Meu nome é Luca Lampariello. Aqui eu gostaria de sair um pouco da rota feita por muitos, de perguntar como eu aprendi 11 línguas, e me concentrar no por quê eu aprendi essas línguas. Estudantes experientes vão dizer que a motivação é fundamental, repetir o mantra “quero aprender inglês!”, e, se manter firme na decisão é suficiente. Mas, eu vou mais a fundo nessa questão: onde podemos encontrar essa motivação e como ela pode ser reforçada, e o mais importante, mantida?
Aprender um idioma é muito mais do que um monte de livros e horas de estudo. Trata-se de viajar para lugares maravilhosos, conhecer pessoas inspiradoras, saborear comidas deliciosas e embarcar em inúmeras viagens de autodescoberta. Eu consigo a minha motivação dessas experiências; as experiências que as línguas possibilitam.
“Eu concordo que o aprendizado de idiomas é legal, mas eu desafio a suposição de que isso seja difícil.”
Inglês
Lição aprendida: idiomas não podem ser ensinados, podem apenas ser aprendidos. Ter alguém ou algo para ajudar no processo é bastante positivo. Encontre um guia, não um instrutor.
Inglês já era um idioma global quando eu completei 10 anos de idade em 1991. Seu aprendizado era obrigatório. Inicialmente, me pareceu muito difícil. Eu não gostava do professor, as explicações de gramática me confundiam e o material era monótono. Eu pensei que nunca iria aprender. Então, meus pais decidiram contratar uma professora particular de inglês. Eu tinha 13 anos e ela era maravilhosa. Ela não apenas me ensinou a língua, mas me ajudou a descobri-la — ela me colocou no caminho certo para o aprendizado e, o mais importante, para aprender a amar a língua. Logo, o pensamento “nunca vou aprender inglês” mudou para “quero aprender inglês, vou conseguir!”.
Comecei a ler um monte de livros em inglês. Minha tia me deu The Hardy Boys de presente de aniversário e depois disso não houve mais volta. A combinação de leitura de livros, filmes em inglês todos os dias e conversas com a minha professora uma vez por semana durante dois anos funcionou maravilhosamente. Com 15 anos, eu já era fluente em inglês e tinha um sotaque americano forte. Eu escrevi um post sobre como eu aprendi o sotaque americano.
“O aprendizado é um tesouro que segue o seu dono por todos os lugares.” – Provérbio chinês
Francês
Lição aprendida: idiomas são a porta para um mundo que vale muito a pena explorar. Então, baixe a sua guarda e se apaixone! Pela língua, pelo país, por uma pessoa, ou mesmo pela comida. Não há maior motivação!
Eu comecei a aprender francês mais ou menos ao mesmo tempo em que eu comecei a aprender inglês e me deparei com muitos dos mesmos problemas. Tudo mudou aos quatorze anos, no entanto, quando descobri que poderia assistir TV francesa. Eu comecei a assistir duas horas todos os dias depois do jantar. Com 15 anos, eu já era fluente em francês. As poucas horas de televisão por dia ajudaram mais que os três anos anteriores no ensino médio. Em 2010 me mudei para Paris. Viver lá por três anos me permitiu obter conhecimentos inestimáveis sobre a cultura francesa: história, tradições, piadas, referências culturais e um respeito pelo orgulho francês da sua culinária e idioma.
“A língua é o mapa rodoviário de uma cultura. Ela lhe conta de onde o seu povo vem e para onde está indo.” – Rita Mae Brown
Alemão
Lição aprendida: se você encontrar um método que você gosta e que funciona para você, você pode começar a aprender qualquer idioma sozinho. Não há método melhor para aprender uma língua. Encontre algo que é eficaz para você. E, acima de tudo, experimente!
Alemão foi a primeira língua que eu comecei a aprender completamente sozinho. Eu não me lembro exatamente por que embarquei nesta jornada, mas lembro-me que não tinha ideia de como aprender alemão. Passei alguns meses usando um livro de gramática empoeirado, desalojado da estante da minha avó. Letras góticas na página me implorando para repetir exercícios de gramática inúteis. Rapidamente eu desanimei.
Então eu vi um comercial na TV sobre uma série linguística em 4 idiomas e decidi experimentar. Ao usá-la eu descobri o meu método: uma técnica especial para absorver os padrões básicos de qualquer idioma de forma leve, natural e divertida. Esse método me veio de forma orgânica, e eu rapidamente percebi que era extremamente eficaz para mim. Após usá-lo por um ano e meio, eu conheci um monte de alemães durante as férias. Eu sempre me lembrarei dos seus rostos e como eles repetidamente perguntavam confusos, Wie kannst du so gut Deutsch?! (Como você pode falar tão bem alemão?). Esta reação, e a conexão privilegiada que tive como resultado, foram suficientes para alimentar a minha paixão por aperfeiçoar o meu alemão. Daquele momento em diante, comecei a ler incansavelmente. O idioma tornou-se parte integrante da minha vida.
