Aprender um idioma não é sempre algo simples, mas pode ficar mais fácil se você tiver em mente alguns truques de como aprender.
Saber que diferentes idiomas merecem abordagens distintas é um bom ponto de partida. Para um falante nativo de inglês, por exemplo, aprender alemão será uma experiência bem distinta de aprender japonês. Por causa de sua proximidade e origem comum com o inglês, o alemão deve ser mais fácil.
Neste artigo daremos algumas dicas para aqueles que querem aprender uma língua semelhante à sua nativa. Como quase tudo na vida, há vantagens e desvantagens, mas até as dificuldades podem ser usadas ao seu favor. E, no caso de espanhol para brasileiros, todas as dicas se aplicam.
1. Aproveite o fato de que muitas palavras terão radicais parecidos
Muitas palavras importantes terão radicais parecidos em idiomas próximos. O radical contém o significado básico da palavra e é a parte à qual prefixos e sufixos são adicionados – com um radical é possível formar várias palavras diferentes. Em inglês, friend (amigo), por exemplo, é o radical para as palavras friendship (amizade), friendly (amigável, simpático), to befriend (fazer amizade), entre muitas outras.
A palavra alemã Freund é bem parecida com sua equivalente em inglês, mas as palavras derivadas dela podem ser um pouco mais difíceis de entender: Freundschaft (amizade), freundlich (amigável, simpático), anfreuden (fazer amizade).
Para um falante nativo de inglês aprendendo alemão, será bem mais fácil entender como as palavras se formam e memorizar os afixos alemães mais importantes do que aprender palavra por palavra.
2. Conheça seus amigos (e separe os bons dos falsos)
O fato de que muitas palavras são parecidas ou até mesmo exatamente iguais em línguas parecidas é talvez a maior vantagem de aprender um idioma próximo ao seu. Continuando com o exemplo inglês/alemão, vejamos algumas palavras básicas: mother/Mutter (mãe), father/Vater, water/Wasser (água), three/Drei (três), beer/Bier (cerveja), fish/Fisch (peixe), butter/Butter (manteiga), warm/warm (quente)… a lista dos chamados bons amigos é imensa.
Com português e espanhol, a semelhança lexical é ainda maior. Alguns exemplos: cerveja/cerveza, dois/dos, trabalhar/trabajar, comer/comer, pronunciar/pronunciar. Espanhol para brasileiros pode ser muito fácil, mas atenção: as semelhanças são tantas que muitas pessoas no Brasil pensam que podem falar espanhol sem nunca ter estudado, o que infelizmente não é verdade.
Entretanto, quando se trata de idiomas, nem todo amigo é um bom amigo. É preciso saber separar os bons (palavras que se parecem e têm significados semelhantes) dos falsos (palavras que se parecem ou são exatamente iguais mas têm significados distintos dependendo do idioma).
Um exemplo clássico de falso amigo inglês/alemão é a palavra gift. Se você receber um gift de um falante de inglês, provavelmente ficará feliz (gift em inglês significa presente). Se vier de um alemão, entretanto, é melhor não aceitar, já que essa palavra significa “veneno” na língua de Goethe.
Isso pode causar bastante confusão. Mas só se você deixar isso acontecer. O fato de que uma palavra com a qual você está acostumado pode significar algo completamente diferente em outra língua pode ser tão engraçado e absurdo que será fácil memorizá-la.
A primeira coisa que aprendi em espanhol é um dos falsos amigos mais clássicos que este idioma tem com o português brasileiro: sobrenome, na variante do português falada no Brasil, é equivalente a apellido em espanhol, enquanto “apelido”, em português, pode ser traduzido para espanhol como sobrenombre (outras traduções possíveis são “mote” e “apodo”). Isso é tão estranho (e sensacional) que eu nunca mais esqueci.
3. Aproveite as estruturas gramaticais parecidas
A gramática varia conforme a língua, mas também existem algumas estruturas que farão uma língua estrangeira próxima soar mais familiar que outras.
