Minhas palavras favoritas em italiano.

Através de suas palavras favoritas em italiano, Ed nos leva em uma viagem maravilhosa pela Itália!
palavras em italiano

Ciao, buona giornata, allora… Um tempo atrás, escrevi sobre minhas palavras favoritas em alemão e minhas palavras favoritas em espanhol, dois idiomas com os quais estou bastante familiarizado. Minha experiência com o italiano, porém, não é tão rica quanto a que eu tenho com o espanhol ou o alemão. Afinal, nunca morei na Itália… Mas, como já visitei o país diversas vezes, sempre acabo aprendendo novas palavras graças àqueles famosos livretos com frases úteis e também graças às pessoas que vou conhecendo.

E assim, mesmo não tendo um conhecimento tão aprofundado do idioma, consegui criar uma lista com as minhas palavras favoritas. Afinal, o italiano tem tantas palavras maravilhosas! Ok, ok… A verdade é que todo idioma conta com inúmeras palavras sensacionais. Mas é que o jeito italiano de falar, os fonemas do idioma, que obrigam a gente a enrolar a língua e fazem cócegas no ouvido, são encantadores. Ou, como comentou um amigo recentemente, «italiano parece lindo, mesmo quando estamos dizendo algo desagradável”.

Enfim, foi por isso que resolvi fazer essa minha lista. Aqui vai ela.

1. Allora (conjunção) — então, portanto

allora

Quando começamos a aprender um idioma, sempre reconhecemos algumas palavras que vira e mexe aparecem no meio de frases incompreensíveis. Isso nos dá a esperança de que um dia venhamos a entender o resto da frase com a mesma facilidade. Em italiano, esse é o caso da palavra allora. É com ela que muita, mas muita gente começa a dizer o que tem a dizer. Como acontece com diversas palavras, a tradução de allora depende bastante do contexto em que a utilizamos. De modo geral, podemos dizer que ela equivale a «então» ou «portanto».

Alloooora, andiamo avanti con questa storia?

(Tradução: Então, vamos adiante com essa história?)

2.  Rocambolesco (adjetivo) – fantástico, emocionante, cheio de aventuras

rocambolesco

Se você for linguista — ou simplesmente entusiasta de tudo o que se refere a idiomas —, talvez não seja tão difícil reconhecer a origem francesa do termo rocambolesco, existente não só em português, como também em italiano. Rocambole é um personagem fictício criado pelo escritor francês Pierre Alexis Ponson du Terrail no século 19. A palavra francesa rocambolesque teve origem na predileção desse personagem por aventuras incríveis. No idioma italiano, assim como em português, esse termo denota uma inebriante fusão do fantástico, do ousado, do incrível. E é com essa imagem em mente que muita gente entra em um avião com destino à Itália, pronta para enfrentar as aventuras de uma viagem pelo continente europeu.

3. Chiacchierone/a (substantivo) – tagarela

chiaccierone

Planejei uma viagem pela Itália, Áustria, Suíça e pelo sul da Alemanha para gastar os últimos euros que eu havia economizado durante um ano inteiro de trabalho. Em Veneza, encontrei uma amiga de longa data que havia estudado comigo no colégio e é descendente de italianos. Enquanto eu queria conversar sobre os canais da cidade, expressar meu encanto por aquele lugar tão surreal, ela não parava de me contar as fofocas do seu primeiro ano na universidade. E eis que, em um átimo de autorreflexão, ela diz:

  • – Eu sou mesmo um desastre.
  • – Bom, depende do que você quer dizer com «desastre» – respondi.
  • – Eu sou uma… chiacchierona. Eu simplesmente não calo a boca. Como é que posso dizer isso em inglês?

Uma chiacchierona é uma pessoa extremamente tagarela, alguém que fala demais, como um papagaio… Mas essa palavra tão sonora também pode se referir a pessoas que gostam de bater papo, ou de jogar conversa fora, como se diz em português. Na verdade, existe toda uma variedade de palavras relacionadas a esse ato, todas elas igualmente atraentes: chiacchiera e chiacchierata se referem ao bate-papo em si, chiacchierare seria o verbo, e por aí vai… Ao decidir levar sua chiacchiera ao próximo nível, você estará entrando no terreno malicioso da fofoca — em italiano: pettegolezzo, outra joia lexical, na minha opinião.

