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Onde fica o Muro de Berlim e seu beijo letal?

Onde fica o Muro de Berlim também fica uma história cheia de protestos, reviravoltas e humanidade. A capital alemã ressignificou esse passado problemático com o apoio de diversos artistas. Conheça neste artigo o beijo letal do Muro de Berlim.
Escrito Por Camila Rinaldi
muro de berlim beijo
Foto por Mar Cerdeira no Unsplash

A história de Berlim se revela a cada esquina. Desde a arquitetura dos prédios aos grandes monumentos em praças e parques. Quando cheguei à capital alemã, em 2010, nada me marcou tanto quanto ver parte do muro ainda em pé, em uma extensão de 1,3 km, na divisa entre os bairros de Friedrichshain e Kreuzberg. Hoje, no entanto, o muro não separa uma mesma cidade, está em pé apenas para nos lembrar da importância da liberdade.

O muro de Berlim foi construído em 13 de agosto de 1961, por iniciativa da República Democrática Alemã (RDA), durante a Guerra Fria. Motivada pela possibilidade de ver habitantes do lado oriental, socialista, emigrando para o lado ocidental, capitalista, Walter Ulbricht, então presidente da RDA, mandou que se construísse o muro da noite para o dia. Depois de longos 28 anos, em novembro de 1989, tivemos a queda do muro.

O Berliner Mauer tinha uma extensão de 155 km, estruturas adjacentes e circundava toda a Berlim Oriental, separando-a da Alemanha Ocidental, bem como da Berlim Ocidental. Durante o tempo de existência desta barreira física, muitas famílias estiveram separadas entre o lado socialista e o lado capitalista. Além do obstáculo no meio do caminho, o muro representou também um corte profundo na sociedade alemã.

Com a queda do muro, em 1989, todos queriam a destruição deste símbolo que representava a não liberdade, a morte e a distância entre as pessoas. Porém, 1,3 km do muro foram mantidos em pé e, no início de 1990, 118 artistas, de 21 países, coloriram o cimento cinza e transformaram o símbolo de repressão em uma das maiores galerias de arte a céu aberto do mundo, a East Side Gallery.

Onde fica o Muro de Berlim? Conheça a East Side Gallery, da opressão à arte

Descendo a rua Warschauer, que em português significa Varsóvia, na direção do bairro Kreuzberg, ou seja, no lado oriental da Berlim da RDA, logo vemos o colorido das pinturas da East Side Gallery. Ao todo, são 105 obras que se revelam todos os dias para nos lembrar dos horrores de um sistema opressor, e que também servem de crítica aos tantos muros que ainda estão de pé no mundo.

Apesar de ter se tornado um ponto turístico bastante popular de Berlim, pelo qual a maioria das pessoas passam muitas vezes sem ver, existem obras na galeria que merecem certa dedicação do olhar. Infelizmente, não é oferecido aos visitantes um material dedicado, com o nome dos artistas e das obras; este talvez seja o preço de frequentar um espaço público, certo?

muro de berlim Foto de Anthony-X do Pixabay

Como gosto muito da ideia da East Side Gallery, optei por morar em Friedrichshain, bairro em que está a galeria. Assim, todas as vezes que caminho entre as “telas no muro” descubro coisas novas. Uma das minhas obras preferidas, e que fez muito mais sentido depois que visitei o Museu do Prado, em Madrid, é a “La Buerlinica”, de Stephan Cacciatore, que faz uma referência direta à obra-prima de Picasso, “La Guernica”. Assim como Picasso, Cacciatore faz um manifesto contra a violência. Ele denuncia o crime contra a humanidade usando um design similar ao de Picasso, e adiciona ao painel as cores da bandeira da Alemanha, como preto, vermelho e amarelo.

Porém, a imagem mais popular é, sem dúvidas, a do artista russo Dmitri Vrubel, intitulada “Meu Deus, ajude-me a sobreviver a este amor mortal”.

O beijo letal de Dmitri Vrubel

A obra de Vrubel foi inspirada na fotografia de Régis Bossu, capturada em 1979, durante a comemoração do 30º aniversário da República Democrática Alemã. Na época, a foto foi veiculada em jornais e revistas de todo o mundo sob o nome “O Beijo”, como a obra na East Side Gallery é conhecida hoje.

beijo socialista

A imagem deste beijo fraterno entre dois camaradas sintetiza o mundo comunista. De um lado, temos o líder soviético Leonid Brejnev, do outro, o então primeiro-ministro da Alemanha Oriental, Erich Honecker. Não seria errado dizer que este quadro é a representação máxima da Guerra Fria e do Bloco Oriental, não por acaso foi parar em um painel no “muro da vergonha”.

O “beijo fraterno” é uma demonstração de camaradagem entre os socialistas, e era especialmente difundido durante o período da Guerra Fria. A origem deste ritual vem da Igreja Ortodoxa Oriental e carrega uma força substancial de expressão.

Claro que, em 1979, o beijo fraterno era uma questão de formalidade e não tinha nenhuma conotação sexual. Porém, é possível notar um certo entusiasmo na demonstração de camaradagem entre Brejnev e Honecker.

A crítica de Vrubel não foi apenas expor a imagem icônica da Guerra Fria na East Side Gallery, mas questionar o que aquele símbolo de afeto representava verdadeiramente naquele cumprimento. Como o artista fez isso? Através das palavras:

Meu Deus, me ajude a sobreviver a este amor mortal.

Mein Gott, hilf mir, diese tödliche Liebe zu überleben.

Entre os significados da palavra tödliche em português estão mortal, fatal e letal. Aqui, Vrubel fala claramente sobre as mortes ocorridas entre 1961 e 1989, quando quase 130 pessoas morreram tentando saltar o muro. Mais do que isso, o muro representou uma cisão da sociedade alemã, a qual podemos sentir até hoje.

Neste oito anos em que vivo em Berlim, volta e meia, me vejo em debates sobre as diferenças entre ter crescido na parte oriental e na parte ocidental da Alemanha. E, por mais que se diga que as diferenças ficaram no passado, é comum escutar “ah, mas eu cresci no lado oriental, eu não penso assim…” ou “ah, mas você mora hoje no lado oriental da cidade, é diferente…”.

Atualmente, a obra “O Beijo” está na sua segunda versão, refeita em 2009, pelo próprio artista.

Crédito das imagens: AP Photo / Corbis

CONHEÇA MAIS SOBRE A ALEMANHA
Camila Rinaldi

Formada em jornalismo, Camila só encontrou a felicidade mesmo quando descobriu que podia falar sobre tecnologia e viver disso. Ela não acredita que as máquinas vão nos dominar, mas pensa que se não revermos nossa ética, podemos acabar nos dominando com o auxílio das máquinas. Cada vez mais ela entende a importância de beber e comer bem, e quer poder ensinar seu sobrinho sobre espaçonaves e vinis. Siga-a no Twitter @apequenarinaldi ou no Youtube  Camila Rinaldi

Formada em jornalismo, Camila só encontrou a felicidade mesmo quando descobriu que podia falar sobre tecnologia e viver disso. Ela não acredita que as máquinas vão nos dominar, mas pensa que se não revermos nossa ética, podemos acabar nos dominando com o auxílio das máquinas. Cada vez mais ela entende a importância de beber e comer bem, e quer poder ensinar seu sobrinho sobre espaçonaves e vinis. Siga-a no Twitter @apequenarinaldi ou no Youtube  Camila Rinaldi

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