Há diversas formas de aprimorar o domínio de uma nova língua. Ouvir músicas, assistir à televisão, ir ao cinema e escrever naquele idioma são atividades importantes, mas livros para ler em inglês é a minha ferramenta favorita para melhorar minha compreensão e ainda aumentar meu vocabulário.
Creio que a literatura abra mundos de oportunidades, aventuras e aprendizado como nenhum outro meio. Sim, ver um filme ou binge watch a sua série favorita é muito bom, mas essas experiências não se comparam a virar a madrugada sem conseguir abandonar um livro, mesmo tendo que ir trabalhar cedo no dia seguinte. Seja com Harry Potter, Ernest Hemingway ou José Saramago, você já deve ter passado por isso.
Aventuras literárias podem ser desafiantes em outras línguas. Apesar de nunca ser cedo demais para ler em inglês, é aconselhável começar com obras mais simples.
Os livros abaixo, divididos do nível básico ao avançado, me ajudaram ao longo dos anos a aprender e aprimorar o meu inglês. Espero que eles também possam ser úteis a você!
Básico
The Giving Tree, de Shel Silverstein (1964)
A primeira entrada desta lista é um clássico da literatura infantil, que vendeu mais de cinco milhões de cópias em todo o mundo desde o seu lançamento há mais de 50 anos.
The Giving Tree foi bastante útil no início dos meus estudos de inglês na adolescência. Na época, eu queria muito ler naquele idioma, mas não fazia ideia se já tinha condições de entender mais do que algumas frases simples.
Esse livro acabou sendo ideal devido a suas sentenças curtas e diálogos acessíveis. A maior parte dos verbos também está em tempos verbais que os estudantes aprendem logo nas primeiras aulas, como simple past e simple present. Por exemplo: “Then one day the boy came to the tree and the tree said: ‘Come, Boy, come and climb up my trunk and swing from my branches and eat apples and play in my shade and be happy’.” Fácil, não?
A linguagem cotidiana e a narrativa direta da obra de Silverstein me deu confiança para me aventurar na literatura em outro idioma, sem medo de ficar desmotivado com as dificuldades de aprender um novo idioma.
Por isso, não tenha vergonha de ler livros infantis. Afinal, raramente alguém novato vai começar a explorar a literatura inglesa pelas peças de Shakespeare. Tenha em mente que é importante ler algo adequado ao seu nível, assim você pode aprender aos poucos e ir enfrentando os desafios da língua conforme avança em seus estudos.
Além disso, a mensagem de The Giving Tree transcende idades e tem, ao menos para mim, um significado muito maior quando lida sob a óptica de um adulto.
O livro traz uma bonita história sobre a amizade entre uma árvore e um garoto ao passar dos anos. Ao mesmo tempo em que trata da capacidade de amar sem limites e sem esperar nada em retorno, também aborda o egoísmo de quem só recebe esse amor e não o retribui.
Aprendi com este livro que é possível passar uma mensagem complexa utilizando um vocabulário básico.
Intermediário
The Little Prince, de Antoine de Saint-Exupéry (1943)
Traduzido do francês para mais de 100 idiomas, The Little Prince vendeu mais de 140 milhões de cópias em todo o mundo, tornando-se um clássico. Mesmo sendo uma obra infantil, sua mensagem ensina muito aos adultos.
O livro é narrado por um piloto, cujo avião cai no deserto do Saara, e tem partes contadas pelo próprio pequeno príncipe. No deserto, enquanto tenta consertar sua aeronave antes que fique sem água e comida, ele é abordado por um pequeno príncipe, um garoto sério e loiro. Vindo de outro planeta, ele pede ao narrador que lhe desenhe uma ovelha. Começa assim uma amizade entre os dois.
Para mim, é uma história com muitos significados pessoais, como o cinismo, a vaidade e a obsessão dos adultos por aspectos “não importantes” da vida (números, riqueza, reputação). E como ao crescermos, destruímos os sonhos de nossas crianças (e os nossos) ao não nos deixarmos levar pela imaginação, pelos sentimentos e por coisas “mais simples” (o som da voz de um novo amigo, por exemplo).
O texto fala sobre o que realmente importa na vida: as amizades sem interesses, não desperdiçar tempo com ganância, perceber a grandeza do que temos e da importância de se construir relacionamentos – pelos quais devemos ser responsáveis e entender que são únicos –, e sobre julgarmos a nós mesmos antes de julgarmos os demais. E que, por fim, os adultos estão perdidos porque não sabem o que procuram. Como diz a raposa ao pequeno príncipe: “One sees only with the heart. What is essential is invisible to the eyes.”