4. Sfizio (substantivo) – capricho

sfizio

Não costumo fazer muitas compras quando estou viajando. Inclusive acho que fazer compras no exterior pode ser uma verdadeira tortura. Quando preciso comprar alguma coisa, sempre adoto uma tática precisa, com uma disciplina praticamente militar: nada de olhar para os lados e namorar vitrines em infindáveis corredores de distração. No entanto, ao embarcar no trem que me levaria de Veneza a Ferrara, me vi sobrecarregado com as mais variadas bugigangas típicas do carnevale da cidade. A inutilidade de toda aquela parafernália se mostrava cada vez mais evidente conforme o trem seguia viagem, deixando Veneza mais distante deste viajante que, de modo geral, costuma ser tão econômico. Hoje em dia, sei que posso atribuir esse meu lapso momentâneo ao sfizio del vacanziere, uma espécie de capricho de quem está de férias.

Sfizio, que palavra interessante! É como se a língua precisasse faiscar para pronunciar a combinação das duas primeiras consoantes e atingir uma vibração com uma frequência ainda mais alta para o Z. Mas não é só dos fonemas que eu gosto. O significado da palavra também é maravilhoso.

Por mais que eu sempre tente me ver como um vero viaggiatore (verdadeiro viajante), fica difícil me convencer disso quando percebo que levo uma máscara de carnaval de plástico na mão. Isso não é nada rocambolesco. Não mesmo.

5. Struggimento (substantivo) – tristeza, desilusão

struggimento

De Ferrara, fui direto para Bolonha — com um guia na mão e esperando encontrar uma cidade estudantil fervilhante. Um dos pontos negativos dos guias de viagem é que, às vezes, eles nos fazem deixar de lado o bom senso e a curiosidade. Os universitários estavam de férias. O céu, nublado. E a cidade sediava uma conferência naqueles dias. Fui até a região hoteleira em busca de um lugar para dormir, mas, em pouco tempo, percebi que minha tarefa não seria nada fácil. Tudo parecia lotado. Telefonei para um albergue. Nenhuma vaga. Resolvi andar de hotel em hotel… Nenhuma vaga. Lotado. Tudo lotado. Pela primeira vez na vida, tive que recorrer ao escritório de turismo da cidade.

“Non sapevi che c’è una conferenza in città? Gli hotel sono tutti pieni.”

(Tradução: Você não sabia que a está acontecendo uma conferência na cidade? Os hotéis estão todos lotados.)

Que droga! Um moleque de dezoito anos de idade sem ter para onde ir… A essa altura da noite, nem os trens estavam em serviço. E foi assim que me dei conta da minha imaturidade: um struggimento pessoal decorrente do esmorecer daquela ilusão que eu tinha de independência.

Um tempo atrás, uma amiga minha italiana expressou sua frustração por não haver em inglês uma palavra que traduza exatamente a mistura inquietante de desilusão e ansiedade que struggimento denota. Ao ouvir isso, senti que não tinha entendido o conceito da palavra por completo. Minha amiga disse então que nós, ingleses, não sabemos sofrer. Afinal, estamos protegidos por nossa impassibilidade, afastados de tudo e de todos em nossa ilha de desapego emocional. Ela disse também que é provável que eu nunca venha a sofrer com tamanha intensidade — mas que talvez seja melhor assim!

6. Dondolare (verbo) – balançar, não fazer nada

dondolare

Depois do struggimento daquela noite em Bolonha, onde acabei tendo que dormir no apartamento imundo de um amigo da mulher que trabalhava no escritório de turismo, finalmente cheguei a Florença. Aprendi com meus erros e, dessa vez, reservei o albergue com antecedência. Escolhi um lugar bem bonito para compensar a tristeza do dia anterior. Ao entrar no enorme quarto coletivo, deparei com inúmeros viajantes desfrutando de uma inércia pós-almoço que os italianos chamam de abbiocco. O lugar de destaque desse quarto estava reservado para uma velha cadeira de balanço, então ocupada por um australiano sem graça que tentava impressionar a recepcionista com as poucas palavras que sabia em italiano. Ao lado dele, uma placa dizia: “Non dondolare troppo sulla sedia a dondolo, dondolone!”.

Dondolare significa balançar. E dondolone seria, portanto, alguém que, em vez de trabalhar, fica se balançando o tempo todo — ou seja, alguém preguiçoso. Essa palavra me parece tão onomatopeica! Acho que só perde mesmo para o verbo sussurrare (sussurrar)…

7. Mozzafiato (adjetivo) – de tirar o fôlego

mozzafiato

Antes de chegar a Roma, passei por Pisa e Siena, na Toscana. Consegui visitar essas cidades de forma mais do que eficiente, dividindo meu tempo e atenção entre tirar fotos, passear, ler guias e comer pizza. Em algum momento tive a sensação de já ter visto e feito o suficiente. A verdade é que, às vezes, quando nos concentramos muito naquilo que dizem os guias, nos deixamos levar por uma necessidade sem sentido de ver pessoalmente tudo aquilo que já vimos tantas vezes na televisão: os pontos turísticos mais manjados de cada lugar.