Veja, por exemplo, a ordem das palavras em substantivos compostos. Em inglês e alemão, o substantivo “forte” vem sempre na última posição. Em português e espanhol, ocorre o contrário.
Inglês: toothpaste
Alemão: Zahnpasta
Português: pasta de dente
Espanhol: pasta de dientes
Algo similar acontece com a posição dos adjetivos: em inglês e alemão, eles vêm antes do substantivo. Em espanhol e português, geralmente depois.
Inglês: the blue sky
Alemão: der blaue Himmel
Português: o céu azul
Espanhol: el cielo azul
Os phrasal verbs ingleses e os verbos separáveis alemães são outro exemplo de estruturas gramaticais semelhantes. Eles não são exatamente a mesma coisa, mas é possível observar que ambos funcionam de maneira similar: uma partícula que modifica o verbo, dando a ele um significado totalmente novo.
Em inglês, por exemplo, blow (soprar) pode significar “explodir” com a adição de um “up” (blow up). Em alemão, “falar” (sagen) vira “cancelar” com a adição de um “ab” (absagen). Não é necessário ser um falante nativo de nenhuma dessas duas línguas para entender essas construções, mas isso com certeza ajuda.
4. Aproveite os sons parecidos
Para falar um idioma, é necessário obviamente entender e saber pronunciar seus sons. Os fonemas (unidades sonoras) à disposição dos falantes mudam de língua para língua, mas, assim como o resto, serão mais parecidos em idiomas mais próximos.
Para um falante de inglês, por exemplo, os fonemas do alemão serão mais fáceis de entender – e repetir – do que os do espanhol. Já para um falante de português, tentar repetir algo que ouviu em espanhol será mais fácil do que repetir palavras em alemão.
É claro que haverá exceções, pois mesmo línguas próximas podem ter sons bem diferentes. Assim como falantes nativos de espanhol têm dificuldade em pronunciar os sons nasais do português, não é especialmente fácil para ingleses e americanos pronunciar palavras alemãs como Streichholzschächtelchen (confira outras palavras alemãs difíceis e as dicas para pronunciá-las corretamente aqui).
Mas, em termos gerais, a proximidade é um fator positivo. Experimente por você. Escute e tente repetir algumas palavras em espanhol. Depois, em alemão. A diferença no nível de dificuldade é bem grande.
5. Treine seu cérebro para deduzir coisas a partir do contexto.
Você aprendeu as primeiras lições, já entende o idioma razoavelmente bem (afinal, ele é parecido com o seu) e chegou finalmente o momento de assistir a um filme sem legendas (ou com as legendas no idioma original). Tudo vai muito bem nos primeiros minutos, mas então você começa a não entender algumas palavras. Não se desespere!
Vários elementos podem ajudar você a entender o que aquela palavra significa, como o contexto, a expressão facial e, claro, a semelhança com seu próprio idioma.
Deduzir o significado de uma palavra desconhecida será mais fácil quando o contexto for menos estranho para você. Entender a ideia geral de uma fala, ainda que nem tudo seja compreendido, também.
6. Faça um esforço extra
O aprendizado de um idioma parecido com o seu deverá ser mais rápido do que o de um muito diferente. Você será capaz de atingir mais resultados em menos tempo. Espanhol para brasileiros com certeza será mais fácil do que espanhol para os ingleses.
Mas isso não deve ser uma desculpa para praticar menos. Pelo contrário: aproveite para atingir seus objetivos mais cedo.
Proponha desafios para você mesmo e faça de tudo para alcançá-los. Metas menores geralmente funcionam melhor: é melhor aprender como fazer o pedido em um restaurante em uma semana do que tentar terminar um nível em um mês, por exemplo. Objetivos muito ambiciosos costumam ser vagos e irrealistas e você acabará se frustrando.
Tente usar as dicas acima e você logo perceberá que aqueles primos aparentemente complicados da sua língua-materna podem ser bem mais fáceis de aprender do que você esperava.
Ilustrações por Chaim Garcia