Infelizmente, só li esse livro já adulto e fluente em inglês. Mas sua estrutura é bem similar a de textos que utilizei durante o nível intermediário. Com certeza, teria sido uma ótima opção para os meus estudos neste grau de dificuldade, pois demanda um esforço extra de vocabulário, maior atenção na narrativa (nem sempre direta) e traz linguagem/construções verbais com alguma sofisticação. Por exemplo: “The little prince, once on land, was therefore much surprised to see no one. Has was already afraid of being mistaken about the planet, when a ring of moonlight stirred in the sand.”
A maior parte do texto está no simple present e simple past, mas há diversas passagens em tempos verbais mais “avançados” como o past perfect e present perfect – conjugações que, ao que me lembro, só aprendi por volta dos níveis B1 ou B2.
O vocabulário do livro não é dos mais vastos, mas é um bom exemplo de descrição de lugares, impressões e sentimentos. Veja esse trecho: “The fifth planet was very strange. It was the smallest of all. There was just enough room on it for a street lamp and a lamplighter. The little prince was not able to reach any explanation of the use of a street lamp and a lamplighter, somewhere in the heavens, on a planet which had no people, and not one house. But he said to himself, nevertheless:
‘It may well be that this man is absurd. But he is not so absurd as the king, the conceited man, the businessman, and the tippler. For at least his work has some meaning. When he lights his street lamp, it is as if he brought one more star to life, or one flower. When he puts out his lamp, he sends the flower, or the star, to sleep. That is a beautiful occupation. And since it is beautiful, it is truly useful’.”
The Boy in the Striped Pyjamas, de John Boyne (2006)
The Boy in the Striped Pyjamas chegou ao topo do ranking dos bestsellers do jornal The New York Times e vendeu mais nove milhões de cópias desde o seu lançamento.
Situada em 1942, a história é centrada em Bruno, um garoto de nove anos obrigado a se mudar de Berlim para uma casa distante da capital alemã após seu pai, um alto oficial nazista, ser promovido para implementar a “solução final” para os judeus.
A nova casa de Bruno fica nas proximidades de um campo de concentração, onde ele passa a explorar a região e a realidade dos prisioneiros. Ele forja uma inocente amizade com um garoto judeu no campo, com quem passa seus dias brincando do “outro lado da cerca”, sem que sua família suspeite de nada.
Quando The Boy in the Striped Pyjamas foi publicado, eu estava nos módulos finais do meu curso de inglês. Então, foi uma leitura tranquila porque já havia aprendido no nível intermediário a grande variedade de tempos verbais usadas neste livro. Acredito que alunos do B1 e B2 saberão lidar bem com o grau de dificuldade do texto desde que tenham desenvolvido o hábito de ler em inglês e possuam um vocabulário amplo.
Lembro de ter precisado consultar o dicionário para lidar com certos termos, como huts ou Lieutenant, então desconhecidos por mim. Também tive que reler alguns parágrafos com frases mais rebuscadas (mas não se preocupe porque até mesmo obras em português demandam uma segunda leitura de certos trechos para melhor compreensão). Por exemplo: “The house in Berlin had stood on a quiet street and alongside it were a handful of other big houses like his own, and it was always nice to look at them because they were almost the same as his house but not quite, and other boys lived in them who he played with (if they were friends) or steered clear of (if they were trouble). The new house, however, stood all on its own in an empty, desolate place and there were no other houses anywhere to be seen, which meant there would be no other families around and no other boys to play with, neither friends nor trouble.”
The Boy in the Striped Pyjamas basicamente inaugurou meu vocabulário em temas que nunca havia lido em inglês, como o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial, além de trazer descrições de campos de concentração como esta: “Bruno opened his eyes in wonder at the things he saw. In his imagination he had tough that all the huts were full of happy families, some of whom sat outside on rocking chairs in the evening and told stories about how things were so much better when they were children and they’d had nowadays. He thought that all the boys and girls who lived there would be in different groups, playing tennis or football, skipping and drawing out squares for hopscotch on the ground. As it turned out, all the things he thought might be there weren’t.”
Avançado
A Little Life, de Hanya Yanagihara (2015)
Este underdog bestseller de 700 páginas, escrito em 18 meses nas horas vagas da autora, acabou sendo sucesso de crítica e indicado ao prestigioso The Man Booker Prize.
O livro narra a história de quatro amigos que se conhecem na faculdade e depois de formados se mudam para Nova York, onde enfrentam desafios comuns a jovens, como empregos ruins e pouco dinheiro. Mas também experimentam as aventuras de se descobrir, estreitar as amizades e batalhar pelo sucesso.