“Se você conversar com um homem em uma língua que ele compreende, isso vai para a sua cabeça. Se você falar com ele em sua própria língua, isso vai para o seu coração.” – Nelson Mandela
Espanhol
Lição aprendida: o aprendizado de línguas oferece um profundo entendimento sobre o seu próprio país e idioma nativo. Se você aprender um idioma semelhante ao seu, use-o desde o início. É mais fácil do que você talvez imagine.
Espanhol e italiano são como duas irmãs; diferentes e ainda assim semelhantes ao mesmo tempo. Um mito comum na Itália é o de que espanhol é fácil: que você só precisa falar italiano e adicionar um “s” a cada palavra. A estrutura geral das duas línguas é semelhante, mas há algumas disparidades em termos de pronúncia, entonação e expressões idiomáticas. Em 2007, eu participei de um programa de estudos em Barcelona. Embora eu estivesse inserido em um ambiente predominantemente catalão, eu estava vivendo com uma espanhola de Málaga e muitas vezes saía com vários outros espanhóis. O idioma simplesmente se infiltrou. Ao retornar a Roma, o idioma espanhol havia se tornado parte de mim.
“Aqueles que não sabem nada de línguas estrangeiras não sabem nada da sua própria.” – Johann Wolfgang von Goethe
Holandês
Lição aprendida: Não existe algo como uma língua inútil. Todas elas virão a calhar, mais cedo ou mais tarde. Por isso, não deixe que os outros determinem o que você aprende. Permita-se ser guiado por seus próprios interesses e convicções.
Eu conheci Lotte, uma garota holandesa, enquanto acampava no Norte da Sardenha. Ela não falava muito bem inglês, e ambos nos frustramos com a nossa incapacidade de comunicação. Ainda assim passamos um ótimo tempo juntos, mas algo estava faltando: a sensação de incompletude me incomodava, então eu decidi aprender holandês. Lotte e eu perdemos contato, mas o idioma ficou comigo. As pessoas insistiam que o holandês era uma língua completamente inútil – todos eles falam inglês – mas eu insisti. Eu lia livros e revistas que meus amigos traziam de volta da Holanda. Eu sabia que iria usar a língua mais cedo ou mais tarde, e estava certo. Agora falo holandês todos os dias com o meu companheiro de apartamento holandês. Falar e aperfeiçoar o holandês tornou-se fácil e interessante, e requer pouco esforço. O velho ditado de que é preciso morar no país para aprender a língua simplesmente não é verdade.
“Aprenda tudo o que puder, a qualquer momento que puder, de qualquer pessoa que puder; haverá sempre um momento em que você será grato por isso.” – Sarah Caldwell
Sueco
Lição aprendida: comece a trabalhar na pronúncia desde o início para evitar o desenvolvimento de maus hábitos. Seja flexível. Se um idioma possui uma característica peculiar, foque nela desde o início.
Eu já estava pensando em aprender uma língua escandinava há algum tempo, desde quando a minha namorada italiana na época me deu um curso de sueco para o meu aniversário. Sons suecos são incrivelmente musicais para os meus ouvidos, devido à sua entonação peculiar, mas eu achei muito difícil de entender no início. Em 2004, fui para Estocolmo pela primeira vez e me apaixonei imediatamente pela cultura sueca. Eu continuei falando sueco, principalmente com noruegueses, e assistia filmes e lia livros – principalmente filmes de suspense, já que os escandinavos são excelentes nisso. O melhor de tudo? Se você souber sueco, a maioria dos escandinavos entenderão você, e de repente você terá acesso a uma cultura e maneira de pensar fascinantes.
“Falar uma outra língua é possuir uma segunda alma.” – Charlemagne
Russo
Lição aprendida: se você está prestes a desistir de uma língua, busque ativamente algo que reacenda o seu desejo de aprender. Ir para o país, conhecer alguém, assistir um filme, fazer um vídeo do YouTube. Qualquer coisa serve.
Depois de línguas latinas e germânicas, eu quis aprender algo novo. Russo parecia exótico para mim: incrivelmente rica, elegante e intrigantemente complexa. Pensar em russo era o equivalente a resolver um enigma matemático a cada frase. Minha mente se confundia em como os nativos russos lidavam com a língua deles diariamente. Eu não tinha ninguém para me ajudar e após 8 meses eu comecei a pensar que talvez tivesse sido um erro aprender russo. Eu mal tinha feito progresso. Nem fiz muito por longos 3 anos, e então postei um vídeo no YouTube falando russo. A repercussão me surpreendeu. Nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginei que tantas pessoas deixariam comentários tão entusiasmados. Russos pensam que a sua língua é difícil e inacessível, então quando eles ouvem alguém proferindo um par de frases, eles explodem de alegria. Depois, eu comecei a falar russo regularmente e, lentamente, comecei a desvendar com confiança meu caminho através do labirinto da gramática russa.
