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Como aprender Verlan, as gírias invertidas do francês

Aprender francês não se limita apenas a saber a gramática ou pronúncia certa. Você quer ser “cool” na França? Aprenda o verlan, a gíria invertida do francês.
Escrito Por Joriam Philipe
Como aprender Verlan, as gírias invertidas do francês
Ilustrado por Louise Mézel

Se eu sefala assim. Você me riaentende?

Cada cultura tem sua relação com gírias – gerações vêm e vão, e as expressões mudam. Na França, esse processo é um pouco mais notável: não são apenas palavras que entram e saem da moda, existe um conjunto de regras para novas gírias – o verlan.

A gíria, de uma forma geral, é uma expressão de apropriação linguística. Uma nova geração afirmando sua existência, seu direito de ir e vir, até mesmo nas palavras usadas no dia a dia. Eu ainda me lembro de achar expressões que surgiram no Rio de Janeiro, como koeh, lalau e sinistro, estranhas quando começaram a ser popularizadas. Hoje em dia, elas não apenas entraram no vernáculo popular, mas também já estão ultrapassadas. Outras expressões, como lacre e tiro, vieram para tomar seu lugar.

Não que a França não tenha passado exatamente pelo mesmo processo; le bordel pode até ter sido uma palavra para descrever bordéis um dia, mas qualquer francês vai entendê-la como uma bagunça hoje em dia.

Porém, nos subúrbios parisienses, um processo ligeiramente diferente tomou conta da criação de novas palavras.

O surgimento do verlan

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa abriu novamente suas portas para a imigração. A juventude que surgiu desse processo, crescendo nos anos 1960, viveu um raro processo de exclusão. A guerra podia ter passado, mas a xenofobia ainda assombrava com força a paisagem cultural francesa – ainda mais nas grandes cidades.

A vida para um jovem não era moleza. A polícia era truculenta e as oportunidades de trabalho, raras. Foi nesse contexto que o verlan surgiu: uma língua secreta para que a juventude pudesse se comunicar sem que os policiais entendessem.

O interessante foi que, em vez de se apropriar de palavras antigas com novos sentidos, o que essa galera inventou foi uma regra geral para criação de novas palavras: a inversão das sílabas.

Com a regra em mãos, uma profusão de novos termos começou a dar as caras. Por fim sendo popularizado por cantores famosos e programas de TV.

Como funciona o verlan

O próprio termo verlan é o exemplo perfeito de seu funcionamento: a palavra surgiu de l’envers (que, por sua vez, significa inverso). O processo do verlan é simples: inverter as sílabas e ajustar a palavra para que ela soe bem – essa última parte não tem regras bem definidas. O verlan é um processo oral, não escrito: ninguém está nem aí para consistência, o importante é se comunicar.

Outra palavra, por exemplo, é teuf, que hoje em dia compete em frequência de usos com sua originária fête (festa, social). Mais fácil do que ler é pronunciar a palavra original e simplesmente sentir como ela se transformou.

O verlan é um processo vivo e ativo. Alguns termos ganham notoriedade e outros saem de uso. Por exemplo, o primeiro termo em verlan para árabes (arabes) foi beur, depois de uma inversão e alguns ajustes. Essa palavra, justamente por ganhar popularidade e uso constante no dia a dia e até na mídia francesa, esvaziou-se de seu propósito original, que era promover a afirmação e resistência identitária de imigrantes do Magreb e seus descendentes. Assim, eles se apropriaram do termo beur e aplicaram o verlan novamente, criando uma nova palavra – rebeu.

É importante entender a nuance da mudança de significado que o verlan injeta nesses termos. Chamar alguém de rapaz é bem diferente de maluco ou mano. Um tudo bem não soa igual a um de boa na lagoa. O verlan tem esse poder transbordar suas palavras com informalidade e juventude.

Pequeno dicionário verlan

(Lembrando: não dá para saber até quando isso aqui vai se manter ativo na língua! Mas acho que esses termos já são bem conhecidos por aí.)

verlan: francês: tradução

ouf – fou: doido(a) (no bom e mal sentido)

meuf – femme: Mulher, garota

keum – mec: Homem, cara

chelou – louche: Estranho

pécho – choper: Dar em cima

vénère – énervé: Nervoso(a)

tebé – bête: Bobo, besta

aps – pas: Não, negativa (de uma frase)

cimer – merci: Valeu

golri – rigolo: Engraçado(a)

cheum – moche: Feio(a)

tarba – batard: Babaca

renoi – noir: Negro(a)

zarbi – Bizarre: Bizarro(a)

ziva – Vas-y: Vai!, Anda!, Bora!

E um bônus para você:

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