As eleições que decidiram o sucessor de Barack Obama deixaram os EUA mais divididos do que nos últimos 150 anos. E com a grande diversidade de culturas, valores e tradições que se misturaram em um caldeirão nos últimos 500 anos, não é de se admirar que não há exatamente um consenso sobre o que significa ser americano.
Então, o que os une, você me pergunta? Bom, eu acho que qualquer pessoa norte-americana concordaria que nós somos habilidosos em seguir essas dez “americanices”. Portanto, se você está planejando viver nos EUA e quer exalar simpatia, siga estas dicas e você, com certeza, vai se enturmar fácil – estando em Boston, Nova Iorque, Nashville, Dallas, Cheyenne ou São Francisco!
Americanizar – 10 coisas características (para esse processo)
1. A habilidade para uma conversa fiada
A pergunta “how are you?” faz parte do ato de cumprimentar qualquer pessoa nos Estados Unidos, inclusive os desconhecidos. Isso não é nenhum um pouco invasivo, uma vez que, assim como no Brasil, a pessoa não está interessada em saber com profundidade como anda a sua vida – claro, que isso varia com o grau de intimidade. A principal ideia é que a espontaneidade e a proximidade são, nos Estados Unidos, aspectos naturais em qualquer contato entre humanos. Não estranhe se o caixa do supermercado perguntar como você está ou desejar um bom dia para você. E mais: puxe papo com as pessoas sempre que quiser. Diferente de muitos países europeus, os americanos vão adorar!
Ah! Se você for bater um papo com um desconhecido, aposte nos assuntos universais de qualquer conversa fiada: tempo, esportes ou qualquer coisa que passou na TV no dia anterior. O melhor é evitar falar sobre política, religião ou salário, a não ser que você esteja entre amigos – e mesmo assim, olhe lá!.
2. A conquista de seu espaço com a voz
Não é que nós, americanos, falamos alto… É que, bom, a música do café talvez esteja alta demais, e então não podemos ouvir uns aos outros, ainda mais com o casal da mesa do lado, e…
O volume típico de um americano pode ser, para muitas pessoas um pouco chocante num primeiro momento – não para os brasileiros, que estão mais do que acostumados a ser literalmente forçados a ouvir sem querer conversas de desconhecidos em público, em restaurantes, esperando na fila.
Se você gosta de bisbilhotar desconhecidos ou acredita na boa e velha sabedoria das ruas, nos Estados Unidos você nunca vai ficar sem conversas aleatórias para se entreter.
3. Um dom para achar pechinchas
Nós, americanos, não ficamos satisfeitos com uma compra a não ser que tenhamos certeza de que o nosso dinheiro valeu. Então, se você for a um shopping americano, não apenas compre, mas procure por promoções. Não importa se você estava procurando um casaco de inverno – as bermudas estão com 50% de desconto essa semana, então você deve comprar duas!
A parte racional do seu cérebro vai ainda dizer que aquele hambúrguer no seu prato é simplesmente muito grande para o seu estômago, mas os neurônios caçadores de pechinchas vão gritar: “Olhe, se você não comer a coisa toda, vai ter jogado seu dinheiro no lixo”. Graças à existência da embalagem para viagem, você pode comer o resto no almoço amanhã. Dois pratos pelo preço de um? Ah, isso sim é um bom negócio!
4. A arte de dar gorjetas
As regras sobre o quanto você deixa de gorjeta – ou se deve dar gorjeta – para os garçons em um restaurante, café ou bar são diferentes em todos os países, mas nos Estados Unidos as regras de gorjeta podem ser um pouco confusas. Aqui vão algumas essenciais:
gorjetas no café
Deixe alguns trocados na jarra de gorjeta do balcão. Se o serviço foi especialmente rápido e as pessoas simpáticas, deixe 1 dólar.
gorjetas no restaurante
Quando você receber a conta – que virá em uma bandeja ou em uma pastinha – deixe o dinheiro ou o cartão de crédito para o garçom pegar. O garçom vai voltar com o seu troco. Neste momento, você calcula a gorjeta e a deixa na bandeja ou na pasta, ou escreve embaixo do recibo do cartão. 15% é considerado o mínimo para uma gorjeta adequada. Acima de 20% é generoso. Se você está se sentindo filantrópico, o céu é o limite.
Se você tiver que ir ao caixa para pagar – em muitos restaurantes é assim – deixe a gorjeta com o caixa ou dê diretamente para o garçom depois que você pagou a conta.
Nota: muitos restaurantes dos Estados Unidos assumem que estrangeiros não vão dar gorjetas e então eles adicionam uma taxa de gratificação para cobrir o que seria a gorjeta. Antes de seguir o conselho acima, certifique-se de que essa taxa já não está na sua conta.
gorjeta no bar
A regra geral é dar 1 dólar por bebida – especialmente se você pediu um coquetel chique que exigiu os clássicos quatro elementos e mais uma magia do além. Deixe o dólar no balcão do bar depois de pagar pelo seu drink.
5. Uma vocação para a cultura pop
Cultura pop é um dos grandes produtos de exportação dos Estados Unidos e uma enorme influência ao redor do mundo. É difícil não ser exposto a isso lá fora, uma vez que, salvo exceções, a maioria dos americanos comem, dormem e respiram cultura pop. Se existe algo que nos une culturalmente, é provavelmente os programas de TV e filmes a que assistimos, as fofocas das celebridades que lemos nas revistinhas mais podres, os top 40 hits que não param de tocar na rádio, os times dos esportes que seguimos religiosamente ou o oceano de memes na internet em que mergulhamos os nossos cérebros diariamente.