Os personagens principais são Willem (um ator), JB (um talentoso pintor), Malcolm (um arquiteto frustrado) e o brilhante e enigmático Jude (advogado), que acaba sendo o foco da trama conforme passam-se os anos. Jude é um homem mental e fisicamente marcado por uma infância indescritível.
Li esse livro após anos de fluência e uso cotidiano do inglês e creio que não o teria terminado se não dominasse a língua. Há alguns motivos para isso: é uma leitura muito longa para quem ainda não conhece o idioma ou não tem um excelente vocabulário, o texto é bem refinado, a história não é linear (as partes sobre o passado de Jude são complexas, além de emocionalmente intensas) e a narrativa pode ser confusa.
Por isso, estudantes do nível avançado aproveitarão A Little Life melhor. Nos níveis C1 e C2, eu conseguia compreender textos mais exigentes, com significados implícitos, estruturas complexas e linguagem mais espontânea. Todas essas habilidades são necessárias para entender essa obra.
Além disso, o livro trata de temas pesados como prostituição forçada, abuso sexual, automutilação, depressão, suicídio e violência doméstica. Tudo isso com descrições quase sempre gráficas, que podem ser difíceis de seguir para iniciantes. Veja esse trecho: “The last time he fell, he couldn’t get up again. ‘Get up!’ he heard Dr. Traylor yell. ‘Get up!’ But he couldn’t. And then he heard the engine start again, and he felt the headlights coming toward him, two streams of fire like the angel’s eyes, and he turned his head to the side and waited, and the car came toward him and then over him and it was done.”
O vocabulário do livro é bem variado e refinado (algo esperado em um texto tão longo), expondo o leitor a diversas construções verbais interessantes, como esta: “But this pain is a pain he has not felt in decades, and he screams and screams. Voices, faces, scraps of memories, odd associations whir through his mind.”
Há também muitas descrições vívidas e minimalistas de sentimentos, lugares e experiências traumáticas, que me ajudaram a sofisticar a forma como narro algo em minha escrita. “He smells burning meat, and he breaks out of his trance and looks wildly at the stove, as if he has left something there, a slab of steak seething to itself in a pan, but there is nothing, and he realizes he is smelling himself, his own arm cooking beneath him, and this makes him turn on the faucet at last and the water splashing against the burn, the oily smoke rising from it, makes him scream again.”
Every Man Dies Alone (ou Alone in Berlin), de Hans Fallada (1947)
Escrito em apenas dois meses, entre setembro em novembro de 1946 em uma Alemanha Oriental pós-guerra, Every Man Dies Alone apresenta questões morais profundas sobre o nazismo. Quando o terminou, Hans Fallada disse a familiares que havia produzido um excelente livro. Poucos meses depois, ele morreu, infelizmente, sem vê-lo publicado.
A obra é um detalhado retrato da vida em Berlim durante o regime nazista e sobre a saga de um pacato casal da classe trabalhadora que decide tomar uma posição contra o regime após seu único filho morrer na Segunda Guerra Mundial.
Sozinhos, eles começam um movimento clandestino e secreto contra o incrível poder do Terceiro Reich. Sua campanha de resistência simples enlouquece a Gestapo, a polícia secreta nazista, mas também os coloca em grave risco.
Assim como A Little Life, creio que Every Man Dies Alone é muito longo (mais de 500 páginas) para ler sem um vocabulário vasto e capacidade de compreender uma narrativa complexa. Também o li quando já dominava o idioma e ainda assim tive que prestar muita atenção e recorrer ao dicionário algumas vezes. Logo, é uma história que pode ser melhor aproveitada por estudantes do nível avançado e que tenham o costume de ler.
A Little Life foi um ótimo desafio para continuar aprendendo novas palavras e diferentes/ricas formas de se utilizar a língua inglesa. As construções verbais e das frases são um primor da sofisticação, como: “Anna Quangel had long since forsaken her quiet listening role. Now she sat on the sofa, speaking animatedly, suggesting topics, formulating sentences. They did their work in the most harmonious togetherness, and this deep, inner togetherness that they had only discovered now, after long years of marriage, became a great source of happiness to them, spreading its glow across their weeks. They saw each other, so to speak, with a single glance, they smiled, each knowing that the other had just thought about their next card, or the effect of their cards, of the steadily increasing number of their followers, and of the public that was already impatiently waiting.”
A narrativa tem diversas histórias paralelas que podem ser confusas. Além disso, o livro trata de temas pesados, como anti-semitismo, violência gráfica, assassinatos, tortura, espancamentos e nazismo. Ou seja, me ajudou a incrementar/obter um vocabulário mais adulto sobre esses assuntos. E o fez sob uma perspectiva diferente daquela dos jornais e de The Boy in the Striped Pyjamas, que traz uma linguagem mais “inocente”, narrada por uma criança.