Recentemente, os quatro casos da gramática alemã têm sido bastante debatidos. Um, em especial, é alvo de muita controvérsia. A famosa frase Der Dativ ist dem Genitiv sein Tod (O dativo é a morte do genitivo) circula na mídia e causa grandes polêmicas. O que está acontecendo? Seria um caso de homicídio? Ou seria apenas uma tentativa de homicídio? Para esclarecer as coisas, vamos viajar um pouco na história até as origens dos quatro casos.
1. Os autores: Quem são os quatro casos?
Uma primeira olhada nos documentos revela que os quatro casos são conhecidos por diferentes nomes em alemão. A forma mais usada para caso gramatical em alemão é Fall (Fälle, no plural), mas também temos a palavra Kasus. Etimologicamente, o substantivo Kasus vem da palavra latina cāsus, que tem o mesmo significado de Fall (verbo: cadere – cair). Que, por sua vez, é um empréstimo do grego. Isso porque um gramático grego descreveu esses substantivos como decadentes (no sentido do que decai, declina) em relação aos verbos e chamou isso de queda – Fall em alemão. Assim podemos averiguar que cada caso gramatical tem um papel central na construção das orações.
Nós temos então quatro casos:
- Caso: Nominativo (Também chamado de Wer/Was-Fall – Caso Quem/O quê)
- Caso: Genitivo (Também chamado de Wes(sen)-Fall – Caso De quem)
- Caso: Dativo (Também chamado de Wem-Fall – Caso Para quem)
- Caso: Acusativo (Também chamado de Wen/Was-Fall – Caso Quem/O quê)
Os pronomes interrogativos indicam como nós podemos fazer perguntas sobre cada caso. Isso pode ser relevante para a nossa investigação – por isso, fique de olho, que as coisas estão prestes a se tornar emocionantes.
2. O motivo: O que os quatro casos fizeram?
Assim chegamos a uma das perguntas centrais. Qual é a finalidade de cada um dos quatro casos em uma oração e por que razão um deles poderia ser eliminado?
Bem, antes de iniciar a investigação, nós precisamos primeiro explicar por que existem quatro casos. Basicamente, o caso do substantivo mostra qual é a relação entre ele e os outros elementos da oração. Com isso, o respectivo artigo ou pronome é alterado conforme o caso. Isso também é chamado de declinação. Na teoria, tudo parece bem lógico, mas o que isso realmente significa para o nosso caso, ou melhor dizendo, os nossos quatro casos?
Vamos usar um exemplo prático. Vamos pensar em uma frase que poderia ocorrer no cotidiano, como:
Die Frau gibt ihrer Schwester den Spanischordner ihres Kindes. (Em tradução livre: A mulher dá a pasta de espanhol do filho para a irmã.)
Nessa frase, está claro quem faz a ação? Para quem a ação é feita? De quem é a pasta? Entendeu? Sem perceber, nós pegamos a dica mencionada acima e usamos os pronomes interrogativos para definir os casos.
Ou seja: Die Frau (a mulher) é o sujeito (no nominativo), ihrer Schwester (a irmã dela) é o objeto indireto (no dativo), den Spanischordner é o objeto direto (no acusativo) e ihres Kindes (o filho dela) é o atributo genitivo (no genitivo).
Teoricamente, o sujeito no nominativo (die Frau) com o verbo como predicado (gibt) já forma uma oração completa. Die Frau gibt – A mulher dá. Os objetos e o atributo servem como informações adicionais. Por que então precisamos dos quatro casos?
Imagine essa frase sem uma associação clara entre os objetos e o atributo:
Die Frau gibt ihre Schwester der Spanischordner ihr Kind. (Em tradução literal: A mulher dá a irmã dela a pasta de espanhol o filho dela.)
É impossível saber para quem a mulher está dando a pasta de espanhol: para a irmã ou para o filho?
Dessa forma, podemos observar como cada caso tem um papel importante, não apenas desempenhando uma função específica como também facilitando o entendimento da frase. Eles merecem o nosso respeito! Mas por que então o genitivo é tão atacado?
3. A sequência dos fatos: O que aconteceu com o caso número dois?
No debate sobre o genitivo, tem uma palavra que é bem proeminente: wegen (por causa de). Essa preposição exige o genitivo, porém, aos poucos, ela passou a ser usada só com o dativo: em vez de wegen des Regens (por causa da chuva – genitivo), hoje é mais comum ouvir wegen dem Regen (dativo). Atualmente a gramática alemã Duden aceita a variante coloquial no dativo. Na oralidade, genitivo também pode ser substituído por preposições. Por exemplo, podemos dizer den Spanischordner von meiner Schwester em vez de den Spanischordner meiner Schwester (a pasta de espanhol da minha irmã), em que von (de) é a preposição.
Contudo devemos temer a morte do genitivo e nos preparar para enterrá-lo? De jeito nenhum! O genitivo continua firme e forte, como mostra a preposição trotz (apesar de). Com essa preposição, sempre é necessário usar o genitivo, embora não tenha sido sempre assim, como comprovam as palavras trotzdem e trotz allem. A adição do s em nomes próprios (por exemplo, Annes Buch – o livro de Anne) continua desfrutando de alta popularidade.
4. Caso solucionado… Ou melhor, casos!
Se você tinha esperanças de que o alemão passasse a ter só três casos, não se desanime. Há idiomas com muitos mais casos gramaticais. O russo, por exemplo, tem seis casos, e o latim, além dos suspeitos de sempre, tem o caso ablativo e o vocativo. Portanto, apesar das circunstâncias, se você está aprendendo alemão, pode se considerar uma pessoa de sorte. Pois os casos nos ajudam a compartilhar informações de forma precisa e a nos expressar de diferentes maneiras.
Por isso, uma salva de palmas para os quatro casos do alemão!
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