“O aprendizado é um tesouro que segue o seu dono por todos os lugares.” – Provérbio chinês
Português
Lição aprendida: você pode aprender duas línguas ao mesmo tempo, desde que você organize o seu tempo e energia também.
Comecei a aprender português europeu exatamente ao mesmo tempo que o mandarim. Eu nunca tinha aprendido duas línguas ao mesmo tempo, e por isso dei a mim mesmo orientações muito precisas. Português, como o espanhol, veio a mim muito naturalmente. Eu me concentrei na pronúncia, o que pode ser complicado. Vogais átonas mal são pronunciadas e as frases muitas vezes parecem uma sequência ininterrupta de consoantes. Português pode até soar como russo, para os ouvidos não treinados, em consequência. Eu muitas vezes me pergunto por que eu optei pelo português europeu e não pelo português do Brasil, que é muito mais amplamente falado. A verdade é que muitas vezes eu não escolho um idioma. Eu deixo as línguas me escolherem.
Polonês
Lição aprendida: viajar é realmente um grande fator para a motivação. Viaje tanto quanto puder, sempre que puder. Isso abre portas e incentiva o aprendizado de línguas.
Eu visitei a Polônia em 2012 pela segunda vez na minha vida e simplesmente me apaixonei pelo país e pelo seu povo. Além de usar a minha técnica de tradução bilíngue, eu também comecei a falar o idioma desde o início, ao combinar um tandem semanal com Michal, um polonês que eu conheci no verão de 2012. Eu recomendo esta abordagem se você está aprendendo um idioma eslavo e você já fala outro. Embora russo e polônes sejam bastante diferentes em muitos aspectos, a estrutura geral é a mesma, e falar uma ajuda muito no aprendizado da outra língua. Após um ano, eu estava relativamente fluente em polonês e fiz um vídeo no YouTube com Michal em uma visita à Polônia. O vídeo não passou despercebido. Um jornalista me entrevistou para uma revista e eu acabei na TV polonesa um ano depois.
“Uma língua coloca você em um corredor para toda a vida. Duas línguas abrem todas as portas ao longo do caminho.” – Frank Smith
Chinês
Lição aprendida: não se deixe intimidar pela reputação de um idioma.
Eu tinha ouvido falar que o chinês era notoriamente difícil, e por isso nunca havia pensado em aprendê-lo. Empurrado pelo sucesso inesperado dos meus primeiros vídeos no YouTube, eu buscava um novo desafio. Comecei a aprender mandarim ao meu próprio modo, mas enfrentei desafios completamente novos.
Se alguém lhe disser que aprender chinês sozinho é impossível, como uma vez eu ouvi alguém dizer, posso lhe garantir que isso não é verdade. O idioma tem as suas próprias complexidades, mas também alguns aspectos mais fáceis. Se você souber como lidar com os sons e os caracteres chineses da maneira certa, chinês não é, a longo prazo, mais difícil do que qualquer outra língua e a recompensa em falar chinês é imensa. Você entra em contato com uma cultura incrível, e os chineses muitas vezes se surpreendem positivamente se você falar a língua deles.
“Os limites da minha língua são os limites do meu mundo.” – Ludwig Wittgenstein
Japonês
Lição aprendida: algumas línguas têm características totalmente novas, por isso seja flexível e adapte o seu método de aprendizagem para o idioma. Se a sua abordagem não estiver funcionando, altere-a! Não desista. Não se entregue.
Quando comecei a aprender japonês, eu buscava um novo desafio, mas eu não imaginei que seria tão difícil. Eu não podia sequer construir frases simples, porque a estrutura do japonês era completamente diferente de qualquer língua que eu já tinha aprendido. Inicialmente eu pensei que este problema fosse apenas temporário e pudesse ser resolvido falando mais regularmente, mas este simplesmente não era o caso. Japonês é o meu maior desafio até agora, mas estou confiante de que vou chegar lá. Eu só preciso recalibrar a minha abordagem e me inserir na língua.
“Uma língua diferente é uma visão diferente da vida.” – Federico Fellini
Conclusão
Descobrir um método para aprender línguas estrangeiras é, sem dúvida, uma das melhores coisas que já me aconteceram. Aprender idiomas é uma experiência emocionante. Eu não fiz isso simplesmente passando tempo em casa, olhando fixamente para tabelas de verbos. Eu fiz isso vivendo e experimentando.
Falar vários idiomas não é e não deve ser um desempenho intelectual. É um ato de amor a si e aos outros, que ajuda você a descobrir a incrível diversidade da natureza humana, bem como descobrir as múltiplas facetas de sua personalidade. Para aqueles que me perguntam por que eu gosto de aprender tantas línguas, eu sempre respondo: “Eu não vivo para aprender línguas, eu aprendo línguas para viver uma vida melhor”.