quando não é dita diretamente, ela tem o poder de influenciar percepções negativas e distorcidas de uma mulher específica ou do gênero feminino em geral. Exemplos de frases machistas que geralmente não são ditas diretamente à vítima: “Essa aí é que nem corrimão – todos já passaram a mão”. “Aquilo é mulher de malandro”.
Desde os tempos de Joana d'Arc, mulheres que não aceitavam os papéis sociais impostos a elas eram consideradas bruxas. Hoje, a palavra geralmente é utilizada para se referir a mulheres fora do padrão estético e que não tentam agradar. Os alvos desse adjetivo-substantivo frequentemente são mulheres mais velhas (como se envelhecimento feminino fosse especialmente maléfico), solteiras e conectadas a um modo de viver que não reduz a mulher à posição de mãe ou esposa.
Esta afirmação significa que mulher que se preze tem de se portar e se vestir de uma certa maneira para ser respeitada por homens. Caso contrário, ela corre o risco de ser considerada vulgar e não digna de respeito – o que acaba justificando assédios e até estupros. “A frase é muito usada para tentar transferir a culpa de ações como essas, inclusive as criminosas, minimizando a responsabilidade de quem realmente cometeu a agressão. É bom lembrar que essa cultura de culpabilização da mulher é tão forte que também é reproduzida por mulheres”, diz Camila Rocha Irmer, linguista da Babbel.
A histeria foi uma doença erroneamente associada às mulheres e estudada pelos homens. Na Grécia Antiga, Hipócrates, um dos pais da medicina, acreditava que o útero, quando “frustrado” ou “não utilizado”, vagava pelo corpo. O órgão errante era o culpado por sintomas como irritação, palpitações e ansiedade. Esses sintomas foram chamados de “histeria”, do grego Hystéra, que significa ventre. Os romanos acreditavam que a histeria estava relacionada à falta de sexo. Na Idade Média, os padres associavam a histeria à possessão demoníaca. Nesse contexto, vale se perguntar qual é o impacto do machismo em transtornos mentais femininos.
Piriguete é outro termo pejorativo para se referir à mulher que faz e veste o que quer sem se importar com a opinião das outras pessoas. Ao invés de ser vista como uma mulher que constrói sua identidade a partir da liberdade de seu desejo, ela acaba ganhando o rótulo de vulgar, promíscua. Já o homem com a mesma atitude é visto positivamente como “pegador”, “garanhão”.
São aquelas que praticam a violência psicológica ao se passar por expressões de amor. Na realidade, elas revelam a intenção de ter controle sobre a mulher:
“Você é minha e de mais ninguém”,
“Se você não ficar comigo, não ficará com mais ninguém”,
“Você não vai sair vestida assim”.
Mulheres em um relacionamento abusivo têm dificuldade para se libertar porque o agressor as humilha a ponto de destruir sua força e a auto-estima necessárias para deixar o relacionamento:
“Ninguém vai acreditar em você”
"Não presta nem pra cozinhar"
"Mal sabe lavar uma roupa direito", "Você não tem amigos, todos falam mal de você".
Nesses casos, a responsabilidade pela violência sofrida é implicada à mulher, absolvendo o agressor ou minimizando sua culpa.
“Aquilo é mulher de malandro mesmo”
“Foi ela que pediu”
“Mulher tem que se dar o respeito”
O medo de ser agredida ou até de morrer é um dos motivos pelos quais muitas mulheres permanecem em situação de abuso. Essas são algumas das violências verbais direcionadas a elas:
“Se você me deixar, eu me mato”
“Se você me deixar, eu te mato”
Confira um pequeno glossário de palavras usadas no inglês para se referir a alguns comportamentos machistas.
Linguistas da Babbel de diferentes nacionalidades analisaram 8 idiomas para descobrir como evoluem as línguas ao passo que as mulheres chegam ao poder.
Este artigo se concentra em línguas planejadas – mais especificamente nas línguas construídas por mulheres para mulheres.
Regina Célia é vice-presidente do Instituto Maria da Penha.
"Ataques como ´você não sabe o que diz´, ´você só fala besteira´ e ´cale a boca´ são manifestações de violência psicológica por meio de um discurso verbal que desqualifica e desvaloriza. Precisamos estar atentos à violência verbal porque ela tem o poder de aniquilar a auto-estima da mulher e causar depressão".