6. Dominando gírias locais
Dependendo em que parte do país você está, coisas familiares podem ter nomes estranhos. Por exemplo, formas de enfatizar um argumento:
- mad (Nova Iorque e arredores) – exemplo: “Last night’s party was mad fun. I wish we could go to Webster Hall every night!”
Tradução: “A festa de ontem foi uma loucura. Eu gostaria que nós pudéssemos ir ao Webster Hall toda noite!”
- wicked (New England) — exemplo: “This chowder is wicked good. Almost as good as my ma’s.”
Tradução: “Esta sopa é muito boa. Quase tão boa quanto a da minha mãe.”
- hella (Bay Area and Pacific Northwest) — exemplo: “I’m hella thirsty. I could drink hella soda right now!”
* hella pode significar muito ou bastante
Tradução: “Eu estou com morrendo de sede. Eu poderia beber muito refrigerante agora mesmo!”
Palavras para refrigerantes podem variar de região para região. Na maior parte do oeste e do norte, você pediria um pop para acompanhar a sua comida, no sudeste é soda e em muitas partes do sul você pode chamar de coke, mesmo se o “refri” em questão for Mountain Dew, Doctor Pepper ou Pepsi. E se você quer um tipo particular de sanduíche com a sua bebida – com muitos frios, queijo e verduras em um rolo recheado, conhecido no Brasil como wraps – o nome também pode variar dependendo de onde você estiver:
- hoagie (Filadélfia)
- hero (Nova Iorque)
- grinder (Nova Inglaterra)
- Italian (sandwich) (Maine)
- po’ boy (Nova Orleans)
- sub (marine sandwich) (em todo o país)
7. A arte de viver na correria
O ritmo de vida é muito mais lento em Mobile ou Alabala do que em Nova Iorque, mas não importa o quão rápido ou devagar, muitos americanos sempre estão para lá e para cá. Café e comida sempre podem ser pedidos para levar. Qualquer coisa: do seu jantar até os seus remédios (e, as vezes até bebida!) podem ser comprados da janela do seu carro. Coffee to go, hot yoga, restaurantes drive through… Aqui novamente: o céu é o limite.
8. A arte de cair na estrada
Os Estados Unidos são um país grande: 4,500 km separam Nova Iorque de Los Angeles, 1.500 km de Nova Orleans a Chicago, 5.300km de Seattle até Miami. Claro que você pode viajar de avião, mas o melhor jeito de conhecer a América é dirigir pelo país. Faça uma rota no mapa que cubra os lugares mais icônicos, encha o seu carro de amigos, e claro, leve petiscos!
9. A arte (e ciência) da invenção
Os Estados Unidos há tempos são o lugar onde ideias malucas têm sucesso. Para cada pessoa que lamenta que os tempos de ouro passaram, existem uns 100 visionários iconoclastas procurando pelo próximo grande negócio.
*** todas as coisas a seguir foram inventadas nos Estados Unidos***: chave inglesa, ponte de suspensão, geladeira, código morse, baseball, donut, pino de segurança, batatinha frita, aspirador, cartão postal, motocicleta, futebol americano, jeans, spork, teclado QWERTY, sintetizadores, lâmpada, fonógrafo, ventilador elétrico, células solares, arranha-céu, filme fotográfico, caneta esferográfica, detector de fumaça, roda gigante, bobina de Tesla, tampa de garrafa, zíper, basquete, vôlei, controle remoto, tachinha, aparelho de barbear descartável, urso de pelúcia, blues, jazz, semáforos, biscoito da sorte, torradeira, fluxograma, adesivos band-aid, esqui aquático, cheeseburguer, fita adesiva, foguete de combustível líquido, chiclete, óculos de sol, comida congelada, cookies de chocolate, guitarra elétrica, rock, rádio, telescópio, linguagem de programação, computador digital, fotocopiadora, caixa eletrônico, microondas, cartão de crédito, transistor, aeronave supersônica, video game, datação por radiocarbono, relógio atômico, maiô, airbag, código de barras, coração artificial, o disco rígido, fita cassete, laser, plástico bolha, circuito integrado, satélite de comunicação, mouse de computador, televisão de tela plana, snowboarding, CD, calculadora de mão, módulo lunar, PC, microprocessador, e-mail, GPS, ressonância magnética, celular, mensagem de voz, post it, câmera digital, hip hop, rap, ônibus espacial, internet…
10. Americanizar – O talento para ser individualista
Enquanto o país ainda tem um longo caminho pela frente, os Estados Unidos celebram a diversidade mais do que qualquer outro lugar na Terra. Nunca existiu uma “identidade nacional” única para nos conformarmos, mas sim uma mistura de muitas normas culturais se justapondo. Nadar contra a corrente está no nosso sangue, o que explica esta regra de “americanice” que simplesmente não tem regra: seja você mesmo.
Americanos celebram sua individualidade e a ostentam sem se desculpar. Portanto, quando você estiver nos Estados Unidos, você deve fazer o mesmo! Sorte sua que sotaques estrangeiros fazem a gente delirar. Isso por si só vai fazer de você o sucesso de qualquer festa!
Traduzido por Sarah Luisa Santos / Ilustração por Claudia Egholm Castrone
A linguagem tem um papel muito importante na discussão sobre o significado de americanizar. Leia mais sobre o inglês americano: