A origem das palavras

Sabia que a palavra *capuccino* vem dos monges capuchinhos? E que a origem da palavra *jeans* não é nem inglesa nem americana? Esses são fatos curiosos sobre palavras que todos usamos e conhecemos.​

Você conhece a sensação de repetir muitas vezes uma palavra até ela perder o sentido? Ao conhecer o seu significado original, isso será impossível! Graças à etimologia, a ciência que estuda a origem das palavras, podemos saber como e quando se começaram a usar certas palavras e o porquê de estes significados perdurarem até os dias de hoje.

À seguir, apresento a vocês uma lista de palavras cujas origens podem surpreender – tanto por sua originalidade como por sua história.

1. Abacate

Do náuatle, idioma asteca.

A palavra “abacate” vem do náuatle ahuacatl, que significa… (que rufem os tambores) testículo! No fundo, não surpreende tanto, não é? O nome se deve à similaridade da fruta com essa parte do órgão sexual quando ainda está pendurada na árvore, sempre de forma torta e de dois em dois. O povo antigo mexicano deu esse nome à fruta demonstrando o seu humor apimentado, criando uma linguagem de duplo sentido. Fato extra: molli significa molho, e então aguacamolli, quer dizer, molho de abacate, ou guacamole.

2. Capuccino

Origem italiana e alemã.

O capuccino que tomamos e que nos faz tão bem todas as manhãs vem da palavra capuccio, que significa capô e cuja a associação se remete à cor marrom dos hábitos dos monges capuchinhos. A cor das suas túnicas foi provavelmente a razão pela qual este nome foi usado para batizar esse tipo de café marrom.

A primeira menção ao nome dessa especialidade de café se deu em Viena, na Áustria, em 1790. Wilhelm Tissot escreveu a receita para se tomar um espetacular Kapuzinerkaffee, nada parecido com o de agora, mas sem dúvida, seu antecessor. Um francês o registrou em Veneza em 1937 e a receita atual foi se aperfeiçoando desde meados do século XX, graças à influência das máquinas de café modernas. Para trás, ficaram as claras de ovo batidas da receita original… um capuccino agora se compõe de expresso e leite, e não se deve tomar depois da refeição! Se você se esqueceu dos costumes gastronômicos italianos, veja esse artigo.

3. Desastre

Desastre vem do italiano disastro, que por sua vez tem origem grega.

A palavra desastre vem do francês, désastre, e essa, por sua vez, do antigo italiano, disastro, que originalmente vem do grego. Dis (prefixo que indica separação ou negação) e aster (estrela) dá lugar a “sem – astro” que no final é “estrela ruim”, ou seja, uma desgraça.

Os gregos antigos eram fascinados pelo céu e astronomia, e acreditavam firmemente na influência dos astros sobre os acontecimentos da vida terrestre. Usavam essa palavra para se queixar das inclemências do tempo ou das posições desfavoráveis dos planetas, e como estas repercutiam em suas vidas cotidianas.

5. Jeans

Origem francesa e italiana.

Embora pareça que não exista nada mais americano do que jeans (lembra daquela propaganda da Levi’s 501?), na verdade o tão famoso tecido foi inventado na Europa.

Os jeans, feitos de algodão muito resistente e tingidos com índigo, foram usados principalmente por escravos e pelos participantes da febre do ouro (séc. XIX). Os mineiros precisavam de uma roupa resistente que fosse difícil de rasgar. Mas, direto ao ponto, a palavra jeans vem do material criado na Europa, mais especificamente em Genova, na Itália. Os marinheiros que levavam cargas desse material eram chamados de jeans, originários de Genova.

A palavra denim, utilizada em muitos idiomas para designar o tecido jeans, por sua vez, vem da cidade francesa Nimes, e indicava a procedência do material, “de Nimes”, portanto denim.

6. Salário

Salário vem do latim, salarium, pago com sal.

Antigamente, o sal era usado para muitas coisas importantes, portanto muitas vezes descrito como o “ouro branco”. Podia-se usar como antisséptico para curar feridas, (sal >>>salus>>>saúde), para conservar alimentos e como forma de pagamento na Grécia e em Roma, entre outras coisas.

Desde o antigo império egípcio, os trabalhadores eram pagos com sal, que era usado para conservar a comida, em uma época que não existiam geladeiras. Quem nunca ouviu falar de carne salgada?

Mais tarde, no império romano, essa forma de pagamento continuou sendo usada, e rapidamente se adotou o nome “salário” para o que os trabalhadores recebiam no final do mês trabalhado. Menos mal que agora recebemos tudo em dinheiro e não em um simples tempero para comida!

7. Trivial

Do latim, trivium.

No latim, havia um substantivo neutro que servia para denominar “o lugar que coincidem três ruas, três caminhos”, e que terminou denominando qualquer cruzamento, sem a necessidade de que fosse três o número de ruas que o compunha. Lugares como esse, chamados de trivium, eram zonas de negociações e de repouso onde tradicionalmente se encontravam viajantes, pessoas de negócios, prostitutas, albergues e pousadas, etc. Uma das palavras derivadas do trivium foi o adjetivo trivialis, que foi definido pelo historiador Suetônio no ano 69 como algo “vulgar, ordinário, de pouca importância, comum e corrente”. E disso surgiu trivial, que é um adjetivo que descreve algo comum, sem importância ou novidade, e de conhecimento de todos.

8. Whisky

Palavra de origem gaélica e bebida nacional dos escoceses.

Pelo visto, os monges medievais o chamaram de aqua vitae, que significa água da vida. Do latim, o termo se transformou quando foi absorvido pelo gaélico, sendo chamado de uisce beatha. Os anos fizeram o uisce passar para usqua, que finalmente terminou sendo uisky. De uisky ao atual whisky não há uma grande mudança.

O “e” do whiskey foi adicionado mais tarde para diferenciar os whiskies de melhor qualidade, em uma época em que a reputação do whisky escocês era muito pobre. Por isso as destilarias irlandesas e americanas adicionaram esse “e”, para diferenciar seu produto daqueles de menor qualidade.

Em outros países, se abrevia scotch para se referir ao whisky escocês. Já em alguns países da América do Sul, a palavra whiskey é falada antes de uma foto, o equivalente ao nosso “olha o passarinho” ou ao inglês cheese.

Dependendo dos gostos, um whisky consegue tirar um sorriso mais facilmente que um queijo, não é mesmo?

tradução Sarah Luisa Santos
Ilustração por Raul Soria

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