Em Roma, tentei simplesmente me perder pelos becos e avenidas da cidade. E essa falta de orientação me rendeu recompensas maravilhosas: ora uma fonte, ora uma igreja, ora um café. Os méritos dessa abordagem ficaram ainda mais evidentes após uma visita à Basílica de São Pedro. Eu ainda podia ouvir as palavras do meu pai:

«A Pietà é a escultura mais extraordinária que você verá em toda a sua vida».

Acho que isso teria sido verdade, não fosse a enxurrada de flashes de toda aquela gente ao meu redor, tentando fazer uma foto da obra. Foi então que resolvi caminhar até uma igreja menorzinha, perto do Coliseu, onde o majestoso Moisés, também de Michelangelo, estava a salvo das hordas e parecia me esperar. Tudo o que eu queria era um momento de paz, sem aquela histeria coletiva da Basílica de São Pedro. Me sinto remcompensado cada vez que me lembro de estar sozinho diante daquela criação divina do ser humano, uma verdadeira visione mozzafiato.

Mozzare significa cortar, amputar. Já fiato quer dizer respiração. Mozzafiato é, portanto, um adjetivo usado para se referir a tudo aquilo que é de tirar, ou melhor, de «cortar» o fôlego. Uma analogia bastante parecida à encontrada na palavra breathtaking, em inglês.

8. Dietrologia (substantivo) – crença em realidades ocultas e subjacentes

dietrologia

E eis que chegamos à última das minhas oito palavras favoritas em italiano, a qual, devo admitir, não aprendi durante minhas viagens pelo país. Essa palavra eu descobri apenas algumas semanas atrás, enquanto lia a magnífica biografia do ciclista italiano Marco Pantani escrita por Matt Rendall. Mais do que relatar a vida de Pantani, Rendall a insere em um retrato riquíssimo da cultura e da história italianas. Um dos elementos dessa cultura é a dietrologia, a “convicção de que dimensões ocultas subjazem à realidade que vemos na superfície”. Essa convicção, bem como a obsessão por entrar em contato com tais dimensões, é fundamental para compreender a montanha-russa que foi a vida de Pantani.

Palavras finais

Comecei a aprender italiano digamos que por uma necessidade nutricional: sempre que meu estômago roncava, sentia que algumas palavras simplesmente precisavam sair da minha boca tão inglesa. Quando o prato que pedimos chega à mesa, percebemos como é útil aprender novas palavras — é como se ganhássemos um pouquinho mais de motivação para seguir adiante. Essas pílulas de motivação são fundamentais no processo de aprendizado de uma nova língua. São elas que alimentam meu interesse por idiomas, em geral, e por italiano, em particular.

Para um falante nativo de inglês, como eu, palavras como allora e sfizio são sonoramente muito agradáveis. Mozzafiato e struggimento, por sua vez, são exemplos de vocábulos que, apesar de contarem com correlatos na minha língua materna, apresentam uma perspectiva mais profunda do que uma mera tradução pode nos revelar. Já dietrologia lança luz sobre uma visão de mundo particularmente italiana. Conforme vamos nos dando conta dessas nuances, criamos um mapa que nos permite navegar por diferentes culturas. E, para mim, é este o mapa capaz de nos levar a um destino infinitamente mais gratificante do que aquele apresentado pelos guias de viagem. É por isso que continuo a aprender idiomas.

De Roma, voltei para Milão e, depois de atravessar a fronteira rumo à Suíça, percebi que precisava lubrificar as engrenagens enferrujadas do meu francês. Mas isso é uma outra história, para uma outra hora e, quem sabe, uma outra lista de palavras favoritas.

Que tal aprender italiano?

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Ed M. Wood

Ed M. Wood é originário de Wells, a menor cidade da Inglaterra, e agora vive em Berlim. Ele estudou Psicologia na Universidade de Southampton antes de trabalhar como professor e tradutor na Espanha, na Inglaterra e na Alemanha. Ele, ainda, aventurou-se em um MA em Ciências Políticas em Bath, Berlim e Madrid. Seus interesses principais se encontram nas áreas de idiomas, cultura e viagens e são exatamente essas três coisas que o guiaram às torres de Babbel, onde ele atualmente se encontra. PT Siga-me no Twitter.

Ed M. Wood é originário de Wells, a menor cidade da Inglaterra, e agora vive em Berlim. Ele estudou Psicologia na Universidade de Southampton antes de trabalhar como professor e tradutor na Espanha, na Inglaterra e na Alemanha. Ele, ainda, aventurou-se em um MA em Ciências Políticas em Bath, Berlim e Madrid. Seus interesses principais se encontram nas áreas de idiomas, cultura e viagens e são exatamente essas três coisas que o guiaram às torres de Babbel, onde ele atualmente se encontra. PT Siga-me no Twitter.